Economia

Como a morte dos shoppings vai mudar a cara dos Estados Unidos

Se eu entro em uma loja para escolher e experimentar uma roupa, mas compro no celular para evitar pegar uma fila, a compra foi física ou online?

Shopping center americano abandonado (Seph Lawless/Divulgação)

Shopping center americano abandonado (Seph Lawless/Divulgação)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 26 de junho de 2017 às 13h29.

Última atualização em 26 de junho de 2017 às 17h17.

 

São Paulo – O Credit Suisse chamou a atenção recentemente ao prever que 20% a 25% dos grandes shoppings centers fechados dos Estados Unidos devem encerrar operações no espaço de 5 anos.

Isso significaria o fim de 240 a 300 dos cerca de 1.200 shoppings existentes hoje no país. Os números são do CoStar Group, fornecidos pelo Conselho Internacional de Shopping Centers.

Um podcast do início de junho com analistas do banco americano Goldman Sachs debateu o que está mudando no cenário de varejo e como isso deve mudar o cenário urbano norte-americano.

Para Kathy Elsesser, co-diretora de varejo e consumo global da banca de investimentos, “os melhores shoppings continuam a ter uma boa performance, e os que não estão tão bem vão evoluir”.

Mas de forma geral, veremos alugueis em queda e “de-gentrificação, por falta de um termo melhor”.

Em outras palavras: acabou a época em que lojas menores e locais eram empurradas para fora dos shoppings e de áreas nobres por não conseguirem competir em preço com as grandes redes nacionais e internacionais.

Gentrificação é o processo urbano em que áreas antes populares são "revitalizadas" com novos negócios e infraestrutura, gerando especulação imobiliária e fuga dos antigos moradores.

A reversão deste processo em certas áreas favoreceria a volta de negócios de posse e controle local, que não são franquias e guardam maior relação com a comunidade.

Comércio eletrônico

Assim como o Credit Suisse, as analistas do Goldman apontam o comércio eletrônico e a mudança nos modelos de consumo como os grandes catalisadores da mudança.

Hoje, apenas 9% do varejo global é eletrônico: algo como US$ 2 trilhões em um mercado total de US$ 23 trilhões.

Em setores como comida, a parcela do comércio eletrônico fica entre 7% e 8%, enquanto em outras como livros e brinquedos, chega a 50%.

Há um abismo entre os ritmos de crescimento: 1% a 2% por ano em lojas físicas contra 14% a 15% no online, com impressionantes 30% de crescimento anual no comércio via celular (mobile).

Nada surpreendente se considerarmos que 91% dos americanos têm o seu smartphone ao alcance das mãos 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Sem fronteiras

A própria divisão entre real e virtual é cada vez mais porosa. Se eu entro em uma loja para escolher e experimento uma roupa, mas compro no celular para evitar pegar uma fila, a compra foi ou não online?

Grandes marcas virtuais também têm investido na abertura de lojas físicas e a Amazon acaba de comprar a rede de alimentos saudáveis Whole Foods por US$ 13,7 bilhões.

O sucesso no varejo será fruto de um bom casamento entre as duas dimensões: "o paradigma não é uma coisa ou a outra", diz Kim Posnett, diretora global de internet na banca de investimentos do Goldman.

Há uma mudança mais ampla em como as pessoas gastam. Dinheiro e disposição não faltam: a renda disponível e a confiança do consumidor americano subiram de forma consistente desde a crise financeira.

Mas há um foco no acesso, ao invés da posse, e na experiência como um todo ao invés do produto isoladamente.

“As pessoas estão gastando em viagens, restaurantes, mídia, entretenimento e acomodação ao invés de acessórios, vestuário e bens de consumo pessoais, como no passado. Para os shoppings, isso significa mais cinemas, restaurantes e oportunidades baseadas em experiências”, diz Kathy.

 

 

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