Economia

Copom deve elevar Selic pela primeira vez em seis anos nesta quarta-feira

Maioria das apostas do mercado está em um aumento de 0,5 ponto percentual, para 2,5% ao ano, de acordo com o último boletim Focus

Edifício-Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (./Exame)

Edifício-Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (./Exame)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 17 de março de 2021 às 06h00.

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Em um cenário de pressão inflacionária e economia estagnada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar nesta quarta-feira, 17, o primeiro aumento na taxa básica de juros em seis anos. A expectativa do mercado é que a Selic saia dos atuais 2% ao ano para algo entre 2,25% a 2,75%, o início de uma trajetória de alta que deve se estender até o fim do ano.

A maioria das apostas do mercado está em um aumento de 0,5 ponto percentual, para 2,5% ao ano, de acordo com o último boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, 15, pelo BC. Mas cresce a pressão por uma “alta mais curta e mais forte”, diz o economista Pablo Spyer, diretor de operações da EQI. “Há um entendimento cada vez maior entre investidores profissionais de que o Copom deveria subir mais os juros e de maneira mais rápida”, afirma.

O aumento na taxa de juros é um movimento esperado, diante dos dados de inflação no país. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) ficou em 0,86% em fevereiro, puxado pelo aumento nos preços dos combustíveis. É a maior alta para o mês desde 2016, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento acumulado em 12 meses chega a 5,20%.

Com os sinais observados nos últimos levantamentos, o mercado financeiro subiu a estimativa de inflação para 2021 pela décima semana seguida no último boletim Focus. A projeção para o IPCA passou de alta de 3,98% para 4,60% -- acima, portanto, da meta central do BC, de 3,75%.

“Um aumento mais expressivo na taxa de juros poderia arrefecer a inflação, esfriar um pouco a economia. A inflação está muito aquecida aqui no Brasil. O dólar está alto, o preço das commodities também e o petróleo voltou a subir, está perto dos 70 dólares de novo”, apontou Spyer.

A última vez que a Selic subiu foi em julho de 2015, por motivos parecidos: também para conter um choque de preços administrados no curto prazo, lembra Arthur Mota, economista da EXAME Invest Pro. À época, a taxa saiu de 13,75% para 14,25%, índice mantido até agosto de 2016, quando começou uma sequência de quedas. Agora, novamente, a expectativa com o aumento da taxa de juros é conter a pressão inflacionária.

O mercado também está atento ao comunicado do Copom. A expectativa é de endurecimento do tom com a trajetória de inflação, diz Mota. "O mais importante é o discurso. A gente acredita que tem que adotar um discurso mais 'hawkish', mais preocupado com a dinâmica de inflação", afirma o economista. No comunicado, o Copom deve caracterizar onde estão os riscos e tentar sinalizar que vai buscar a meta de 2022.

“O BC começa a reajustar o plano de voo principalmente para não desancorar as expectativas para o ano que vem”, afirma Mota. Segundo ele, mudanças ao longo deste ano vão impactar cada vez menos 2021 e cada vez mais 2022. "E lá a gente está com inflação basicamente em cima da meta, correndo risco de também desancorar levemente essa meta para o ano que vem. Por isso, esse ciclo de aumento de juros começa agora", explica.

Um dos efeitos esperados com o aumento da Selic é a contenção da depreciação do real. Uma alta de pelo menos 0,5 p.p. pelo Copom sinaliza para o fortalecimento da moeda, desconsiderados eventos externos, como o fortalecimento do dólar global. Com a taxa de juros mais alta, a tendência é de mais entrada de dólares no Brasil. O dólar já subiu 7% frente ao real em 2021. A moeda norte-americana fechou esta terça-feira cotada a 5,62 reais.

De acordo com o boletim Focus mais recente, a estimativa é de que a Selic fique em 4,5% no final de 2021 e atinja 5% em 2022. O atual patamar, de 2%, é o menor desde o início da série histórica do BC, em 1986. A Selic é referência para as demais taxas da economia, além de ser usada em negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional.


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