Cientistas brasileiros desenvolvem diagnóstico de Alzheimer pela saliva
Pesquisa inédita permite que doença seja identificada pela saliva 30 anos antes dos sintomas aparecerem
Maria Eduarda Cury
Publicado em 18 de janeiro de 2020 às 09h00.
Última atualização em 18 de janeiro de 2020 às 19h15.
São Paulo - O Alzheimer é uma doença que afeta, atualmente, cerca de 46,8 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com o Instituto Alzheimer Brasil. O diagnóstico da doença, hoje em dia, é uma combinação de vários exames e análise de sintomas que podem identificar a condição. No entanto, um novo teste que está sendo desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) permite diagnosticar a doença por meio da saliva, de forma indolor, até 30 anos antes.
Com base em um estudo realizado em 2008, onde foi percebida a presença de substâncias no sangue de pessoas que tinham a doença, o cientista e biotecnólogo Gustavo Alves e sua equipe desenvolveram um teste que utiliza biomarcadores para identificar a doença 30 anos antes dos sintomas começarem a aparecer.
Para isso, basta coletar a saliva do paciente por 13 minutos, utilizando um swab estéril com algodão na ponta. Em entrevista a EXAME, Alves disse que o uso de saliva para diagnóstico é inédito: "A ideia de utilizar a saliva veio porque, até então, a saliva era considerada um líquido sem muita utilidade - não se tinha muita crença de que poderia ser utilizada como método diagnóstico", comentou Alves.
Inicialmente, o professor de pesquisa do SENAC e sua equipe analisaram a saliva de 54 idosos, com e sem a doença, para identificar as proteínas TAU e Beta amilóide. Os resultados das amostras dos indivíduos com alzheimer foram positivos, o que fez com que a equipe resolvesse realizar mais testes.
Em 2020, eles reunirão 180 pacientes - entre eles, 60 idosos com a doença, 60 idosos sem a doença e 60 jovens sem a doença -, e coletarão sua saliva, para depois colocá-la em processo de centrifugação e viabilizar a identificação das proteínas. Com esses resultados, será possível expandir o estudo e comprovar a presença das proteínas em idosos com Alzheimer, além de identificar os jovens que poderão desenvolver a doença. "A nossa ideia é facilitar o processo de diagnóstico, principalmente porque essas proteínas começam a se acumular no cérebro da pessoa cerca de 30 anos antes dos sintomas aparecerem", disse Alves.
Sem investimento estatal ou bolsas de estudo, o projeto, que foi apresentado na Conferência Internacional de Alzheimer em Los Angeles em 2019, atualmente está procurando investidores e financiamento para que possa chegar até a população. Para facilitar o processo, Alves informou que está montando uma startup - que deve começar a funcionar em mais ou menos um mês - para concentrar os avanços e conseguir financiamento.
A intenção, segundo ele, é transformar o produto em uma patente e fazer com que os hospitais comecem a utilizá-lo em cerca de dois anos. Até o momento, não existem remédios ou tratamentos para o Alzheimer, apenas pesquisas para criar remédios efetivos contra a doença.