Economia

Governo tenta evitar que julgamento da Eletrobras no TCU seja adiado

Pedido de vista pode impedir venda da estatal neste ano

Eletrobras: Pelo cronograma do governo, o TCU precisa dar aval à operação até o dia 27 (Bloomberg/Getty Images)

Eletrobras: Pelo cronograma do governo, o TCU precisa dar aval à operação até o dia 27 (Bloomberg/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 19 de abril de 2022 às 08h40.

O Tribunal de Contas da União (TCU) julga a privatização da Eletrobras nessa quarta-feira em meio a uma série de dúvidas sobre se de fato o governo irá conseguir desestatizar a empresa neste ano. Apesar de haver um cenário favorável à operação, o risco de adiamento do julgamento pode impedir a venda da empresa neste ano.

Com um processo que acabou politizado, o principal foco de disputa agora gira em torno do provável pedido de vista (mais tempo para analisar o assunto) do ministro Vital do Rêgo, levando a um novo adiamento da conclusão do processo.

Vital do Rêgo é próximo a senadores do MDB contrários à privatização e já pediu vista no primeiro julgamento do caso, iniciado no ano passado. Um novo pedido de vista dele é dado com certo por membros do TCU e do governo.

LEIA TAMBÉM:

Por isso, integrantes do Palácio do Planalto e da equipe econômica mantêm conversas com ministros do TCU como forma de evitar que o assunto seja prolongado. Uma das possibilidades é que os ministros favoráveis ao modelo de privatização votem mesmo se Vital pedir vista, de maneira a formar maioria antes de um eventual adiamento.

Outra possibilidade é limitar o pedido de análise, já que normalmente os ministros costumam usar até 60 dias nesse tipo de pedido. Esse expediente foi feito, por exemplo, na análise do leilão do 5G, quando o ministro Aroldo Cedraz teve seu pedido de vista limitado pelos colegas do plenário.

A venda da maior empresa de energia da América Latina também entrou na disputa eleitoral. Lideranças do PT já sinalizaram que, num eventual governo Lula, a operação seria revogada.

Nos bastidores do governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, critica a pressão do PT junto ao TCU e fala de interferência política na corte caso o o processo não seja julgado no tempo necessário para fazer a operação.

Em cerimônia no Palácio do Planalto na semana passada, Guedes subiu o tom ao afirmar que nenhum candidato pode ligar para os ministros do TCU para tentar paralisar a capitalização da Eletrobras.

Prazo apertado para privatização

A privatização da Eletrobras é uma corrida contra o tempo. Pelo cronograma do governo, o TCU precisa dar aval à operação até o dia 27. É um tempo necessário para que o BNDES faça todo o trâmite e consiga realizar a capitalização na B3 e na Bolsa de Nova York até o dia 13 de maio.

Caso passe do dia 13 de maio, uma sexta-feira, o governo só consegue fazer a operação em agosto. Isso ocorre por conta dos prazos estabelecidos pela SEC, que regula o mercado de ações dos Estados Unidos, onde a Eletrobras tem papeis negociados.

Agosto é um prazo delicado por conta da proximidade das eleições. Além disso, os fundos internacionais costumam concentrar aportes em grandes capitalizações no primeiro semestre.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, comemorou o agendamento da reunião e chamou atenção para as datas.

No TCU, o processo é relatado pelo ministro Aroldo Cedraz. Apesar de recomendar mudanças pontuais, ele deve dar aval à operação.

O TCU já analisou e aprovou a primeira parte do processo de privatização, que avaliou o preço das outorgas que serão pagas pela Eletrobras privada ao governo federal. Agora, o TCU se debruça sobre a privatização em si, especialmente o preço mínimo das ações.

A área técnica chegou a sugerir mudanças nessa precificação, mas nada que preocupa o governo, que acredita que isso será definido pelo mercado.

Também está em análise a cisão da Eletronuclear (que cuida das usinas nucleares de Angra) e de Itaipu — ambas não podem ser privatizadas.

O modelo da privatização prevê transformar a companhia em uma corporação, sem controlador definido, após uma oferta de ações que não será acompanhada pela União. Sem acompanhar a capitalização, o governo tem sua participação diluída para menos de 50% e perde o controle das empresas.

No total, o governo calculou em R$ 67 bilhões os valores relacionados à privatização, mas nem tudo vai para os cofres públicos. Desse valor, R$ 25,3 bilhões serão pagos pela Eletrobras privada ao Tesouro neste ano pelas outorgas das usinas hidrelétricas que terão os seus contratos alterados.

Serão ainda destinados ainda R$ 32 bilhões para aliviar as contas de luz a partir deste ano por meio do fundo do setor elétrico, a Conta de Desenvolvimento Energética (CDE). O restante vai para a revitalização de bacias hidrográficas do Rio São Francisco, de rios de Minas Gerais e de Goiás, e para a geração de energia na Amazônia.

Acompanhe tudo sobre:EletrobrasGoverno BolsonaroPrivatizaçãoTCU

Mais de Economia

Governo deve enviar PEC do corte de gastos ao Congresso, mas ainda discute Previdência dos militares

Itamaraty diz que política econômica de Milei reduziu exportações no Mercosul

PIB do 3º trimestre deve vir forte apesar de desaceleração; veja o que esperar

Randolfe prevê aprovação do pacote fiscal em duas semanas