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A única verdade sobre o Clubhouse

É inegável que o Clubhouse deu uma ótima largada rumo ao topo. Mas investidores de sucesso e usuários famosos não são garantia de bons resultados

 (Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)
(Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)
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Bruno Parodi

Publicado em 10 de fevereiro de 2021 às, 12h21.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2021 às, 15h37.

É uma questão de tempo alguém vir te falar sobre o Clubhouse. Uma pessoa próxima virá com aquele “Você já viu...?” ou um texto como esse aqui vai te contar que famosos como Oprah Winfrey, Ashton Kutcher, Drake e outras personalidades já estão dando as caras (ou vozes) nesse tal Clubhouse.

Ah, legal. Mas, então, o que é esse Clubhouse? Trata-se de uma nova rede social estritamente baseada em áudio. Ela gira em torno de salas temáticas, onde seus participantes travam conversas ou monólogos ao vivo. Nada fica gravado. Se você não ouviu na hora, tchau.

Aí podemos pensar: “os criadores do Clubhouse foram bem oportunistas e concluíram que se o Instagram bombou por ser uma rede especializada em imagens (e depois vídeos), por que não criar algo focado em áudio?”. Mas essa simplificação dos fatos pode omitir uma história mais interessante por trás desse novo fenômeno online.

Paul Davison, um dos fundadores do Clubhouse, criou em 2012 uma rede social para celulares chamada Highlight, que colocava em contato pessoas geograficamente próximas. A empresa foi vendida para o Pinterest.

Posteriormente, Paul conheceu Rohan Seth, um ex-engenheiro do Google envolvido em projetos como o Android e o Google Maps. Os dois montaram então a Talkshow, uma startup com a missão de aproximar podcasters.

Nenhuma dessas iniciativas chegou a mexer com o mercado, mas o segundo passo da dupla veio justamente na forma do Clubhouse. Concebido no início de 2020, o projeto de cara recebeu um aporte de US$10 milhões em investimentos da Andreessen Horowitz, lendária firma de capital de risco, que tem no currículo apostas iniciais em projetos como Facebook, Instagram, Skype, entre muitos outros.

Há duas semanas, a Andreessen Horowitz anunciou nova rodada de investimentos no Clubhouse. Desta vez, mais US$ 100 milhões, jogando para US$ 1 bilhão seu valor de mercado. Um unicórnio com um ano de vida.

Andrew Chen, sócio da Andreessen Horowitz que liderou a iniciativa, é um reconhecido especialista em técnicas de crescimento rápido para startups, tendo chefiado ações pioneiras do gênero na Uber. Antes, Chen investiu em empresas como Tinder, Dropbox, entre outras.

Para somar, há uma semana Elon Musk deu as caras no Clubhouse para debater sobre o fenômeno envolvendo as ações da Gamestop e do aplicativo financeiro Robinhood. Com isso, um enorme salto na base de usuários: de 1.500 para 600.000 cadastros.

Agora é capaz de você estar querendo participar dessa rede sonora, certo? Desculpe, mas ela só permite a entrada de convidados. A tática é mais um elemento nessa equação do hype e já é possível encontrar convites à venda em plataformas online como Craigslist, eBay e Reddit.

Pode parecer que sim, mas essa tática não é nova. Facebook e Gmail são exemplos de serviços de peso que inicialmente exigiam convites para novos usuários. Elas entenderam que o ser humano não gosta de ficar de fora de algumas situações. Seja de uma festa onde seus amigos estão, seja de assuntos dos quais todo mundo está falando. Queremos ser, estar e saber.

Esse desconforto começou a ser melhor percebido em torno de 2007, quando o Twitter bombou entre profissionais do mercado digital, que também se desdobravam para acompanhar os posts no Facebook e nos blogs que assinavam. É quando o acrônimo FOMO (Fear Of Missing Out) — medo de ficar de fora em português — ganha mais visibilidade na cena digital. Desde então, o termo vira e mexe reaparece para nos lembrar de comportamentos clássicos do ser humano.

Como se não fosse o suficiente, pelo fato das mensagens no Clubhouse não ficarem salvas, o tal FOMO também atinge os usuários: quem não está online perde a festa.

Mas se você é daqueles que fica nervoso com áudios no WhatsApp pode estar se perguntando como uma rede inteiramente sonora está reverberando tanto. Dando um passo atrás, veremos que possivelmente não são as mensagens de áudio em si que incomodam, mas sim estar num aplicativo de texto e receber outro tipo de mídia, eventualmente invasiva.

É muito mais uma questão de contexto do que uma alergia à mídia áudio.

Prova disso é a crescente valorização de podcasts e conteúdos sonoros, suportados por mais e mais canais de consumo. Sob essa ótica, o Clubhouse está apontando para a direção correta.

Naturalmente, há um considerável mistério sobre as reais aplicações que seus novos usuários darão ao serviço. Possibilidades variadas de uso, chegando a eventuais novas formas de monetização de conteúdo.

É inegável que o Clubhouse deu uma ótima largada rumo ao topo. Mas investidores de sucesso e usuários famosos não são garantia de bons resultados.

Agora é aguardar e conferir o que vai sobrar após o hype.