Ao se perder a capacidade de ouvir os outros, a carreira fica em risco, afirma Eduardo Navarro
Na coluna desta semana, conheça a história de Eduardo Navarro, vice-presidente na Lindsay Corporation
Colunista
Publicado em 26 de abril de 2024 às 12h45.
O desejo de edificar uma trajetória de sucesso na área do agronegócio surgiu logo cedo, quando passei a ter contato com o campo e todas as suas benesses. Sequer hesitei no momento de optar pela carreira e, desta forma, tratei de planejar a minha jornada com enorme dedicação, logrando resultados expressivos ao longo de mais de duas décadas como executivo do segmento. Atualmente, ocupo a cadeira de v ice-presidente para a América Latina da proeminente multinacional Lindsay Corporation.
*
Nasci em São Paulo, em 1977, e desde jovem recebi fortes influências para me aventurar no segmento da agronomia, em função de meus avós serem oriundos do interior paulista. Caçula de três irmãos, frequentava assiduamente a fazenda do meu avô materno em Espírito Santo do Pinhal/SP, especialmente durante as férias e planejava inclusive ser boiadeiro quando crescesse.
O meu avô era ministro do Tribunal de Contas e possuía um haras – encantava-me estar em contato com os cavalos, com a vida no campo. Logo notei como minha jornada, de alguma forma, se conectaria aos assuntos pertinentes a este nicho, embora os caminhos até me tornar um executivo bem-sucedido tiveram contornos desafiadores.
Meus pais, Luiz Fernando e Leticia Navarro, desempenharam um papel fundamental na minha educação, sempre enfatizando a importância do aprendizado contínuo e do domínio de outras línguas como chave para o sucesso profissional. Eles me incentivaram a realizar um intercâmbio aos 15 anos, me enviando para os Estados Unidos com o objetivo primordial de aprofundar meus conhecimentos em inglês. Essa experiência, fortemente apoiada por eles, não apenas expandiu minhas habilidades linguísticas, mas também me ensinou o valor da independência e a apreciação por culturas diversas. A dedicação deles à minha educação foi um alicerce imprescindível que moldou significativamente minha jornada profissional.
Dominar o inglês definitivamente ajuda a alavancar qualquer carreira. Na grande maioria das multinacionais, nas quais estão as melhores oportunidades, conhecer outra forma de se comunicar é um pré-requisito, inclusive para subir e galgar posições dentro da organização.
Eventualmente, o profissional terá de lidar com fornecedores, clientes de outros países. Portanto, asseguro como a minha prosperidade está associada ao fato de falar inglês fluentemente. Comunico-me não apenas com o headquarter , mas mantenho interações com os times locais com esta importante habilidade.
Ao retornar dos Estados Unidos, ingressei no Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal, onde me graduei em engenharia agronômica, no ano de 2000. Novamente, tive de sair de casa para cursar a faculdade, morando em uma república estudantil, sem o suporte próximo dos meus pais. Foi quando, de fato, aprendi noções sólidas sobre responsabilidade, disciplina, além de ter estabelecido novas relações interpessoais.
Sem dúvida, marcou como uma experiência bastante impactante e compreendo que tal etapa ajudou a lapidar o meu perfil. Durante a faculdade cheguei a estagiar como coordenador do curso de pecuária, que era a linha que eu pretendia seguir no início.
Porém, no último ano da faculdade ingressei em dois estágios, sendo um na Fertibras, empresa de fertilizantes situada em São Paulo, e outro em um grupo cafeeiro na Bahia, a Agropecuária Grande Leste. Nesta época, necessitava conciliar o conhecimento acadêmico com os afazeres do estágio, algo que considero fundamental, pois ajuda a entrar precocemente em contato com o mercado. Próximo de me formar, optei por seguir na Agropecuária Grande Leste, por ser mais alinhada aos meus anseios.
Aliás, decidi continuar na Agropecuária Grande Leste, onde permaneci por quase quatro anos, já com a responsabilidade de gerenciar o negócio, cuidando de custos e vendas. Mantinha uma excelente relação com os donos, pautada em muita confiança, em função de todas as minhas atribuições. Passei a apreciar também a administração, além de já deter ótimo conhecimento técnico.
