Economia

Baixo crescimento econômico ameaça classe média, diz análise

Em comunicado, o presidente-executivo do CAF afirmou que sem crescimento padrão de aproximadamente 5% anuais, parte da classe média voltará a pobreza


	Classe média: "A classe média é bastante vulnerável. Basta um crescimento menor que 2% durante dois ou três anos para que a capacidade de gerar emprego seja afetada"
 (Mario Tama/Getty Images)

Classe média: "A classe média é bastante vulnerável. Basta um crescimento menor que 2% durante dois ou três anos para que a capacidade de gerar emprego seja afetada" (Mario Tama/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 2 de setembro de 2015 às 14h40.

Miami - O Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) alertou nesta quarta-feira que o arrefecimento do crescimento econômico na região "ameaça a estabilidade da nova classe média" latino-americana.

Em comunicado divulgado hoje em Miami, o presidente-executivo do CAF, Enrique García, afirmou que "se não for alcançado um padrão de crescimento de aproximadamente 5% anuais, muita gente que acredita ser parte da classe média vai voltar a cair na pobreza".

"A classe média é bastante vulnerável. Basta um crescimento menor que 2% durante dois ou três anos para que a capacidade de gerar emprego seja afetada", explicou o representante da CAF, entidade com ativos que superam US$ 30 bilhões e que conta com a participação de 17 países latino-americanos, além de Espanha e Portugal.

Segundo números do Banco Mundial (BM), mais de 70 milhões de latino-americanos saíram da pobreza e 50 milhões passaram a fazer parte da classe média entre 2003 e 2011.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a economia regional crescerá 0,5% neste ano e 1,7% em 2016, impactada por um "esfriamento" da economia chinesa que "afetou o contexto global".

Em meio a esse novo contexto, o presidente-executivo da CAF, Enrique García, afirmou que para proteger as classes médias, além de "um crescimento mais robusto", será preciso "iniciar uma transformação produtiva".

"O tema é como compartilhar o crescimento estável, torná-lo mais equitativo, porque a nossa ainda é uma das regiões com maior desigualdade do mundo. Isto deve ser vinculado ao tema produtivo. Aí entram temas centrais como um sistema educacional inclusivo, avanços em infraestrutura e uma diversificação da economia que gere mais e melhores empregos", concluiu García.

A conclusão do presidente-executivo da CAF coincide com a análise da maioria dos especialistas da região, que consideram que a mudança ocorrida nos "ventos globais" nas últimas semanas e o "consequente arrefecimento da economia regional" ameaçam a estabilidade da classe média na América Latina.

"E o menor crescimento econômico ameaça reverter os avanços da classe média, fundamental por seu impacto sobre o consumo e também um pilar da estabilidade política e social", diz o CAF no comunicado divulgado nesta quarta-feira.

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que considera como classe média as pessoas com renda entre US$ 10 e US$ 50 ao dia, ao redor de 216 milhões de latino-americanos seguem sendo vulneráveis apesar dos avanços econômicos dos últimos anos.

"O maior risco é que estas pessoas voltem à situação de pobreza. O emprego que foi gerado nos anos de bonança foi precário. Cerca de metade dessas pessoas não têm cobertura de seguridade social e estão na informalidade", afirma Eduardo Ortiz, pesquisador do Pnud.

A mudança no contexto global e suas consequências para a região e sua classe média será um dos temas abordados por especialistas de todo o mundo durante a Conferência Anual do CAF, organizada junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) e ao Diálogo Interamericano em Washington nos dias 9 e 10 de setembro.

Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano, alertou especialmente sobre o impacto da "agudização da desaceleração econômica na China", o principal comprador das matérias-primas consumidas pela região.

"Brasil, Argentina e Venezuela estão crescendo menos que há dois ou três anos. Se isso for somado com o México, que cresce lentamente, já tem quase 70% da população latino-americana em apuros", afirma Hakim.

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