Medida é uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Diogo Zacarias/MF/Divulgação)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 27 de novembro de 2024 às 14h08.
Última atualização em 27 de novembro de 2024 às 14h49.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve anunciar a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil no pronunciamento que fará nesta quarta-feira, 27, para explicar o pacote de corte de gastos. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo e confirmada pela EXAME.
A medida é uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a EXAME apurou, a iniciativa é defendida pela ala política do governo, mas existe resistência entre membros da equipe econômica. Caberá a Lula ser o fiador da decisão — e a Haddad, anunciá-la. A ideia é que novas medidas arrecadatórias sejam lançadas para compensar a renúncia que virá a partir da ampliação da faixa de isenção do IR.
Vista dentro do governo como uma iniciativa de grande alcance popular, a elevação da faixa de isenção do imposto de renda pode ser uma forma de atenuar o desgaste que pode ser causado pela trava que será imposta ao reajuste do salário mínimo, que entrará no pacote de corte de gastos.
Haddad fará um pronunciamento à nação, em rede de TV aberta, nesta quarta-feira, 27, às 20h30. Seu discurso terá 7 minutos e 18 segundos, de acordo com ofício da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
Às 17h30, Lula se reunirá com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para apresentar as medidas.
A expectativa é que o governo envie uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) e um projeto de lei complementar que abarcarão as medidas de ajuste fiscal. Em entrevista recente, Haddad disse haver a possibilidade de que essa PEC seja apensada a outra, como a da Desvinculação de Receitas da União (DRU), cujo prazo de vigência se encerra em 31 de dezembro deste ano e, para ser renovada, precisa de aprovação via emenda constitucional.
A principal medida de ajuste das contas públicas incluída no pacote será a trava nas regras de reajuste real do salário mínimo. Hoje, a regra funciona com o somatório do IPCA do ano anterior acrescido do crescimento do PIB do dois anos anteriores. Ou seja, para 2025, a regra vigente considera a inflação de 2024 e o crescimento de PIB de 2023. Segundo a EXAME apurou, o governo estabelecerá uma "trava" para que o reajuste real do salário mínimo seja limitado a 2,5%, assim como preconiza do arcabouço fiscal.
Essa medida, na prática, impactará nos reajustes de benefícios previdenciários, como aposentadoria, e sociais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o seguro-desemprego.
No caso do abono salarial, a proposta do governo será a limitar o pagamento do benefício para trabalhadores com renda de até 1,5 salário-mínimo. Atualmente, o abono é pago para quem trabalha com carteira assinada e recebe dois salários mínimos
A isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil é uma bandeira de campanha de Lula. Em outubro, o presidente voltou a defender a ampliação da faixa de isenção — atualmente, a isenção vai até quem recebe dois salários mínimos (R$ 2.824,00). Em uma entrevista à Rádio O Povo/CBN de Fortaleza na época, Lula afirmou nesta sexta-feira que a isenção precisava ser "compensada por ricos".
"Você não pode fazer com que as pessoas que ganham R$ 5 mil paguem imposto de renda enquanto os caras que têm ação da Petrobras recebem R$ 45 bilhões de dividendos sem pagar IR. Você não pode cobrar 25% ou 15% de um trabalhador que ganha R$ 4 mil e deixar os caras que recebem herança sem pagar. É apenas uma questão de justiça. O povo trabalhador proporcionalmente paga mais imposto do que o rico. Então o que queremos é isentar pessoas até R$ 5 mil e no futuro isentar mais. Na minha cabeça a ideia é que salário não é renda. Renda é o cara que vive de especulação, esse sim devia pagar IR", disse na ocasião.