A exitosa e longeva trajetória como líder na Monsanto
Todavia, concluí que, aos 22 anos, precisaria planejar a minha carreira a longo prazo, vislumbrar meios de crescer, contemplando novos horizontes. Com essa mentalidade, tratei de buscar novas oportunidades em empresas que me provessem leques maiores de desenvolvimento. Foi quando, em 2004, a Monsanto Company surgiu em minha vida, com uma oferta de contrato temporário. Já casado com Aniella Navarro, uma parceira extraordinária cujo apoio inabalável e compreensão profunda foram pilares fundamentais na minha trajetória profissional, sempre me encorajando a aceitar desafios e crescer. Com ela ao meu lado, enfrentei cada nova etapa com confiança. Naquele momento, nosso filho Felipe Navarro acabara de nascer, representando mais uma bela etapa em nossa vida juntos. Mas mesmo diante desses momentos significativos, não hesitei em aceitar a oferta de uma renomada multinacional, fortalecido pelo suporte e incentivo constante de Aniella.
Devidamente efetivado, iniciei a minha jornada de 15 anos no grupo como r epresentante técnico de vendas, cargo que é a porta de entradas para a área comercial, dedicando-me a este setor por quatro anos. A posição demandava alto nível técnico e, de imediato, precisei aprender a vender semente de milho para agricultores.
Com os bons resultados, fui promovido a gerente de vendas, resultando em minha primeira experiência como líder de pessoas, algo que me levou a lidar com outra realidade. Pontuo como o meu primeiro grande desafio, porque coordenava um time de RTVs (Representante Técnico De Vendas), sendo que precisava transformá-los em uma equipe de alta performance e costumava ser parceiro deles. Enfim, demandou ampla capacidade gerencial.
Após três anos, assumi a Monsoy – o setor de sementes de soja – e assim retornei para São Paulo, liderando a operação a partir do escritório como gerente comercial. Após outro ciclo de três anos, tornei-me líder do negócio de algodão, porém no segmento de marketing.
Todas essas movimentações se davam pelo meu caráter de estar constantemente em busca de coisas novas, com o intuito de deixar um legado por onde passasse. O legal de estar em uma multinacional é exatamente de haver essa dinâmica de rotatividade.
Desta forma, vivenciei o dia a dia do marketing financeiro, que aborda preços, custos, resultados, ou seja, todo o negócio. Tive de aprender as estratégias, métodos de negociação, ampliando o meu escopo, até me tornar líder do negócio algodão. Ademais, tinha de lidar com grandes produtores, algo essencial para me desenvolver como executivo, haja vista como a posição requisitava conhecer o mercado global de forma ampla.
Em minha última posição na Monsanto, obtive a honra de estar à frente do grande negócio da corporação, como líder dos negócios de milho e sorgo. O último CEO havia passado por essa cadeira, ou seja, significou como um imenso compromisso, por ser a área responsável por quase 50% do faturamento da empresa na época. Havia relações com todos os nichos, incluindo fábricas, produtores, enfim, um negócio deveras complexo. E também provinha uma visibilidade muito grande em termos de ser exposto tanto internamente, quanto ao mercado.
Analiso essa trajetória como algo que me representa, pois detenho esse perfil de estar sempre transformando, desafiando o status quo, algo que é marcante em mim. A liderança observava como eu detinha a capacidade de equalizar as questões complexas e, assim, eu era o incumbido de assumir tais missões. Isso me desafiava demais, e considero que, quanto mais desafiada, mais a pessoa se envolve no processo em prol de resultados sólidos.
A ascensão e os desafios relevantes como Vice Presidente da Lindsay
Contudo, em 2018, quando a Bayer concluiu a aquisição da Monsanto, virou aquela confusão típica acerca do choque cultural, que faz parte do jogo corporativo. As cadeiras foram se segmentando e compreendi que seria importante migrar para outra indústria, mas ainda dentro do agronegócio, evidentemente.
Desta forma, em junho de 2019, iniciei a minha trajetória na Lindsay Corporation, organização do setor de máquinas de irrigação, que buscava um diretor comercial. Seria uma posição inédita em meu currículo e ponderei como a chance promissora de realizar uma transição de carreira singular.
