Loja fechada nos Estados Unidos (Spencer Platt/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 3 de agosto de 2020 às 17h06.
Última atualização em 3 de agosto de 2020 às 18h53.
O dólar está enviando um sinal de alerta para as autoridades de política monetária nos Estados Unidos: é preciso controlar o vírus.
Depois de subir para um recorde em março, um indicador do dólar acumula desvalorização de 10%, com perdas aceleradas nas últimas semanas em meio ao avanço aparentemente sem controle do coronavírus no país.
Grande parte da onda vendedora tem ocorrido durante o horário de negociação em Nova York, sugerindo que investidores domésticos estão revertendo apostas sobre a força dos Estados Unidos, o que leva a novos questionamentos sobre a supremacia do dólar.
É uma rápida virada. No início da pandemia, o dólar foi impulsionado pela demanda de investidores pela segurança de ativos dos Estados Unidos, como os títulos do Tesouro, enquanto o vírus abalava a Europa. Mas agora os casos disparam no país e a resposta ineficaz do governo à doença tornou-se um obstáculo para a moeda. Existe a preocupação com danos duradouros à economia dos Estados Unidos, o que poderia manter as taxas de juro e o crescimento baixos por anos.
“O que as pessoas mais desesperadamente esperam é uma boa notícia sobre o controle de vírus, que acho é o mais importante”, disse Stephen Jen, diretor-presidente da Eurizon SLJ Capital. “A aposta nas moedas é principalmente uma aposta no controle relativo do vírus, não refletindo a força fundamental das economias em questão.”
O combate à pandemia pelo governo americano — que contrasta com o avanço da zona do euro para conter as infecções — é atualmente o principal fator de influência sobre o dólar, ditando estímulos mais convencionais da moeda, como crescimento relativo ou política monetária.
As perdas do dólar frequentemente aumentam durante a sessão nos Estados Unidos, sugerindo que investidores passem a vender a moeda depois da divulgação dos números mais recentes sobre o vírus. Atualmente, especuladores têm o maior número de posições vendidas desde maio de 2018, depois de apostarem na valorização do dólar em quase todo o ano passado.
A zona do euro apenas superou os Estados Unidos em oito anos desde 1992, de acordo com dados do FMI, mas está no caminho para repetir o feito em 2020.
O PIB americano registrou a maior queda trimestral desde pelo menos a década de 1940 nos três meses até junho, segundo comunicado divulgado na quinta-feira. Embora a economia da zona do euro também tenha sido impactada, o PIB encolheu para o menor nível desde 2005, dados recentes mostram sinais de recuperação com a flexibilização dos bloqueios na região e os governos — por enquanto — têm conseguido manter as novas infecções sob controle.
(Com a colaboração de Alyce Andres e Anchalee Worrachate)