Ciência

Cidade do México pode afundar 20 metros; entenda

Devido a um fenômeno causado pela retirada de água subterrânea da região, a metrópole mexicana está se compactando e deve causar inúmeros problemas de infraestrutura nos próximos anos

Vista aérea da Cidade do México (Ernesto Ruiz/Getty Images)

Vista aérea da Cidade do México (Ernesto Ruiz/Getty Images)

Ao olhar o horizonte da Cidade do México é possível notar uma característica incomum: casas, edifícios e ruas não possuem uma perspectiva em que se possa traçar uma linha reta. A cidade é torta.

Mas nem sempre foi assim. O fenômeno pouco comum em outros locais do mundo foi iniciado pela retirada de água subterrânea da região que se deu durante anos, fazendo com que o solo deforme e se achate cerca de 10 centímetros ao ano. No entanto, novas previsões são ainda mais preocupantes: a cidade do México deve afundar de 20 a 30 metros até o final do século.

O cálculo catastrófico foi realizado por dois pesquisadores da Universidade Nacional Autônoma do México, o geólogo Solano Rojas e o geofísico Enrique Cabral-Cano, que afirmaram à revista Wired que os sintomas desse afundamento serão os responsáveis por inúmeros problemas de infraestrutura da cidade, como a condenação de edificios, recapamento de ruas, além do saneamento que pode ser comprometido.

Para entender melhor o fundamento, por assim dizer, do afundamento, é preciso se voltar à história da Cidade do México. O povo asteca, os moradores da região até o século XVI, construiu sua capital, Tenochtitlan, em uma ilha no Lago Texcoco, que está situada em uma bacia cercada por montanhas. Quando os espanhóis chegaram, destruíram Tenochtitlan, e começaram então a drenar o lago e a construíram suas edificações acima dele. Anos depois, temos a metrópole que se tornou a moderna Cidade do México sob um lago que já não existe mais. 

Esse acontecimento desencadeou as mudanças físicas que deram início ao naufrágio da cidade. Quando o sedimento do lago sob a Cidade do México ainda estava úmido, as partículas de argila que o compunham estavam dispostas de maneira desorganizada. Com a pressão das construções e o ressecamento do solo, ocorre o reposicionamento dos sedimentos que agora estão se compactando. 

Autoridades da Cidade do México reconhecem o problema desde 1800, quando viram edifícios afundando e começaram a fazer medições. Isso deu a Solano‐Rojas e Cabral-Cano dados históricos valiosos, que eles combinaram com medições de satélite feitas nos últimos 25 anos. Ao disparar ondas de radar no solo, foi possível aferir em detalhes como as elevações da superfície estão mudando na cidade.

Usando esses dados, os pesquisadores calcularam que levará outros 150 anos para que os sedimentos da Cidade do México se compactem totalmente, embora algumas regiões possam levar mais ou menos tempo. Quanto mais espessa a argila em uma determinada área, mais rápido ela afunda. Outras áreas, principalmente nos arredores da cidade, podem não afundar muito porque estão assentadas em rochas em vez de sedimentos.

A retirada de água subterrânea não é um problema apenas da Cidade do México. Jacarta, na Indonésia, está afundando até 25 centímetros por ano; no Vale de San Joaquin, na Califórnia, foi medido um afundamento de 8 metros. Historicamente, o bombeamento de água subterrânea resolveu os problemas imediatos de comunidades e colônias, possibilitando a agricultura, mas criou um desastre de muito mais longo prazo.

Assim, se torna irreversível. Em câmera lenta, e a cada ano, a Cidade do México ficará mais torta.

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