Havia a questão de alterar a agenda, mudar de cidade, mas o principal ponto era o desafio de iniciar uma nova atividade. Todavia, no meio do processo, fui convidado para me tornar o general manager do grupo no Brasil, com a responsabilidade de assumir toda a unidade de negócio, envolvendo fábrica, os setores de RH, financeiro, comercial, marketing, jurídico, dentre outros.
A Lindsay é uma empresa relativamente jovem e eu já conhecia a cultura norte-americana, o que facilitou na adaptação. Durante quase quatro anos permaneci como General Manager, implementando toda a transformação da companhia no Brasil, até que, no início de 2023, fui promovido a vice-presidente para a América Latina.
Enalteço os avanços alcançados durante o período em que estou na Lindsay, a forma madura como a empresa se estabeleceu no mercado, com vasto crescimento. A instituição já contava uma história de 20 anos no país, com resultados satisfatórios, mas no último quadriênio, houve um período de robustez exuberante, mesmo em meio à pandemia.
Desafie o status quo para encontrar soluções ágeis
Como vice-presidente, precisei lidar com o caos proporcionado pela crise sanitária, com as pessoas permeadas por dúvidas. Isso exigiu que tomasse decisões ágeis, puxando a responsabilidade para mim, promovendo reuniões semanais com todos os colaboradores, o que denominamos de Conexão Lindsay. Provemos todo o suporte, gerando a confiança para seguirmos progredindo. Sem dúvida, essa história ficou marcada, é um legado gigantesco.
Reitero o valor de desafiar o status quo a todo momento, sem jamais acreditar naquele modelo empregado hoje será o melhor no futuro. As grandes oportunidades sempre existirão. Obviamente, aplicar essa filosofia em uma companhia de cultura norte-americana é um pouco mais complexo, mas me sinto honrado por ter funcionado.
Talvez uma das decisões mais corajosas tenha a de ter realocado os negócios de Mogi-Mirim para Campinas, por ser um polo maior, que atrai mais pessoas e facilita as operações. Foi um investimento estratégico significativo, levando-nos a construir um time forte, alinhado aos propósitos, sendo que multiplicamos em dez vezes o tamanho da companhia em somente quatro anos.
“ Sem dúvida, a oportunidade que tenho de transformar a agricultura da América Latina é um agente motivador inigualável. Isso me faz levantar da cama todos os dias para ajudar o nosso agricultor a produzir de forma sustentável.”
O agronegócio investe solidamente na sustentabilidade
Ao ser indagado sobre a pauta da sustentabilidade, assevero como o agronegócio é alinhado aos padrões ESG por natureza. É um segmento que impacta o meio ambiente (sem hífen) positivamente; tem uma questão de governança superimportante, porque a agricultura no Brasil não é de subsistência, mas extremamente profissional. Os agricultores precisam estar com todas as suas obrigações legais em dia, caso contrário, não conseguem crédito junto às instituições financeiras.
O Brasil é um dos países mais exigentes no cumprimento de normas no mundo. E, ao contemplar o âmbito social, basta analisarmos o exemplo do Nordeste e os investimentos em irrigação efetuados nas áreas áridas, pois transforma-se a região, beneficiando toda a comunidade.
Inúmeras tecnologias providas pelo agronegócio, lançadas pelas grandes companhias, são fundamentais para a concretização de negócios significativos. O uso da água é outro exemplo significativo, porque o Brasil tem uma legislação rígida neste aspecto também. A irrigação não gasta água, pelo contrário, utiliza o recurso com foco em sustentabilidade.
Ao sobrevoar o país, avistamos inúmeras regiões florestadas, algo que não acontece nos Estados Unidos e outras grandes potências. Dificilmente degradamos o solo, especialmente em razão da otimização das tecnologias, com o uso consciente dos recursos.
O valor da escuta ativa e da autorreflexão como líder
A principal característica do líder contemporâneo é saber estabelecer a escuta ativa, ou seja, precisa ouvir assertivamente, independentemente do nível hierárquico do seu interlocutor. Ao conseguir interagir com os colaboradores, isso gera um engajamento singular e, por conseguinte, auxilia quem está à frente a tomar decisões mais certeiras.
