Cross Border: a nova tendência do ecommerce brasileiro vem de fora
A presença chinesa, facilmente reconhecida no comércio de rua em todo Brasil, especialmente nas grandes cidades, começa a ser notada também no mundo online
Da Redação
Publicado em 8 de fevereiro de 2022 às 19h20.
Última atualização em 8 de fevereiro de 2022 às 21h01.
Por Bernardo Carneiro
A presença chinesa, facilmente reconhecida no comércio de rua em todo Brasil, especialmente nas grandes cidades, começa a ser notada também no mundo online. Basta ver o ranking dos portais de compra que mais venderam no Brasil em dezembro de 2021. As asiáticas Shopee e Aliexpress aparecem juntas com as gigantes brasileiras Americanas.com e Magalu..
A chegada dos estrangeiros ao nosso comércio eletrônico tem nome: Cross Border. Essa prática consiste na compra online de produtos de outros países, principalmente China e Estados Unidos. No passado, existia desconfiança das pessoas em relação a esta prática. Os produtos demoravam para chegar aos destinatários e havia um receio em relação ao pagamento de impostos alfandegários. Após investimentos em logística e marketing digital, a adesão do consumidor aumentou.
Em busca de novos mercados estas empresas têm investido pesado por aqui, não só em estrutura com escritórios locais, mas também em marketing. Prova disso são os comerciais de TV sempre presentes nos grandes canais do país e os anúncios digitais borbulhando em sites e redes sociais.
Por que eles escolheram o Brasil? Acredito que o tamanho do nosso mercado foi fundamental para que desembarcassem aqui. Somente em 2021, as vendas online atingiram R$ 260 bilhões, segundo a gestora Canuma Capital. Não é uma cifra a ser desprezada, mesmo para quem vende na China. Segundo dados do Webshoppers 44 da Ebit|Nielsen, o volume de vendas de produtos comprados por brasileiros no cross border está estimado em R$9,6 Bi no primeiro semestre de 2021 e com um crescimento de 15% na quantidade de pedidos comparado ao semestre anterior. Segundo a própria da Ebit|Nielsen, em 2020 o volume total de vendas estrangeiras por aqui foi de R$22,7 bilhões.
O momento para quem vem de fora não poderia ser melhor. Eles chegaram num período de pandemia em que os brasileiros se digitalizaram e perderam o medo da compra online. Além disso, a situação econômica do país - com desemprego recorde, juros em alta e inflação que ultrapassou os 10% - fez o brasileiro perder poder aquisitivo. Com isso, na hora de fazer suas compras, ele vem buscando opções com melhor custo-benefício, deixando de lado a preferência por uma marca ou outra.
Os preços baixos especialmente dos players chineses vêm aguçando a curiosidade dos consumidores que aos poucos estão comprando mais. Quem comprou um simples chaveiro de apenas R$ 10 e recebeu sem nenhum contratempo, vai se encorajar a adquirir itens mais caros a cada compra (como o famoso robô aspirador de pó inteligente). Com o tempo, passa a enxergar ainda mais vantagem no serviço lá de fora na comparação com os nacionais. Foi isso que vimos acontecer no ano passado e acredito que será intensificado este ano.
Dispostas a não perder a oportunidade, as marcas estrangeiras estão criando times próprios no Brasil para estabelecer um serviço cada vez mais competitivo. Melhorias já podem ser vistas no tempo de entrega e na qualidade do produto, que são as principais reclamações dos usuários de aplicativos internacionais.
O exemplo dos grandes atrai players menores, que começam a chegar por aqui via marketplaces. A Via Varejo já começou a colocar esse tipo de item estrangeiro em sua cartela de opções. Magalu está estudando esse caminho, Amazon já começa a liberar os sellers internacionais, Mercado Livre e Americanas têm isso já bem desenvolvido e com volumes crescentes.
Este fenômeno estimulou inclusive o surgimento da figura do integrador que faz esse meio de campo entre vendedores chineses e compradores brasileiros. Uma das empresas que presta esse tipo de serviço é a Cross Commerce Store, que inclui produtos estrangeiros em sua plataforma e cuida de todo relacionamento com os marketplaces nacionais. Para os chineses é maravilhoso, pois contam com atendimento em mandarim, ferramentas de tradução e cálculo de preço e não precisam se preocupar com o relacionamento local. Além disso, a Cross Commerce também resolve toda a logística, do armazém na China até a casa do consumidor, facilitando e incentivando sellers menores a venderem seus produtos para os brasileiros e melhorando muito a experiência de compra.
Todos esses fenômenos combinados - economia brasileira em crise, consumidor com menos poder aquisitivo e o movimento do mercado para facilitar a operação estrangeira - criarão as condições perfeitas para o aumento do market share dos cross borders. É só uma questão de tempo para vermos a multiplicação desses produtos, de eletrônicos a vestuário (quem aí já comprou na Shein?), em diversos sites nacionais. É esperar pra ver.
