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Até hoje, nenhum dirigente respondeu na Justiça pela crise de 2008 nos EUA

Dos 156 processos penais e civis abertos após a crise contra dez dos maiores bancos de Wall Street, apenas em 19% foram identificados responsáveis

Crise financeira: depois de bilhões de dólares em multas a bancos, ninguém foi julgado ou preso por conta da crise financeira que deixou 10 milhões de desempregos nos EUA (Germano Lüders/EXAME.com/Exame)
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AFP

Publicado em 14 de setembro de 2018 às 11h43.

Última atualização em 14 de setembro de 2018 às 18h25.

Phil Angelides aponta o dedo para muitos dos homens mais poderosos do mundo. Ele enumera executivos que fizeram a economia global entrar em colapso, deixaram milhões de pessoas desesperadas e geraram traumas que ainda pesam sobre a política dos Estados Unidos .

A ira dele é voltada ao ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, ao principal diretor do Citigroup, a executivos da centenária firma de investimentos Merril Lynch e aos da gigante mundial de seguros AIG.

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Todos eles, segundo uma comissão que investigou a fundo a crise de 2008, presidida por Angelides, deveriam ter sido investigados. Há provas que sugerem que eles enganaram investidores ao expô-los aos investimentos tóxicos centrais para o desastre de Wall Street.

"Ninguém que teve essa conduta, que tolerou essa conduta, que supervisionou essa conduta foi processado penal ou civelmente", disse Angelides à AFP.

Depois de dez anos e de bilhões de dólares em multas a bancos, ninguém foi julgado ou preso.

Foi como se os bancos "tivessem feito infrações em massa, mas sem que aparentemente nenhum banqueiro estivesse envolvido", disse. "Acho que não há dúvidas de que a falta de responsabilidade pela crise financeira corroeu a política do país", afirmou.

Um relatório de 2016 do jornal The Wall Street Journal apontou que de 156 processos penais e civis abertos após a crise contra dez dos maiores bancos de Wall Street, apenas em 19% foram identificados responsáveis. Entre eles, apenas 47 eram membros da diretoria.

Os investigadores identificaram o ex-secretário do Tesouro Robert Rubin, que serviu no conselho do Citigroup por 10 anos, assumindo brevemente a presidência em exercício. Mas um representante de Rubin disse à AFP que ninguém do Departamento de Justiça lhe contactou.

"Rubin se comportou apropriadamente sempre. Qualquer sugestão que indique o contrário é falsa", afirmou.

Os ex-executivos de alto escalão da AIG Martin Sullivan e Steven Bensinger, assim como os do Merrill Lynch, Stanley O'Neal e Jeffrey Edwards, não responderam a pedidos de comentários.

Angelides disse que foram encontradas "evidências claras" sobre funcionários identificados em milhões de páginas de documentos e centenas de entrevistas. Mas a comissão não tomou posição se realmente essas pessoas eram culpadas.

"O Departamento de Justiça investigou e os considerou responsáveis de fraude financeira", disse um porta-voz em declaração.

Pesquisadores dizem que o desastre de 2008, o resgate de entidades e a falta de julgamentos de responsáveis deixaram uma marca na população - reduzindo a confiança no governo e deixando eleitores polarizados e furiosos.

Washington mobilizou bilhões de dólares para salvar cada setor que provocou a crise. Mas, fora de Wall Street, o resto dos Estados Unidos sofreram penúrias dramáticas.

O índice de suicídios disparou conforme devedores perdiam suas casas em todo o país. Cerca de 10 milhões de americanos ficaram sem trabalho.

Nas recentes campanhas eleitorais, candidatos de todos os espectros se acusavam de vínculos com bancos de investimento, especialmente o Goldman Sachs.

Frequentemente com linguagem racista e xenófoba, o presidente Donald Trump capitalizou eleitoralmente essa fúria na campanha de 2016 com promessas de afastar do poder elites do Partido Democrata e recuperar os empregos.

"A opinião pública americana simplesmente não confia absolutamente na classe dirigente", disse Chris Jackson, da Ipsos.

EUA precisam de líder forte?

Dois terços dos americanos pensam que é preciso um "líder forte" para "tirar o país dos ricos e poderosos", disse Jackson.

Paul Pelletier, ex-procurador que durante anos perseguiu executivos da AIG, disse que não houve vontade política de Washington de levar os responsáveis pelas fraudes à Justiça.

"O que não funcionou é 100% uma questão de competência e coragem", criticou à AFP.

Na crise do crédito e da poupança no final dos anos 1880 e no escândalo da Enron no início de 2000, os procuradores tinham o poder e os recursos para se arriscarem a investigar e processar centenas de réus poderosos em todo o país.

No entanto, uma mudança na liderança no início da era Barack Obama somada a vários casos frustrados nos tribunais, fez com que os funcionários se preocupassem em evitar derrotas buscando grandes acordos com os réus.

Nos anos após a crise, as investigações de executivos da Goldman Sachs e Lehman Brothers e outras entidades não levaram a lugar algum.

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