Quando já era líder há bastante tempo, os feedbacks eram bem similares e sou um homem incisivo, que fala firme, de certa forma, transmitia percepções de arrogância. Recordo-me de um ano extraordinário que tivemos na Monsanto, ao tiramos o negócio do algodão do buraco, elevando -o a outro patamar. E mesmo assim fui muito mal avaliado. Recebi um feedback duro, de que não se trata apenas de resultados.
Serviu como um grande aprendizado, levando-me a repensar, realizar uma mudança de mindset , desacelerar, e a buscar outras maneiras de lidar com as pessoas, trazer todos juntos – é a questão da maturidade. Realizei uma autorreflexão interna genuína – cogitei que se continuasse daquela forma poderia estagnar ou mesmo acabar com a minha carreira.
A partir de então, investi muitos anos na escuta ativa, passando a falar menos, a contextualizar os meus argumentos, a parar de falar antes de todo o mundo. Foi um processo que demandou tempo para funcionar, sendo que passei a observar os gatilhos com o intuito de não retroceder.
Diversidade e adaptabilidade são aspectos essenciais
A escuta ativa, evidentemente, requer o perfil transparente e humilde, para poder estar apto a atender a todos os envolvidos nos processos, ajustando expectativas, ciente de que ninguém sabe de tudo. Inclusive, para colocar isso em prática, de conseguir dialogar com 100% dos colaboradores, inventei o Café com o Navarro. É uma forma relevante de compreender como está a relação dos indivíduos com a empresa, quais são os pontos que podem ser aprimorados.
Saliento como é importante também se ater aos feedbacks. E fico bastante orgulhoso por saber como as pessoas encontram-se felizes, destacam como nunca foram tratadas tão bem dentro de uma organização. São formas de motivar ainda mais a equipe, de forma natural, com equilíbrio, respeitando as individualidades.
E quando busco alguém para ingressar na equipe, priorizo pessoas diferentes de mim. Até brinco que, se tiver muitos profissionais com características similares às minhas, ninguém aguenta. É mandatório haver a diversificação não somente em termos de experiência, mas como de background , com perfis distintos, para solidificar o trabalho, com base na complementação. A diversidade é algo que eu tento trazer para o meu time, em todos os aspectos.
É também fundamental que a pessoa esteja apta à mudança. Considero que, no Brasil, é muito difícil de se planejar, implementar um plano estratégico. Demanda o poder de adaptabilidade, de fazer uma gestão de mudança rápida, mas estando confortável com isto, pois o país é bastante dinâmico. A pandemia acometeu o mundo todo, mas no mercado brasileiro vivenciamos mudanças constantes, seja em trocas no governo, no clima, enfim, tudo impacta.
Aprendizados adquiridos com a maturidade e humildade
Conforme abordei, passei por processos intrínsecos em busca de me tornar uma pessoa melhor. Por esta razão, aponto como a falta de humildade é uma das principais armadilhas que acomete um executivo e certamente está muito relacionada ao componente da maturidade, algo que se constrói no decorrer da vida. Ao chegar em determinada posição, a arrogância pode prevalecer, e a escuta ativa desaparece.
Ao se perder a capacidade de ouvir os outros, a carreira fica em risco. Recebi feedbacks sobre isso e foi bastante importante para o meu desenvolvimento, especialmente na época da Monsanto. Jamais pode-se ignorar o feedback de líderes, mas, especialmente, dos liderados, que podem apontar possíveis erros – quem de fato você impacta, o ajudará a crescer.
A humildade foi um aprendizado essencial para mim e penso que é preciso saber que nunca se saberá sobre tudo – as relações são importantes para amealhar ainda mais aprendizados. Já a determinação, com tomada de decisão, assumindo as responsabilidades, é outro aspecto que considero imprescindível. Tal aspecto ajuda a ser um líder inspirador, pelo exemplo, sem ser aquele que só fala da boca para fora.
Por fim, construir um time diverso é um ponto importante, porque traz muitos benefícios no dia a dia. Aprendi isso ao longo da carreira – no início “modelava” as pessoas, mas isso exaure a essência delas. Quando mudei esse foco, o nível de engajamento aumentou e observo isso diariamente dentro da Lindsay.
