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Sufocada por turistas, Veneza busca alternativas para sobreviver

Veneza não é mais uma cidade viva, com dezenas de turistas superando o número de venezianos lotando sua lagoa, pontes e passarelas

Mulheres em trajes tradicionais remam durante a tradicional corrida de Befana, nos canais de Veneza (Marco Secchi/Getty Images)

Mulheres em trajes tradicionais remam durante a tradicional corrida de Befana, nos canais de Veneza (Marco Secchi/Getty Images)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 2 de julho de 2019 às 08h00.

Última atualização em 2 de julho de 2019 às 08h00.

Se você já esteve em Veneza, sabe do que estamos falando. Mesmo o turista mais exausto não pode deixar de admirar a pura originalidade - e beleza - da cidade secular construída inteiramente sobre a água.

No entanto, até mesmo a visita mais rápida revela que Veneza não é mais uma cidade viva, com dezenas de turistas superando o número de venezianos lotando sua lagoa, pontes e passarelas. Os números confirmam. A população da cidade basicamente chegou ao pico nos anos 1500 e, embora tenha aumentado novamente até os níveis do século XVI na década de 1970, hoje os venezianos correspondem a apenas um terço dos habitantes há 50 anos.

Antes a proeminente cidade-estado do Mediterrâneo, Veneza hoje parece impotente para reverter a tendência de crescentes turistas e cada vez menos moradores. Quando um gigantesco navio de cruzeiro se chocou contra um barco cheio de turistas no início do mês, causando quatro feridos, associações civis e o número cada vez menor de venezianos se apressaram em lembrar o que vinham dizendo há anos: a lagoa é pequena demais e cheia demais para acomodar grandes navios de cruzeiros que aparecem diariamente na alta temporada.

Mas Veneza não pode parar. Mais museu do que cidade moderna, é viciada no dinheiro que as hordas de turistas trazem. Setores tradicionais como produtos químicos e aço estão desaparecendo, e o Ministério do Desenvolvimento da Itália chegou a declarar a região em estado de crise industrial. Com poucas opções além do turismo, a cidade conhecida como Serenissima parece ter pouca escolha.

O acidente foi "uma consequência direta de anos de escolhas em nome do dinheiro", disse Claudio Vernier, que dirige a associação Piazza San Marco e administra uma sorveteria na praça. “A cidade está infestada pelo excesso de turismo. Os serviços não conseguem acompanhar a crescente demanda por turismo barato e de ritmo acelerado.”

Cerca de 5 milhões de turistas visitaram a cidade em 2017 em comparação com 2,7 milhões em 2002, segundo dados de hotéis da cidade, que não levam em conta as milhares de reservas feitas pelo Airbnb e serviços semelhantes. Enquanto isso, a população residente encolheu para menos de 60 mil habitantes.

Na rua, ou melhor, no nível do canal, fica claro que algo precisa ser feito para manter os números sob controle. No centro histórico, livre de carros, a espera por um lugar em um “vaporetto” - a versão local de um ônibus do canal - pode ser de até 20 minutos, apesar da tarifa de 6 euros (US$ 7).

Acotovelando-se com caçadores de suvenires queimados pelo sol, moradores dizem que estão fartos de meia hora de espera por uma taça de prosecco nos famosos bares "bacari" da cidade.

E agora estão sendo forçados a pagar como turistas também. Muitos donos de empresas abandonaram o antigo sistema de preços que cobravam mais dos visitantes por alimentos e serviços, o que significa que agora os moradores pagam os mesmos preços inflacionados que os estrangeiros.

"Veneza tornou-se um lugar impossível de viver", disse Nicola Ussi, vendedor de souvenires. "É muito cara e tudo é projetado para impulsionar o turismo". Ussi apoia a ideia de um sistema de reservas que limite as entradas diárias na cidade.

--Com a colaboração de Tommaso Ebhardt.

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