Ciência

As vacinas da covid-19 estão em risco com a suspensão da AstraZeneca?

AstraZeneca, laboratório avançado contra o novo coronavírus suspendeu testes da vacina após um caso de mielite transversa; fabricantes se unem

Vacina contra o novo coronavírus: ações da AstraZeneca caíram 2% após paralisação nos testes (Paul Biris/Getty Images)

Vacina contra o novo coronavírus: ações da AstraZeneca caíram 2% após paralisação nos testes (Paul Biris/Getty Images)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 9 de setembro de 2020 às 07h25.

A grande questão desta quarta-feira no combate à pandemia do novo coronavírus é simples e angustiante: e agora? O que acontece depois de a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade Oxford anunciaram ontem uma suspensão nos testes após uma suspeita de reação adversa em um participante em fase final de testes.

O site Stat News, que trouxe a notícia, não forneceu maiores detalhes. A AstraZeneca afirmou que a pausa é “uma ação de rotina que deve acontecer sempre que houver uma doença potencialmente inexplicada em um dos testes, enquanto ela é investigada, garantindo a manutenção da integridade dos resultados”.

Batizada de AZD1222, a vacina da AstraZeneca está em fase final de testes no Reino Unido, no Brasil, nos Estados Unidos e na África do Sul, e deveria entrar em teste também no Japão e na Rússia. Países como o Brasil já haviam anunciado investimentos para fabricar a vacina. A Coreia do Sul, outro país interessado na produção, anunciou nesta quarta-feira que pode rever os planos.

O ministro britânico da Saúde disse que a não é a primeira pausa à vacina de Oxford e que ela não representa necessariamente um problema. "Depende do que descobrirem na investigação", afirmou ao site CNBC. Os Estados Unidos, que planejam acelerar a aprovação da vacina para antes das eleições presidenciais de novembro, ainda não se pronunciaram.

Ontem, antes da notícia da pausa, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que em janeiro o país começa a vacinar "todo mundo" com a vacina da AstraZeneca. O governo não se pronunciou após a pausa nos testes.

As suspensões clínicas são comuns em testes de vacinas -- mas na corrida contra a covid-19 a informação trouxe uma onda de apreensão. Pesquisadores à frente de outros testes estão agora buscando reações adversas em suas próprias bases, com dados cruzados num Conselho de Monitoramento que monitora testes de vacinas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde a vacina da AstraZeneca é provavelmente a mais avançada das nove candidatas em fases finais de testes. No total, há 34 vacinas em teste no mundo. A notícia de ontem fez as ações da farmacêutica caírem 2% após o pregão de ontem na bolsa de Nova York -- uma reação tímida, que pode indicar confiança dos investidores numa retomada dos testes.

Segundo a rede britânica BBC, os testes podem ser reiniciados em alguns dias com decisão do órgão regulador britânico. Segundo o Stat News, o paciente em questão deve se recuperar. Segundo o jornal New York Times, o efeito colateral encontrado no Reino Unido foi uma mielite transversa, uma inflamação na medula espinhal que pode ser causada por vírus.

Mais cedo ontem, a AstraZeneca e outras oito fabricantes (como Pfizer, Sanofi e Moderna) divulgaram comunicado afirmando que a segurança e a eficácia das vacinas em fase 3 de testes são prioridades. O objetivo é conseguir a confiança geral de órgão regulatórios e de consumidores na corrida pela vacina contra o novo coronavírus.

Na Rússia, que acabou de iniciar a última fase de testes, a vacina Sputnik 5 vai começar a ser distribuída em larga escala, segundo afirmou ontem o governo. Na China, a vacina Coronavac, também em testes no Brasil, já foi aplicada em "centenas de milhares" de pessoas, incluindo os funcionários do laboratórios Sinovac, com sucesso até aqui, segundo a companhia.

De qualquer forma, a pausa nos testes da AstraZeneca pode aumentar as preocupações de um grupo crescente de pessoas que não querem ser vacinadas. Pesquisa recente do instituto Datafolha mostrou que 9% dos brasileiros não pretende se vacinar contra a covid-19.

Semana passada, o presidente Jair Bolsonaro foi criticado por afirmar que as pessoas são livres para não tomar a vacina. Segundo especialistas em saúde, a pausa anunciada ontem nos testes reforça a preocupação com segurança -- e não o contrário. A corrida para uma vacina segue a todo vapor -- e pode ter novos reveses, naturais num processo como este.

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