*
“ O sucesso depende da gente, não do chefe ou de uma empresa legal. Independentemente de onde se esteja, empenhe o seu melhor, dedique-se àquilo em que acredita. O mercado é justo e a pessoa será recompensada por aquilo que realiza. Além disso, busque por coisas que lhe tragam felicidade, agreguem com equilíbrio – assim, a entrega será 200% maior. ”
O desejo de edificar uma trajetória de sucesso na área do agronegócio surgiu logo cedo, quando passei a ter contato com o campo e todas as suas benesses. Sequer hesitei no momento de optar pela carreira e, desta forma, tratei de planejar a minha jornada com enorme dedicação, logrando resultados expressivos ao longo de mais de duas décadas como executivo do segmento. Atualmente, ocupo a cadeira de v ice-presidente para a América Latina da proeminente multinacional Lindsay Corporation.
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Nasci em São Paulo, em 1977, e desde jovem recebi fortes influências para me aventurar no segmento da agronomia, em função de meus avós serem oriundos do interior paulista. Caçula de três irmãos, frequentava assiduamente a fazenda do meu avô materno em Espírito Santo do Pinhal/SP, especialmente durante as férias e planejava inclusive ser boiadeiro quando crescesse.
O meu avô era ministro do Tribunal de Contas e possuía um haras – encantava-me estar em contato com os cavalos, com a vida no campo. Logo notei como minha jornada, de alguma forma, se conectaria aos assuntos pertinentes a este nicho, embora os caminhos até me tornar um executivo bem-sucedido tiveram contornos desafiadores.
Meus pais, Luiz Fernando e Leticia Navarro, desempenharam um papel fundamental na minha educação, sempre enfatizando a importância do aprendizado contínuo e do domínio de outras línguas como chave para o sucesso profissional. Eles me incentivaram a realizar um intercâmbio aos 15 anos, me enviando para os Estados Unidos com o objetivo primordial de aprofundar meus conhecimentos em inglês. Essa experiência, fortemente apoiada por eles, não apenas expandiu minhas habilidades linguísticas, mas também me ensinou o valor da independência e a apreciação por culturas diversas. A dedicação deles à minha educação foi um alicerce imprescindível que moldou significativamente minha jornada profissional.
Dominar o inglês definitivamente ajuda a alavancar qualquer carreira. Na grande maioria das multinacionais, nas quais estão as melhores oportunidades, conhecer outra forma de se comunicar é um pré-requisito, inclusive para subir e galgar posições dentro da organização.
Eventualmente, o profissional terá de lidar com fornecedores, clientes de outros países. Portanto, asseguro como a minha prosperidade está associada ao fato de falar inglês fluentemente. Comunico-me não apenas com o headquarter , mas mantenho interações com os times locais com esta importante habilidade.
Ao retornar dos Estados Unidos, ingressei no Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal, onde me graduei em engenharia agronômica, no ano de 2000. Novamente, tive de sair de casa para cursar a faculdade, morando em uma república estudantil, sem o suporte próximo dos meus pais. Foi quando, de fato, aprendi noções sólidas sobre responsabilidade, disciplina, além de ter estabelecido novas relações interpessoais.
Sem dúvida, marcou como uma experiência bastante impactante e compreendo que tal etapa ajudou a lapidar o meu perfil. Durante a faculdade cheguei a estagiar como coordenador do curso de pecuária, que era a linha que eu pretendia seguir no início.
Porém, no último ano da faculdade ingressei em dois estágios, sendo um na Fertibras, empresa de fertilizantes situada em São Paulo, e outro em um grupo cafeeiro na Bahia, a Agropecuária Grande Leste. Nesta época, necessitava conciliar o conhecimento acadêmico com os afazeres do estágio, algo que considero fundamental, pois ajuda a entrar precocemente em contato com o mercado. Próximo de me formar, optei por seguir na Agropecuária Grande Leste, por ser mais alinhada aos meus anseios.
Aliás, decidi continuar na Agropecuária Grande Leste, onde permaneci por quase quatro anos, já com a responsabilidade de gerenciar o negócio, cuidando de custos e vendas. Mantinha uma excelente relação com os donos, pautada em muita confiança, em função de todas as minhas atribuições. Passei a apreciar também a administração, além de já deter ótimo conhecimento técnico.
