Economia

Argentinos lutam para encontrar produtos após disparada de preços

Desde sexta-feira, 11, o dólar paralelo saltou de 605 para 780 pesos

Argentina: cotação oficial sofreu sua maior desvalorização em um dia desde 2019 na segunda-feira.  (JUAN MABROMATA/Getty Images)

Argentina: cotação oficial sofreu sua maior desvalorização em um dia desde 2019 na segunda-feira. (JUAN MABROMATA/Getty Images)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 17 de agosto de 2023 às 09h33.

O argentino Rubén Carballo recusou a venda de 60 pneus na manhã de segunda-feira, 14. Apesar da frustração dos clientes, essa foi a solução que ele, dono de uma oficina em Buenos Aires, encontrou diante da indefinição dos preços após as eleições primárias da Argentina, no domingo.

Desde sexta-feira, 11, o dólar paralelo saltou de 605 para 780 pesos. Na segunda-feira, a cotação oficial sofreu sua maior desvalorização em um dia desde 2019. "A fábrica nos avisou que não tinha uma lista de preços, por não saber o que aconteceria com a cotação do peso", disse Carballo ao Estadão. "Então, decidimos não vender."

Na terça-feira, 15, um cliente ficou indignado ao saber que o orçamento de quatro pneus, feito há um mês, não poderia ser mantido. "Os preços já estavam desatualizados pelo aumento mensal de 8%, e agora ainda com esses 14% da desvalorização", disse Carballo.

Inflação

Numa loja de peças de reposição de eletrodomésticos da capital, todos os preços subiram desde segunda-feira. "Atualizamos imediatamente quando os fornecedores nos avisaram do aumento. Um copo de liquidificador foi de 11 mil para 14 mil pesos, e os consertos subiram entre 10% e 15%", conta o vendedor Adrián Aguerrido. "Os consumidores ficaram assustados, mas não tem como não alterar os preços."

Os argentinos, que já viam seu poder aquisitivo corroído pela inflação, agora veem os preços dispararem de forma descontrolada. "Muitos colegas perguntavam se deveriam fechar por dois dias", conta Fernando Savore, presidente da Federação de Donos de Armazéns da Província de Buenos Aires. "Disse que temos a obrigação de abrir, porque somos comércio de bairro que vende comida. Mas, se eles não tiverem como repor os produtos, ficam em situação ruim."

Na terça-feira, muitos fornecedores passaram a divulgar os reajustes, o que também não agradou. "Não tem mercadoria que se salve", disse Savore, em sua mercearia em Morón, na Grande Buenos Aires. Segundo ele, já era perceptível a falta de algumas marcas. "Não há abastecimento e sabemos que, quando isso ocorre, os preços sobem."

Incerteza

Martin Pinto, representante do Centro de Padeiros de Merlo, na periferia de Buenos Aires, conta que vários fornecedores informaram que não venderiam matéria-prima nesta semana, enquanto não tiverem um valor estipulado para os produtos. "Isso está acontecendo em todos os setores", afirmou. "Lojas e açougues fecharam, porque não há preços fixos. É como o que vivemos em 2001, com a hiperinflação."

Dono de uma padaria na capital, Alfredo Botusansky conta que está com problemas para conseguir queijo para os sanduíches de miga. "Liguei para pedir, mas me disseram que não há", disse. Já acostumado com a crise, ele se preparou antes da eleição, estocando açúcar, manteiga, margarina e chocolate para elaborar seus quitutes. Botusansky lamenta a situação. "Antes, levavam um quarto, meio quilo ou um quilo de pão. Agora, pedem exatamente o valor que tem nas mãos."

Em um açougue portenho, os clientes foram surpreendidos pelo salto de 18% na carne e um novo aumento de 38% ontem. Javier Vilanova, responsável pelo local, nunca viu um aumento tão brusco. "Só na crise de 2001", lembra. O governo anunciou negociações com frigoríficos para tentar conter os preços. Mas, para Vilanova, os clientes não devem diminuir a qualidade da carne que consomem, mas sim a quantidade. "A Argentina vai deixar de ser carnívora? Duvido", disse.

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