Economia

Cautela do BC impede aposta em corte maior da Selic

A nove dias do Copom, a combinação entre a deflação e uma atividade ainda fraca até leva alguns analistas a verem espaço para corte maior

BC: “O BC tem muito espaço para cortar os juros sem risco inflacionário” (Ueslei Marcelino/Reuters)

BC: “O BC tem muito espaço para cortar os juros sem risco inflacionário” (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2017 às 16h16.

São Paulo - O discurso de cautela do Banco Central limita as apostas em corte da taxa Selic ao intervalo de 0,75 pp a 1 pp, impedindo o retorno ao otimismo mais aberto com a política monetária visto antes da crise causada pela delação da JBS.

A nove dias do Copom, a combinação entre a inflação em terreno negativo e uma atividade ainda fraca até leva alguns analistas a verem espaço para corte maior, de 1,25 pp, mas as apostas mais comedidas prevalecem.

“O BC tem muito espaço para cortar os juros sem risco inflacionário”, diz Patrícia Pereira, gestora de renda fixa da Mongeral Aegon do Brasil. Ela lembra que, no comunicado do Copom anterior, o BC foi bastante cauteloso, ao enfatizar as incertezas com as reformas e sinalizar corte moderado da Selic.

De lá para cá, a autoridade moderou seu discurso, ponderando que a Previdência não é a única reforma relevante, só que ainda assim parte da mensagem comedida continuou reverberando no mercado, diz Patrícia, que espera redução de 1 pp da Selic no Copom de 26 de julho.

O próprio Banco Central apontou que a deflação de junho pode ser transitória, por ter sido influenciada por quedas de alimentos e energia, que podem não se repetir.

Entretanto, os índices de julho já mostram uma continuidade da queda de preços. Ou seja, os índices efetivos de inflação têm sido menores do que o BC estima e, em julho, esta tendência tende a se repetir, diz a gestora da Mongeral.

Apesar da evolução benéfica dos indicadores econômicos, as últimas comunicações do BC não mudam a ideia de que a chance é de redução moderada do ritmo, diz Matheus Gallina, trader de renda fixa da Quantitas Gestão de Recursos.

Para Gallina, um corte de 1,25 pp pegaria o mercado de surpresa, apesar das condições favoráveis, e o mais condizente com a mensagem do BC seria manter o ritmo de -1 pp.

Além do discurso sempre cauteloso do BC sobre a inflação, alguns analistas também citam a questão da comunicação, que sempre foi enfatizada pela atual equipe comandada por Ilan Goldfajn como fundamental para as expectativas.

Assim, uma decisão fora do que está sendo precificado hoje seria vista como incongruente com a mensagem da política monetária.

Ainda assim, há no mercado quem veja espaço para o BC pisar mais fundo no acelerador e cortar mais, em 1,25 pp. É o caso de Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, para quem a postura cautelosa do BC aponta para uma redução de 1 pp, mas um corte maior seria uma decisão correta tecnicamente em um ambiente de dados de inflação benignos, taxa de câmbio bem comportada e cenário de atividade econômica bem delimitado.

Ao contrário de outros analistas, porém, Oliveira considera um corte de 0,75 pp mais improvável do que 1,25 pp. “Se cortasse 0,75 pp, mercado veria excesso de cautela em um cenário que nada justifica isso”, diz o economista, que vê ainda bastante espaço para redução da Selic, com o final do ciclo de desaperto encerrado em 7%.

Gráfico da Bloomberg "Inflação abaixo das expectativas"

- (Gráfico)

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