A exitosa e longeva trajetória como líder na Monsanto
Todavia, concluí que, aos 22 anos, precisaria planejar a minha carreira a longo prazo, vislumbrar meios de crescer, contemplando novos horizontes. Com essa mentalidade, tratei de buscar novas oportunidades em empresas que me provessem leques maiores de desenvolvimento. Foi quando, em 2004, a Monsanto Company surgiu em minha vida, com uma oferta de contrato temporário. Já casado com Aniella Navarro, uma parceira extraordinária cujo apoio inabalável e compreensão profunda foram pilares fundamentais na minha trajetória profissional, sempre me encorajando a aceitar desafios e crescer. Com ela ao meu lado, enfrentei cada nova etapa com confiança. Naquele momento, nosso filho Felipe Navarro acabara de nascer, representando mais uma bela etapa em nossa vida juntos. Mas mesmo diante desses momentos significativos, não hesitei em aceitar a oferta de uma renomada multinacional, fortalecido pelo suporte e incentivo constante de Aniella.
Devidamente efetivado, iniciei a minha jornada de 15 anos no grupo como r epresentante técnico de vendas, cargo que é a porta de entradas para a área comercial, dedicando-me a este setor por quatro anos. A posição demandava alto nível técnico e, de imediato, precisei aprender a vender semente de milho para agricultores.
Com os bons resultados, fui promovido a gerente de vendas, resultando em minha primeira experiência como líder de pessoas, algo que me levou a lidar com outra realidade. Pontuo como o meu primeiro grande desafio, porque coordenava um time de RTVs (Representante Técnico De Vendas), sendo que precisava transformá-los em uma equipe de alta performance e costumava ser parceiro deles. Enfim, demandou ampla capacidade gerencial.
Após três anos, assumi a Monsoy – o setor de sementes de soja – e assim retornei para São Paulo, liderando a operação a partir do escritório como gerente comercial. Após outro ciclo de três anos, tornei-me líder do negócio de algodão, porém no segmento de marketing.
Todas essas movimentações se davam pelo meu caráter de estar constantemente em busca de coisas novas, com o intuito de deixar um legado por onde passasse. O legal de estar em uma multinacional é exatamente de haver essa dinâmica de rotatividade.
Desta forma, vivenciei o dia a dia do marketing financeiro, que aborda preços, custos, resultados, ou seja, todo o negócio. Tive de aprender as estratégias, métodos de negociação, ampliando o meu escopo, até me tornar líder do negócio algodão. Ademais, tinha de lidar com grandes produtores, algo essencial para me desenvolver como executivo, haja vista como a posição requisitava conhecer o mercado global de forma ampla.
Em minha última posição na Monsanto, obtive a honra de estar à frente do grande negócio da corporação, como líder dos negócios de milho e sorgo. O último CEO havia passado por essa cadeira, ou seja, significou como um imenso compromisso, por ser a área responsável por quase 50% do faturamento da empresa na época. Havia relações com todos os nichos, incluindo fábricas, produtores, enfim, um negócio deveras complexo. E também provinha uma visibilidade muito grande em termos de ser exposto tanto internamente, quanto ao mercado.
Analiso essa trajetória como algo que me representa, pois detenho esse perfil de estar sempre transformando, desafiando o status quo, algo que é marcante em mim. A liderança observava como eu detinha a capacidade de equalizar as questões complexas e, assim, eu era o incumbido de assumir tais missões. Isso me desafiava demais, e considero que, quanto mais desafiada, mais a pessoa se envolve no processo em prol de resultados sólidos.
A ascensão e os desafios relevantes como Vice Presidente da Lindsay
Contudo, em 2018, quando a Bayer concluiu a aquisição da Monsanto, virou aquela confusão típica acerca do choque cultural, que faz parte do jogo corporativo. As cadeiras foram se segmentando e compreendi que seria importante migrar para outra indústria, mas ainda dentro do agronegócio, evidentemente.
Desta forma, em junho de 2019, iniciei a minha trajetória na Lindsay Corporation, organização do setor de máquinas de irrigação, que buscava um diretor comercial. Seria uma posição inédita em meu currículo e ponderei como a chance promissora de realizar uma transição de carreira singular.
Havia a questão de alterar a agenda, mudar de cidade, mas o principal ponto era o desafio de iniciar uma nova atividade. Todavia, no meio do processo, fui convidado para me tornar o general manager do grupo no Brasil, com a responsabilidade de assumir toda a unidade de negócio, envolvendo fábrica, os setores de RH, financeiro, comercial, marketing, jurídico, dentre outros.
