Pragmatismo e negócios responsáveis
Repensar estratégias privadas responsáveis é tão importante quanto o estabelecimento de políticas públicas focadas no desenvolvimento humano
Colunista
Publicado em 5 de dezembro de 2023 às 12h43.
Última atualização em 5 de dezembro de 2023 às 12h44.
Dar esperança aos stakeholders quanto à resolução de suas demandas é um fator chave para o desenvolvimento de negócios responsáveis e éticos. Isso, levando em consideração que o próprio conceito de desenvolvimento precisa ser revisitado. A performance não deve ser o único fator direcionador de resultados de uma empresa. Esperança é a condição que um ser humano tem de acreditar que amanhã as coisas podem ser melhores e, sem ela, muitos se sentem enclausurados em uma existência sem propósito. E, ter um propósito é uma condição para a liberdade. Neste sentido, esperança e liberdade podem ser objetivos para se estabelecer um novo conceito para o desenvolvimento.
Talvez isso tudo ainda pareça um pouco longe da realidade. No entanto, a educação é um dos principais fatores para gerar crescimento e desenvolvimento econômico. Vale observar os casos do ensino básico e médio no estado Ceará. A aquisição de conhecimento é um processo libertador. Ele proporciona que o indivíduo tome suas próprias decisões no longo prazo e assuma sua trajetória de vida, não aceitando necessariamente apenas as condições do ambiente. Afinal, pode transformá-lo. Ao mesmo tempo traz esperanças quanto a sonhos, mudanças e construção.
Assim, quando há investimentos na construção de um sistema de educação, universalização em um país e uma estratégia de implementação local, automaticamente condições de esperança e liberdade são criadas quanto às gerações futuras. O oposto deste processo apresenta severas consequências à empregabilidade e remuneração, adicionais às atividades econômicas e PIB nacional, qualidade e valor de vida e desenvolvimento de uma cultura de paz.
A relação da educação é direta, mas este é um benefício para poucos na sociedade local e mundial. Muitas sociedades dependem de seus governos para criar valor ou ter o acesso mínimo a recursos para sobreviver. E, em alguns casos, é na busca pela sobrevivência que atividades ilegais, como desmatamento, são escolhidas como caminho. Pois, não há suporte institucional ou esperança de encontrar emprego melhor em determinadas regiões ou países. Obviamente, isso não é uma licença para práticas ilícitas, mas a combustão para que esse processo continue a se perpetuar entre as populações. Adicionalmente, parte substancial dos tipos de práticas sem ética advém de falta de monitoramento, controle e de elementos básicos ao desenvolvimento: saúde, educação e alimento.
Os custos de governança e monitoramento podem ser altos, especialmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Mas, empresas podem exercer um papel distinto ao incorporar em suas estratégias as demandas de stakeholders como base para construção de negócios responsáveis. O caso da Natura é emblemático quanto à criação e manutenção de uma cadeia de suprimentos positiva com a natureza e os povos tradicionais. A criação de valor por meio de produtos e a distribuição deste valor incorporou a empregabilidade de povos locais na Amazônia e a manutenção da floresta “em pé”. No entanto, vale a ressalva que não é uma atividade trivial o estabelecimento de estratégias como esta, devido a quanto pode variar o nível de entendimento do que é considerado responsável, o conceito de desenvolvimento e ética. No final, não se trata de fazer bem por fazer o bem, mas fazê-lo porque existe um propósito de esperança e liberdade de longo prazo, quanto a um planeta melhor, futuras gerações melhores e líderes capazes de pensar distintamente.
*Fernanda K. Lemos é pesquisadora associada na Universidade de York e pesquisadora visitante no Insper (Metricis/IAG). Doutora em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (FEA/USP).
Dar esperança aos stakeholders quanto à resolução de suas demandas é um fator chave para o desenvolvimento de negócios responsáveis e éticos. Isso, levando em consideração que o próprio conceito de desenvolvimento precisa ser revisitado. A performance não deve ser o único fator direcionador de resultados de uma empresa. Esperança é a condição que um ser humano tem de acreditar que amanhã as coisas podem ser melhores e, sem ela, muitos se sentem enclausurados em uma existência sem propósito. E, ter um propósito é uma condição para a liberdade. Neste sentido, esperança e liberdade podem ser objetivos para se estabelecer um novo conceito para o desenvolvimento.
Talvez isso tudo ainda pareça um pouco longe da realidade. No entanto, a educação é um dos principais fatores para gerar crescimento e desenvolvimento econômico. Vale observar os casos do ensino básico e médio no estado Ceará. A aquisição de conhecimento é um processo libertador. Ele proporciona que o indivíduo tome suas próprias decisões no longo prazo e assuma sua trajetória de vida, não aceitando necessariamente apenas as condições do ambiente. Afinal, pode transformá-lo. Ao mesmo tempo traz esperanças quanto a sonhos, mudanças e construção.
Assim, quando há investimentos na construção de um sistema de educação, universalização em um país e uma estratégia de implementação local, automaticamente condições de esperança e liberdade são criadas quanto às gerações futuras. O oposto deste processo apresenta severas consequências à empregabilidade e remuneração, adicionais às atividades econômicas e PIB nacional, qualidade e valor de vida e desenvolvimento de uma cultura de paz.
A relação da educação é direta, mas este é um benefício para poucos na sociedade local e mundial. Muitas sociedades dependem de seus governos para criar valor ou ter o acesso mínimo a recursos para sobreviver. E, em alguns casos, é na busca pela sobrevivência que atividades ilegais, como desmatamento, são escolhidas como caminho. Pois, não há suporte institucional ou esperança de encontrar emprego melhor em determinadas regiões ou países. Obviamente, isso não é uma licença para práticas ilícitas, mas a combustão para que esse processo continue a se perpetuar entre as populações. Adicionalmente, parte substancial dos tipos de práticas sem ética advém de falta de monitoramento, controle e de elementos básicos ao desenvolvimento: saúde, educação e alimento.
Os custos de governança e monitoramento podem ser altos, especialmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Mas, empresas podem exercer um papel distinto ao incorporar em suas estratégias as demandas de stakeholders como base para construção de negócios responsáveis. O caso da Natura é emblemático quanto à criação e manutenção de uma cadeia de suprimentos positiva com a natureza e os povos tradicionais. A criação de valor por meio de produtos e a distribuição deste valor incorporou a empregabilidade de povos locais na Amazônia e a manutenção da floresta “em pé”. No entanto, vale a ressalva que não é uma atividade trivial o estabelecimento de estratégias como esta, devido a quanto pode variar o nível de entendimento do que é considerado responsável, o conceito de desenvolvimento e ética. No final, não se trata de fazer bem por fazer o bem, mas fazê-lo porque existe um propósito de esperança e liberdade de longo prazo, quanto a um planeta melhor, futuras gerações melhores e líderes capazes de pensar distintamente.
*Fernanda K. Lemos é pesquisadora associada na Universidade de York e pesquisadora visitante no Insper (Metricis/IAG). Doutora em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (FEA/USP).