Vinhos: A taça importa tanto quanto um bom rótulo
Faz sentido investir em ótimas garrafas e não extrair delas seu máximo potencial? A qualidade do cálice faz muita diferença na hora de apreciar seu vinho
Julia Storch
Publicado em 27 de março de 2022 às 09h00.
Pode parecer preciosismo ou mania de enochato. Mas um dos melhores e mais sensatos investimentos que um bebedor de vinho pode fazer é em uma bela taça.
Não estou escrevendo aqui para convencê-lo de que é necessário ter 15 modelos de taça em casa, e que beber no modelo errado seria sacrilégio ou mesmo um desperdício. Estou apenas questionando se faz sentido investir em ótimas garrafas e não extrair delas o máximo de seu potencial.
Beber vinho é, acima de tudo, uma experiência sensorial. E a qualidade da taça — idealmente feita de cristal soprado, com um design inteligente que valorize os atributos do vinho — faz, sim, muita diferença na nossa percepção do líquido dentro dela e no prazer que podemos ter ao bebê-lo.
Existem vários outros rituais que atrelamos ao ato de beber — decantar o vinho, aerá-lo, servir na temperatura certa —, que buscam justamente valorizar essa experiência sensorial e extrair do vinho tudo o que ele pode nos oferecer. O design da taça é importante — afeta como o líquido se mexe e interage com o oxigênio, influencia em quanto da temperatura é preservada e dita a nossa proximidade física com o vinho (pense em como é difícil e estranho aproximar seu nariz de uma flûte, ou taça de espumante, por exemplo).
Mas o grande prazer de uma bela taça começa na experiência tátil. Levantá-la e sentir sua leveza entre os dedos, notar o peso do vinho quando o mexemos de um lado para o outro e a forma contínua como o vinho parece fluir da taça à boca, sem que ela se faça muito presente. A diferença é palpável.
Nos últimos anos, o culto às taças superpremium cresceu consideravelmente entre os bebedores de vinho, com muitos levando-as em viagens e até a restaurantes. Entre outros motivos, a resistência a investir em uma taça excepcional vem da ideia de que seria necessário comprar jogos inteiros. A verdade é que uma ou duas bastam — são instrumentos para curtir com vinhos especiais, em casa, a sós ou em casal. Para receber grupos maiores, use outras.
Mas e o investimento? As taças da Grassl Glass, uma das marcas disponíveis no mercado brasileiro, têm design suíço, mas são feitas na Eslováquia, e são necessários cinco artesãos para concluir uma única peça. Tamanho cuidado não sai barato (os preços variam entre 220 e 495 reais por taça, dependendo do modelo), mas, em se tratando de valorizar seu vinho, esse investimento acaba sendo diluído com o uso. Afinal, o vinho vai e a taça fica.
Quanto ela dura, claro, depende do cuidado que temos ao lavá-la e armazená-la. Mas ela é mais resistente do que a delicadeza do cristal parece indicar.
E a melhor dica? Nunca lave a taça logo depois de beber! Passe uma água para não manchar, mas espere o dia seguinte para lavar, com atenção plena. O risco de quebrar sua preciosa taça diminuirá consideravelmente.