Petrobras: com volatilidade internacional do petróleo, embates com o governo devem continuar (MAURO PIMENTEL/AFP/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 17 de junho de 2022 às 18h56.
Última atualização em 17 de junho de 2022 às 19h24.
A alta de gasolina e diesel nas refinarias da Petrobras, anunciada nesta sexta-feira, 17, não encerra em definitivo a discussão sobre os preços da estatal.
Os aumentos, embora tenham gerado fortes embates entre o governo e a estatal, não são suficientes para repor por completo a defasagem com os preços internacionais.
A gasolina foi aumentada em 5,2% a partir de sábado, 18. O diesel subirá 14,2%.
Mas na abertura de mercado desta sexta-feira a defasagem média da gasolina era de 14%, segundo cálculos diários da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). A defasagem do diesel era de 21%.
Ao aumentar o preço do diesel pela última vez, em 10 de maio, a Petrobras também havia alterado os valores sem cobrir totalmente a paridade internacional.
Nos dias anteriores à alta, a defasagem chegava perto ou superava 20% na maioria dos pregões. A Petrobras terminou tendo aumento de somente 9% (veja abaixo).
O diesel tem sido especialmente um problema neste ano pois os preços estão subindo muito rapidamente no mercado internacional, ainda mais do que os da gasolina.
E embora o Brasil produza nas refinarias nacionais (a maioria da Petrobras) cerca de 80% dos derivados que consome, no caso do diesel, as refinarias internas produzem somente 70%.
A Petrobras alertou nesta semana o governo de que a defasagem nos preços pode fazer faltar combustível no segundo semestre.
Já a gasolina havia passado quase 100 dias sem reajuste até o aumento nesta sexta-feira, o maior intervalo sem altas em mais de dois anos. O último havia sido em 11 de março.
No aumento de março, os combustíveis foram reajustados mais em linha com as defasagens: alta de 19% para a gasolina (frente à defasagem de 20% no dia anterior) e 25% para o diesel (cobrindo defasagem de 24% antes).
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Desde então, a cada semana, as altas na inflação e no custo de vida têm pressionado a Petrobras a segurar mais os reajustes em meio ao embate com o governo.
As duas últimas altas de preços (em março e em maio) levaram, cada uma, a demissões de Bolsonaro na Petrobras.
O general Joaquim Silva e Luna foi demitido por Bolsonaro no fim de março, desgastado pela alta naquele mês. Depois, o atual presidente José Mauro Coelho foi indicado e demitido por Bolsonaro em um intervalo de pouco mais de um mês, após subir o preço do diesel em maio.
A próxima cartada do governo é mudar novamente a direção da Petrobras e tentar alterar, na prática, os moldes da política de paridade de importação (PPI), adotada no governo Michel Temer em 2016 e mantida por Bolsonaro ao assumir.
Para o lugar de Ferreira Coelho, Bolsonaro indicou como novo presidente da estatal Caio Mario Paes de Andrade, que é da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. A troca ainda aguarda um rito no conselho de administração.
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O governo tem pressionado nos últimos dias o conselho da Petrobras, que se reuniu extraordinariamente na quinta-feira, 16, a efetuar a troca na diretoria. A forma mais rápida de trocar o comando seria se Coelho renunciasse.
Nesta sexta-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi a público pedir que Coelho renuncie. "O presidente da Petrobras tem que renunciar imediatamente. Não por vontade pessoal minha, mas porque não representa o acionista majoritário da empresa - o Brasil", escreveu no Twitter.
Enquanto isso, na tentativa de reduzir os preços dos combustíveis, que têm afetado a popularidade do governo, Lira e o Planalto também encabeçaram no Congresso um teto de 17% na alíquota do ICMS dos combustíveis (que hoje chega a 30% para a gasolina em alguns estados). O texto foi aprovado nesta semana.
A expectativa de Bolsonaro com o teto do ICMS era reduzir cerca de R$ 1 o preço por litro do diesel e R$ 2 o preço da gasolina.
Governadores e a oposição argumentaram durante a tramitação que o teto do ICMS poderia afetar a prestação de serviços (devido ao custo estimado pelos estados de R$ 115 bilhões para o subsídio), ao mesmo tempo em que teria pouco impacto nos combustíveis por eventuais aumentos - como os dessa sexta-feira.
"Enfatizamos diversas vezes que no primeiro reajuste da Petrobras o eventual impacto dos tributos sobre o preço iria para o ralo, levando consigo os gastos de educação e saúde dos estados. Ou seja, a população ficaria duplamente contrariada", disse nesta sexta-feira o líder da minoria no Senado, senador Jean Paul Prates (PT-RN).
Tudo somado, a falta de visibilidade sobre o futuro da Petrobras e a paridade de preços fez as ações passarem o dia em queda nesta sexta-feira.
"Entendemos que a medida foi desenvolvida por lideranças que estão de saída da companhia, o que impede a dissolução das assimetrias referentes ao tema para os próximos meses", afirmaram analistas da Ativa em nota.
No fim do pregão (que terminou mais cedo hoje devido ao feriado), as ações da Petrobras caíram mais de 6%.
(Com Guilherme Guilherme)