A Lindsay é uma empresa relativamente jovem e eu já conhecia a cultura norte-americana, o que facilitou na adaptação. Durante quase quatro anos permaneci como General Manager, implementando toda a transformação da companhia no Brasil, até que, no início de 2023, fui promovido a vice-presidente para a América Latina.
Enalteço os avanços alcançados durante o período em que estou na Lindsay, a forma madura como a empresa se estabeleceu no mercado, com vasto crescimento. A instituição já contava uma história de 20 anos no país, com resultados satisfatórios, mas no último quadriênio, houve um período de robustez exuberante, mesmo em meio à pandemia.
Desafie o status quo para encontrar soluções ágeis
Como vice-presidente, precisei lidar com o caos proporcionado pela crise sanitária, com as pessoas permeadas por dúvidas. Isso exigiu que tomasse decisões ágeis, puxando a responsabilidade para mim, promovendo reuniões semanais com todos os colaboradores, o que denominamos de Conexão Lindsay. Provemos todo o suporte, gerando a confiança para seguirmos progredindo. Sem dúvida, essa história ficou marcada, é um legado gigantesco.
Reitero o valor de desafiar o status quo a todo momento, sem jamais acreditar naquele modelo empregado hoje será o melhor no futuro. As grandes oportunidades sempre existirão. Obviamente, aplicar essa filosofia em uma companhia de cultura norte-americana é um pouco mais complexo, mas me sinto honrado por ter funcionado.
Talvez uma das decisões mais corajosas tenha a de ter realocado os negócios de Mogi-Mirim para Campinas, por ser um polo maior, que atrai mais pessoas e facilita as operações. Foi um investimento estratégico significativo, levando-nos a construir um time forte, alinhado aos propósitos, sendo que multiplicamos em dez vezes o tamanho da companhia em somente quatro anos.
“ Sem dúvida, a oportunidade que tenho de transformar a agricultura da América Latina é um agente motivador inigualável. Isso me faz levantar da cama todos os dias para ajudar o nosso agricultor a produzir de forma sustentável.”
O agronegócio investe solidamente na sustentabilidade
Ao ser indagado sobre a pauta da sustentabilidade, assevero como o agronegócio é alinhado aos padrões ESG por natureza. É um segmento que impacta o meio ambiente (sem hífen) positivamente; tem uma questão de governança superimportante, porque a agricultura no Brasil não é de subsistência, mas extremamente profissional. Os agricultores precisam estar com todas as suas obrigações legais em dia, caso contrário, não conseguem crédito junto às instituições financeiras.
O Brasil é um dos países mais exigentes no cumprimento de normas no mundo. E, ao contemplar o âmbito social, basta analisarmos o exemplo do Nordeste e os investimentos em irrigação efetuados nas áreas áridas, pois transforma-se a região, beneficiando toda a comunidade.
Inúmeras tecnologias providas pelo agronegócio, lançadas pelas grandes companhias, são fundamentais para a concretização de negócios significativos. O uso da água é outro exemplo significativo, porque o Brasil tem uma legislação rígida neste aspecto também. A irrigação não gasta água, pelo contrário, utiliza o recurso com foco em sustentabilidade.
Ao sobrevoar o país, avistamos inúmeras regiões florestadas, algo que não acontece nos Estados Unidos e outras grandes potências. Dificilmente degradamos o solo, especialmente em razão da otimização das tecnologias, com o uso consciente dos recursos.
O valor da escuta ativa e da autorreflexão como líder
A principal característica do líder contemporâneo é saber estabelecer a escuta ativa, ou seja, precisa ouvir assertivamente, independentemente do nível hierárquico do seu interlocutor. Ao conseguir interagir com os colaboradores, isso gera um engajamento singular e, por conseguinte, auxilia quem está à frente a tomar decisões mais certeiras.
Quando já era líder há bastante tempo, os feedbacks eram bem similares e sou um homem incisivo, que fala firme, de certa forma, transmitia percepções de arrogância. Recordo-me de um ano extraordinário que tivemos na Monsanto, ao tiramos o negócio do algodão do buraco, elevando -o a outro patamar. E mesmo assim fui muito mal avaliado. Recebi um feedback duro, de que não se trata apenas de resultados.