Por Bernardo Carneiro
A presença chinesa, facilmente reconhecida no comércio de rua em todo Brasil, especialmente nas grandes cidades, começa a ser notada também no mundo online. Basta ver o ranking dos portais de compra que mais venderam no Brasil em dezembro de 2021. As asiáticas Shopee e Aliexpress aparecem juntas com as gigantes brasileiras Americanas.com e Magalu..
A chegada dos estrangeiros ao nosso comércio eletrônico tem nome: Cross Border. Essa prática consiste na compra online de produtos de outros países, principalmente China e Estados Unidos. No passado, existia desconfiança das pessoas em relação a esta prática. Os produtos demoravam para chegar aos destinatários e havia um receio em relação ao pagamento de impostos alfandegários. Após investimentos em logística e marketing digital, a adesão do consumidor aumentou.
Em busca de novos mercados estas empresas têm investido pesado por aqui, não só em estrutura com escritórios locais, mas também em marketing. Prova disso são os comerciais de TV sempre presentes nos grandes canais do país e os anúncios digitais borbulhando em sites e redes sociais.
Por que eles escolheram o Brasil? Acredito que o tamanho do nosso mercado foi fundamental para que desembarcassem aqui. Somente em 2021, as vendas online atingiram R$ 260 bilhões, segundo a gestora Canuma Capital. Não é uma cifra a ser desprezada, mesmo para quem vende na China. Segundo dados do Webshoppers 44 da Ebit|Nielsen, o volume de vendas de produtos comprados por brasileiros no cross border está estimado em R$9,6 Bi no primeiro semestre de 2021 e com um crescimento de 15% na quantidade de pedidos comparado ao semestre anterior. Segundo a própria da Ebit|Nielsen, em 2020 o volume total de vendas estrangeiras por aqui foi de R$22,7 bilhões.
O momento para quem vem de fora não poderia ser melhor. Eles chegaram num período de pandemia em que os brasileiros se digitalizaram e perderam o medo da compra online. Além disso, a situação econômica do país - com desemprego recorde, juros em alta e inflação que ultrapassou os 10% - fez o brasileiro perder poder aquisitivo. Com isso, na hora de fazer suas compras, ele vem buscando opções com melhor custo-benefício, deixando de lado a preferência por uma marca ou outra.
Os preços baixos especialmente dos players chineses vêm aguçando a curiosidade dos consumidores que aos poucos estão comprando mais. Quem comprou um simples chaveiro de apenas R$ 10 e recebeu sem nenhum contratempo, vai se encorajar a adquirir itens mais caros a cada compra (como o famoso robô aspirador de pó inteligente). Com o tempo, passa a enxergar ainda mais vantagem no serviço lá de fora na comparação com os nacionais. Foi isso que vimos acontecer no ano passado e acredito que será intensificado este ano.
Dispostas a não perder a oportunidade, as marcas estrangeiras estão criando times próprios no Brasil para estabelecer um serviço cada vez mais competitivo. Melhorias já podem ser vistas no tempo de entrega e na qualidade do produto, que são as principais reclamações dos usuários de aplicativos internacionais.
O exemplo dos grandes atrai players menores, que começam a chegar por aqui via marketplaces. A Via Varejo já começou a colocar esse tipo de item estrangeiro em sua cartela de opções. Magalu está estudando esse caminho, Amazon já começa a liberar os sellers internacionais, Mercado Livre e Americanas têm isso já bem desenvolvido e com volumes crescentes.
Este fenômeno estimulou inclusive o surgimento da figura do integrador que faz esse meio de campo entre vendedores chineses e compradores brasileiros. Uma das empresas que presta esse tipo de serviço é a Cross Commerce Store, que inclui produtos estrangeiros em sua plataforma e cuida de todo relacionamento com os marketplaces nacionais. Para os chineses é maravilhoso, pois contam com atendimento em mandarim, ferramentas de tradução e cálculo de preço e não precisam se preocupar com o relacionamento local. Além disso, a Cross Commerce também resolve toda a logística, do armazém na China até a casa do consumidor, facilitando e incentivando sellers menores a venderem seus produtos para os brasileiros e melhorando muito a experiência de compra.
Todos esses fenômenos combinados - economia brasileira em crise, consumidor com menos poder aquisitivo e o movimento do mercado para facilitar a operação estrangeira - criarão as condições perfeitas para o aumento do market share dos cross borders. É só uma questão de tempo para vermos a multiplicação desses produtos, de eletrônicos a vestuário (quem aí já comprou na Shein?), em diversos sites nacionais. É esperar pra ver.