BR do Mar: governo prepara decreto para regulamentar cabotagem com foco em embarcações sustentáveis
Agência de notícias
Publicado em 24 de março de 2025 às 09h26.
Última atualização em 24 de março de 2025 às 09h31.
O governo federal pretende publicar nos próximos dias um decreto sobre a "BR do Mar", programa desenhado para ampliar o transporte de cargas marítimas ao longo da costa, conhecido como cabotagem. O dispositivo legal vai prever incentivos à contratação de “embarcações verdes”, com critérios de sustentabilidade para o setor, que é predominado pelo transporte de petróleo em plataformas marítimas.
Em 2022, durante o governo Jair Bolsonaro, foi sancionada a lei que instituiu o programa de incentivo à cabotagem no Brasil. Entre outros pontos, a medida flexibilizou o afretamento de embarcações estrangeiras para serem usadas no transporte de cargas na cabotagem brasileira e ampliar as frotas no país.
O texto da lei definiu que algumas modalidades de contratação deveriam ser regularizadas por meio de decreto. Elaborado pelo Ministério de Portos e Aeroportos, a redação do documento já foi concluída e aguarda apenas a assinatura de Lula.
A pedido do ministro Silvio Costa Filho, o texto deve trazer critérios de sustentabilidade com incentivos à contratação de “embarcações verdes”.
"Por exemplo, para uma embarcação petroleira, que normalmente é contratada a longo prazo, terá de respeitar regras de sustentabilidade", explica o secretário de Hidrovias e Navegação, Dino Antunes.
"A embarcação tem que ser sustentável porque o cara vai trazer uma embarcação que vai ficar um tempão aqui, então criamos dispositivos para que isso aconteça", acrescenta o secretário.
Segundo ele, as definições do que será uma “embarcação verde” ainda serão estabelecidas por meio de uma portaria do governo, que será publicada após o decreto de regularização do setor.
"Vamos fazer uma consulta pública, e colocar o que achamos que é esta definição, e a partir disso teremos um diálogo com o mercado e agentes do setor para entender a melhor forma de fazer."
Segundo dados da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac), o transporte marítimo de cargas entre portos nacionais cresceu 20% entre 2023 e 2024, chegando a 1,55 milhão de contêineres movimentados no ano passado. A atividade petroleira é essencial para o setor, sendo responsável por 58% do total de toneladas movimentadas pela cabotagem no ano passado.
Entidades do setor, como a Abac, acompanham a elaboração do decreto com atenção especial às regras de sustentabilidade. A associação manifesta preocupação com critérios “restritivos” que podem ser impostos pela definição do que será uma embarcação verde.
"Entendemos que há compromissos que o Brasil deve atender e se forem impostas regras restritivas à cabotagem com o uso de navios verdes sem cuidar do equilíbrio da matriz de transportes, arriscamos estar fazendo com que a opção fique no modal mais poluente", escreveu a associação em nota.
O decreto trará dispositivos para permitir que navios de bandeira estrangeira possam operar na cabotagem por um prazo mais longo. Como na regra vigente, essas embarcações devem operar com tripulação brasileira. A Abac defende que as empresas que já operam na cabotagem sejam privilegiadas nesse processo de regulamentação.
"Importante neste decreto deverá ser que somente empresas previamente autorizadas a operar na cabotagem, com embarcações adequadas, sejam as que possam ter estes navios operando na bandeira estrangeira na cabotagem", afirma a associação.