Serviu como um grande aprendizado, levando-me a repensar, realizar uma mudança de mindset , desacelerar, e a buscar outras maneiras de lidar com as pessoas, trazer todos juntos – é a questão da maturidade. Realizei uma autorreflexão interna genuína – cogitei que se continuasse daquela forma poderia estagnar ou mesmo acabar com a minha carreira.
A partir de então, investi muitos anos na escuta ativa, passando a falar menos, a contextualizar os meus argumentos, a parar de falar antes de todo o mundo. Foi um processo que demandou tempo para funcionar, sendo que passei a observar os gatilhos com o intuito de não retroceder.
Diversidade e adaptabilidade são aspectos essenciais
A escuta ativa, evidentemente, requer o perfil transparente e humilde, para poder estar apto a atender a todos os envolvidos nos processos, ajustando expectativas, ciente de que ninguém sabe de tudo. Inclusive, para colocar isso em prática, de conseguir dialogar com 100% dos colaboradores, inventei o Café com o Navarro. É uma forma relevante de compreender como está a relação dos indivíduos com a empresa, quais são os pontos que podem ser aprimorados.
Saliento como é importante também se ater aos feedbacks. E fico bastante orgulhoso por saber como as pessoas encontram-se felizes, destacam como nunca foram tratadas tão bem dentro de uma organização. São formas de motivar ainda mais a equipe, de forma natural, com equilíbrio, respeitando as individualidades.
E quando busco alguém para ingressar na equipe, priorizo pessoas diferentes de mim. Até brinco que, se tiver muitos profissionais com características similares às minhas, ninguém aguenta. É mandatório haver a diversificação não somente em termos de experiência, mas como de background , com perfis distintos, para solidificar o trabalho, com base na complementação. A diversidade é algo que eu tento trazer para o meu time, em todos os aspectos.
É também fundamental que a pessoa esteja apta à mudança. Considero que, no Brasil, é muito difícil de se planejar, implementar um plano estratégico. Demanda o poder de adaptabilidade, de fazer uma gestão de mudança rápida, mas estando confortável com isto, pois o país é bastante dinâmico. A pandemia acometeu o mundo todo, mas no mercado brasileiro vivenciamos mudanças constantes, seja em trocas no governo, no clima, enfim, tudo impacta.
Aprendizados adquiridos com a maturidade e humildade
Conforme abordei, passei por processos intrínsecos em busca de me tornar uma pessoa melhor. Por esta razão, aponto como a falta de humildade é uma das principais armadilhas que acomete um executivo e certamente está muito relacionada ao componente da maturidade, algo que se constrói no decorrer da vida. Ao chegar em determinada posição, a arrogância pode prevalecer, e a escuta ativa desaparece.
Ao se perder a capacidade de ouvir os outros, a carreira fica em risco. Recebi feedbacks sobre isso e foi bastante importante para o meu desenvolvimento, especialmente na época da Monsanto. Jamais pode-se ignorar o feedback de líderes, mas, especialmente, dos liderados, que podem apontar possíveis erros – quem de fato você impacta, o ajudará a crescer.
A humildade foi um aprendizado essencial para mim e penso que é preciso saber que nunca se saberá sobre tudo – as relações são importantes para amealhar ainda mais aprendizados. Já a determinação, com tomada de decisão, assumindo as responsabilidades, é outro aspecto que considero imprescindível. Tal aspecto ajuda a ser um líder inspirador, pelo exemplo, sem ser aquele que só fala da boca para fora.
Por fim, construir um time diverso é um ponto importante, porque traz muitos benefícios no dia a dia. Aprendi isso ao longo da carreira – no início “modelava” as pessoas, mas isso exaure a essência delas. Quando mudei esse foco, o nível de engajamento aumentou e observo isso diariamente dentro da Lindsay.
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“ O sucesso depende da gente, não do chefe ou de uma empresa legal. Independentemente de onde se esteja, empenhe o seu melhor, dedique-se àquilo em que acredita. O mercado é justo e a pessoa será recompensada por aquilo que realiza. Além disso, busque por coisas que lhe tragam felicidade, agreguem com equilíbrio – assim, a entrega será 200% maior. ”