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Eleições Portuguesas 2022: a vez da política tradicional

O Partido Socialista do primeiro-ministro Antônio Costa surpreendeu e saiu maior do pleito

I
IDEIA Pública

Publicado em 30 de janeiro de 2022 às, 21h07.

O legendário poeta português Fernando Pessoa encampou a famosa frase de que “navegar é preciso, viver não é preciso”.  Aos eleitores portugueses coube votar para uma nova formação do Parlamento nacional. Uma disputa que só ocorreu porque a base de sustentação do primeiro-ministro Antônio Costa, do Partido Socialista (PS), ruiu no processo de aprovação do orçamento de governo para 2022. Parecia um enredo destinado a tirar os socialistas do comando do país. Todavia, se navegar é preciso, os eleitores lusos não são. O PS não somente venceu as eleições (com aproximadamente 42% dos votos) como saiu maior. Esse pleito deixa algumas pistas do futuro da política portuguesa e com possíveis derivadas para as a disputa brasileira.

A primeira é o fim da gerigonça. Esse foi o termo dado ao governo que assumiu o poder, liderado pelo PS em novembro de 2015. Para chegar ao poder, Antônio Costa (que naquela eleição teve menos votos que o PSD, partido de Centro Direita) teve de fazer acordo com três partidos de ideias classificadas com de “extrema esquerda”: o Partido Comunista Português (PCP), o Bloco de Esquerda e o partido Os Verdes. A gerigonça já se mostrou enferrujada no segundo mandato de Costa (depois das eleições de 2019) e implodiu ao final de 2021. O resultado expressivo do PS, com maioria absoluta, joga esses grupos políticos para a periferia das decisões do parlamento. Portugal antecipa o que deve ocorrer no Brasil: é a hora da política profissional. Os partidos periféricos devem sofrer aqui como no além mar.

O PSD português, de centro-direita, segue sem conseguir mostrar porque seria uma alternativa melhor para os portugueses. O seu líder Rui Rio amarga a segunda derrota eleitoral nacional e deve ser substituído na liderança do partido. O PSD sofre de uma dificuldade comum ao PSDB brasileiro: passar a percepção que não compreende os problemas da população mais pobre e, com iss, ganha o carimbo de “partido de elite”.  Uma oxigenação da liderança e das ideias do PSD se fazem mais que necessárias para voltar a eleger um primeiro-ministro.

Por último, assim como em outros países europeus, grupos com ideias da direita radical ganham espaço no parlamento. Se na Alemanha, por exemplo, o AfD, com aproximadamente 10% dos votos, representa a extrema-direita e flerta com ideários nazistas, em Portugal foi a vez do “Chega”. Esse partido, liderado pelo jurista André Ventura, é autointitulado nacionalista, conservador e liberal. Todavia, sua cartilha defende desde a castração química até os atributos “positivos” da ditadura de Antônio Salazar. Qualquer semelhança com discursos locais de bolsonaristas mais radicais não é mera coincidência. Apesar de ter crescido e virado a terceira força na assembleia portuguesa (com aproximadamente 8% dos votos), ainda está muito distante de PSD e PS.

Portanto, o eleitor luso eliminou a gerigonça e enterrou a ilusão de grandes mudanças na política na terrinha. Lá, assim como no Brasil, a “terceira via” segue tímida e distante do poder. Para governar, ainda segue firme o “centrão” português.