Ciência

Coronavírus atual é versão mais contagiosa do que a original, diz estudo

Depois de deixar a China e entrar na Europa, uma variante do novo coronavírus, tornou-se dominante e foi essa versão europeia que se estabeleceu nos EUA

Pesquisa publica na revista Cell analisa as mutações genéticas do novo coronavírus (Taechit Taechamanodom/Getty Images)

Pesquisa publica na revista Cell analisa as mutações genéticas do novo coronavírus (Taechit Taechamanodom/Getty Images)

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AFP

Publicado em 3 de julho de 2020 às 06h34.

Última atualização em 3 de julho de 2020 às 07h41.

A variante do SARS-CoV-2 dominante infecta células com mais facilidade do que o que apareceu na China, o que provavelmente o torna mais contagioso entre os seres humanos, embora isso ainda deva ser confirmado, revela um estudo publicado nesta quinta-feira (2) na revista Cell.

"Parece que o vírus se replica melhor e pode ser mais transmissível, mas ainda estamos na etapa de tentar confirmar isso. Existem geneticistas de vírus muito bons trabalhando nisso", disse Anthony Fauci, diretor do Instituto de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos  à revista Jama nesta quinta-feira (2).

Depois de deixar a China e entrar na Europa, uma variante do novo coronavírus, que constantemente sofre mutações como qualquer vírus, tornou-se dominante e foi essa versão europeia que se estabeleceu nos Estados Unidos. A variante chamada D614G refere-se a uma única letra no DNA do vírus, em um local onde controla a entrada nas células humanas.

Pesquisadores rastreiam mutações genéticas no coronavírus em todo o mundo. Aqueles que sequenciam o genoma do vírus o compartilham em um banco de dados internacional (GISAID), um tesouro de mais de 30.000 sequências contabilizadas até o momento.

O novo estudo, realizado pelas universidades Sheffield e Duke Universities e pelo Laboratório Nacional Los Álamos, estabeleceu em abril que o D614G é dominante e mais tarde determinou que a mutação tornava o vírus "mais transmissível".

Os resultados do estudo já haviam sido publicados on-line em um site de pré-publicação científica.

Essa afirmação atraiu críticas porque a equipe não demonstrou que a mutação foi a causa de ter se tornado dominante. A versão do vírus poderia ter se beneficiado de outros fatores ou do acaso.

Por essas críticas, os cientistas realizaram trabalhos e experimentos adicionais, a pedido dos editores da publicação especializada Cell.

Um vírus mais eficiente?

Os pesquisadores analisaram, primeiramente, dados de 999 pacientes britânicos hospitalizados por COVID-19 e observaram que aqueles com a variante tinham mais partículas virais, mas isso não mudou a gravidade de sua doença.

Por outro lado, experimentos de laboratório mostraram que a variante é três a seis vezes mais capaz de infectar células humanas.

"Parece provável que seja um vírus mais eficiente", diz Erica Ollmann Saphire, que conduziu um desses experimentos no Instituto de Imunologia La Jolla.

No entanto, um experimento in vitro não pode reproduzir a dinâmica real de uma pandemia. Portanto, a conclusão mais estrita é que, embora o coronavírus atualmente em circulação seja provavelmente mais "infeccioso", não é necessariamente mais "transmissível" entre humanos.

Em qualquer cenário, "essa variante é agora a pandemia", diz Nathan Graubaugh, da Universidade de Yale, junto com colegas em um artigo separado.

"O D614G não deve alterar nossas medidas de restrição ou piorar as infecções individuais", acrescenta.

A conclusão dos especialistas é que "estamos testemunhando um trabalho científico em tempo real: essa é uma descoberta interessante que afeta potencialmente milhões de pessoas, mas cujo impacto final ainda não é conhecido. Descobrimos esse vírus há seis meses e aprenderemos muito mais nos próximos seis meses ", concluem.

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