Economia

Consumo na Argentina fecha bimestre em alta pela primeira vez no governo Milei

Números de janeiro melhoraram em relação a dezembro, tendência que continuou em fevereiro. Setores de automóveis, recreação e cultura, habitação e vestuário foram influências positivas

Argentina: país enfrenta graves problemas econômicos, como inflação e aumento da pobreza ( JUAN MABROMATA/AFP)

Argentina: país enfrenta graves problemas econômicos, como inflação e aumento da pobreza ( JUAN MABROMATA/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 21 de março de 2025 às 20h17.

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Um dos indicadores mais sensíveis na vida cotidiana das famílias é o poder de compra. Na linguagem econômica, isso equivale ao índice de consumo, que foi fortemente impactado na Argentina em 2024, após ajustes na macroeconomia. No entanto, a tendência começou a mudar, de acordo com o levantamento da Câmara Argentina de Comércio (CAC), que mostrou que o primeiro bimestre do ano terminou com números positivos, algo até agora inédito no mandato de Javier Milei.

O Índice de Consumo da CAC registrou um aumento interanual de 3,1% no acumulado do primeiro bimestre de 2025. Essa comparação não surpreende muito, já que o ponto de referência do ano passado foi baixo. No entanto, o fato novo é que foram registrados dois meses consecutivos de crescimento.

Os dados da Câmara de Comércio contrastam com outras medições que indicam que a recuperação ainda está demorando. A mais relevante é a medição feita pela consultoria Scentia – tradicionalmente a mais utilizada por supermercados e empresas de alimentos –, que informou há alguns dias que, em fevereiro, as vendas de produtos da cesta básica caíram 9,8%, acumulando 14 meses consecutivos de números negativos.

Em Recuperação

Segundo a CAC, fevereiro terminou com um incremento de 0,3% em relação a janeiro, que também havia mostrado um progresso contra o mês imediatamente anterior de 4,3%. Os números positivos também se repetiram nas comparações com igual período do ano passado (5,4% em janeiro e 2,9% em fevereiro).

Em resumo, a curva do consumo mostrou dois meses consecutivos de alta em todas as suas medições, algo que não acontecia desde o início da gestão de Milei. Dezembro apresentou uma melhora em relação a 2023, mas ainda com números negativos quando comparado com esse mesmo ano, em que “o consumo esteve ‘inflado’”, segundo a definição da CAC.

“A queda no consumo massivo, que começou em 2024, mostra sinais de ter cessado em 2025”, apontou a entidade empresarial vinculada ao setor comercial. Essa projeção se baseia na expectativa de uma inflação em queda, que estaria prestes a romper o piso de 2% ao mês. Segundo o IPC do Indec referente a fevereiro, o indicador registrou uma “leve aceleração” e subiu para 2,4%, frente aos 2,2% de janeiro. A análise dos produtos de consumo massivo realizada pela CAC atribuiu essa aceleração, entre outros fatores, ao “considerável aumento do preço da carne”.

“A renda disponível das famílias segue uma trajetória ascendente, acima dos níveis da inflação, o que deveria impulsionar positivamente o consumo nos próximos meses”, indicou a CAC.

Os bons resultados também se refletem na análise desagregada por setor. No acumulado do ano, “Transporte”, “Recreação e cultura”, “Habitação, aluguel e serviços públicos” e “Vestuário” apresentaram aumentos na comparação com igual período do ano passado de 6,3%, 5,4%, 2,1% e 1,5%, respectivamente.

Esses dados revelam o que os consumidores compraram. Sob outra perspectiva, surge a pergunta: como foram feitas essas compras? “A dívida em cartões de crédito, assim como os empréstimos pessoais e financiamentos de veículos, superaram os níveis de fevereiro de 2023, o que permitiu o consumo de eletrodomésticos e automóveis”, indicou o comunicado da CAC. Nesse sentido, o registro de novos automóveis aumentou 68% em fevereiro em relação ao ano anterior, enquanto a venda de eletrodomésticos cresceu 54% em dezembro.

Além disso, “depois de atingir seu ponto mais baixo em abril de 2024”, o crédito em termos reais continuou seu processo de recuperação, embora ainda esteja longe de seus máximos históricos, segundo os dados da entidade. Nesse contexto, o comunicado destacou a evolução dos empréstimos hipotecários, que começaram a aumentar a partir de abril do ano passado e, em fevereiro, as escrituras atingiram o nível mais alto desde o mesmo mês de 2018.

Com isso, a CAC considera que há uma mudança na estrutura do consumo, voltada mais para bens duráveis “facilitados pelo crédito” do que para bens de consumo diário. Esse último setor continua sua recuperação, mas espera-se que isso aconteça de maneira mais lenta por causa de uma “renda disponível que deve melhorar de forma limitada ao longo deste ano”.

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