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Tarifas acabam com paixão dos chineses por vinho australiano

A última rodada de tarifas de importação — que pode elevar a alíquota total para mais de 215% — deixou os produtores australianos cambaleando

Vinhedo em Yarra Valley, em Victoria (Bloomberg/Bloomberg)

Vinhedo em Yarra Valley, em Victoria (Bloomberg/Bloomberg)

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Daniel Salles

Publicado em 14 de dezembro de 2020 às 12h05.

O ataque da China ao setor vinícola da Austrália está acabando com a alegria de muita gente.

A última rodada de tarifas de importação — que pode elevar a alíquota total para mais de 215% — deixou os produtores australianos cambaleando. Nos últimos 25 anos, a classe média chinesa se expandiu e pegou gosto por taças de Shiraz, Cabernet Sauvignon e outros tintos, fazendo do país o maior e mais entusiasmado comprador de vinhos australianos. Em 2019, a Austrália superou a França em termos de valor exportado em vinhos para a China. No ano passado, a China gastou 1,2 bilhão de dólares australianos (U$ 904 milhões) nessas compras, o equivalente a aproximadamente 40% da exportação total de vinhos australianos, de acordo com a associação Wine Australia.

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“Eles amam nosso estilo e conhecem nossos sabores”, disse Mitchell Taylor, da Taylors Wines, onde as vendas para a China representam um quinto da receita anual com exportações. “Eles têm um paladar muito perceptivo, então o vinho tem sido uma área natural para explorarem e desfrutarem.”

Esses compradores estão desaparecendo rapidamente. Relatos sobre a possibilidade de elevação de tarifas aumentaram as compras da China em 94% em outubro, segundo dados da alfândega chinesa. Com isso, os preços dos vinhos australianos subiram 40%. Os dados oficiais de novembro ainda não estão disponíveis, mas a expectativa é que as tarifas sejam uma sentença de morte para essas trocas comerciais, eliminando a demanda e derrubando os preços.

Agora, a indústria vinícola australiana — que ainda se recupera dos incêndios florestais que destruíram vinhas no início de 2020 e enfrenta a queda da demanda provocada pela epidemia do coronavírus — repensa seus planos de distribuição.

Os maiores clientes da Austrália após a China, EUA e Reino Unido, dificilmente compensarão as perdas. Nesses países, o mercado de luxo é ocupado por produtores da Califórnia e Europa, respectivamente. Por isso, a produção da Austrália é conhecida por lá pelas marcas mais baratas, como Yellow Tail. “Nós realmente precisamos vender a narrativa do vinho australiano de luxo”, disse Taylor.

Quase dois terços das exportações de vinho da Austrália para a China tinham preço igual ou superior a 10 dólares australianos por litro, de acordo com a Wine Australia, enquanto o crescimento das exportações para o Reino Unido e os EUA se concentrou no segmento com preço inferior a 5 dólares australianos por litro.

“Todos nós precisamos pensar em reposicionamento e engajamento em outros mercados”, disse Alister Purbrick, CEO da Tahbilk Wines, vinícola localizada no estado de Victoria. Por enquanto, ele está focando no mercado doméstico, mas enxerga oportunidade em outro mercado emergente: Índia. As tarifas até agora mantiveram exportadores distantes do mercado indiano, mas o executivo vê potencial de longo prazo nas novas preferências do consumidor e na ascensão de uma geração jovem com visão mais globalizada.

Paralelamente, importadores e varejistas chineses procuram fornecedores longe da Austrália. Um negociante de vinho de Guangdong, que se identificou apenas pelo sobrenome Ni, informou que aumentou os preços dos vinhos australianos e que planeja começar a importar de outros locais, incluindo França, Chile e Argentina.

Com a colaboração de Shuping Niu.

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