Roupas anti-coronavírus ganham o primeiro desfile só para elas
A indústria têxtil Vicunha convidou 13 estilistas para desenvolver peças de vestuário com sua nova linha de tecidos antivirais
Daniel Salles
Publicado em 2 de outubro de 2020 às 11h05.
Última atualização em 5 de outubro de 2020 às 11h03.
As semanas de moda internacionais nem acabaram e São Paulo já ganhou na noite de quinta (1) o primeiro desfile de roupas com acabamento antiviral. A indústria têxtil Vicunha convidou 13 estilistas para desenvolver peças de vestuário com sua nova linha de tecidos V.Protective, lançada oficialmente na apresentação, cujo diferencial é a camada de nitrato de prata que destrói a membrana lipídica de agentes externos como o novo Sars-Cov2.
Nomes consagrados do mercado brasileiro, de Alexandre Herchcovitch (À La Garçonne) a Raquel Davidowicz (UMA), tiveram suas criações desfiladas ao lado de outras desenhadas por jovens como Isaac Silva, Igor Dadona e Rafael Nascimento (Another Place).
Todos eles integram as semanas de moda nacionais, e, por isso, além de uma parceria criativa que expôs as possibilidades de uso dessa tecnologia, trata-se de um primeiro olhar sobre o que parte das marcas autorais do país imagina para um futuro próximo pós-pandemia. Essas roupas vão servir de mostruário para apresentar à indústria nacional como é possível costurar na prática essas novas tecnologias têxteis.
A depender dos designers dessa ala autoral da criação brasileira, o mercado terá roupas mais funcionais, utilitárias, com um claro viés esportivo e sem gênero aparente. Ou seja, homens e mulheres poderiam usar as parcas com amarração da Cartel 011, o macacão com bolsos e costura aparente criado pela Amapô e o casaco do tipo morcego de Diego Fávaro, nomes conhecidos entre a turma de fashionista paulistanos.
Segundo os estilistas ouvidos pela EXAME, a roupa agora deveria ser versátil, porque a vida ainda continuará por muito tempo no escritório de casa, em lives e reuniões virtuais, ao mesmo tempo em que o fluxo nas ruas aumenta.
“Criei um macacão e uma veste com capuz porque o clima e a ocasião podem interferir no momento específico do dia”, explica Isaac Silva, um dos expoentes da nova leva de estilistas que desfila na São Paulo Fashion Week.
Ele usou a sarja de algodão com a tecnologia protetiva, uma entre as três bases oferecidas pela Vicunha às marcas. As outras duas compreendem um tecido de algodão com toque empapelado e moletinho.
As novidades já foram vendidas para parte da carteira de clientes da Vicunha, uma das maiores fornecedoras mundiais de índigo (nome industrial para o jeans). No Brasil, além das pequenas marcas que desfilaram, entre seus clientes estão todas as varejistas de moda, da Renner à Marisa, grifes como Osklen, Reserva, Calvin Klein e Aramis, e os grupos Soma (Animale e Foxton), Restoque (Le Lis Blanc e Bobstore), Ibrands (Ellus e VR) e AMC (Colcci).
É possível, então, que até o final deste ano mais coleções com essa proteção adicional contra o novo coronavírus encham as araras do país. A Another Place, grife jovem com foco no mercado on-line, colocou nesta sexta-feira opções dentro do segmento antiviral em sua plataforma.
“Desde o início da pandemia estávamos preocupados em não tornar a máscara um acessório de moda. Mas quando se trata da roupa, acho que o acabamento antiviral é um plus na proteção, num momento em que as pessoas estão voltando à vida”, diz o estilista Rafael Nascimento.
Esse sentido de proteção também guiou Igor Dadona, nome proeminente do evento paulistano de desfiles Casa de Criadores. Suas três peças, os shorts, a camiseta polo e uma camisa oversized podem ser desmembradas e usadas separadamente.
“Ando um pouco neurótico com tudo o que toco, por isso pensei numa camisaria mais fechada, porém mais solta, porque já nos sentimos muito presos nesta pandemia e acredito que a roupa deve dar esse sentido de libertação”, explica o estilista.
Segundo o presidente da Vicunha, José Maurício D’Isep, essa linha de proteção, que inclui também tecnologia repelente a água e antimicrobial, é um nicho em expansão e serve como um serviço adicional às varejistas atendidas pela empresa.
“Há muita gente preocupada com o vírus e, ao mesmo tempo, em oferecer viés funcional para a roupa. É uma tecnologia que neste momento tem uma demanda muito alta entre os clientes", diz o executivo.
Ele desenvolveu as bases junto à firma suíça HeiQ, uma das primeiras do mundo a dar a largada numa espécie de corrida da indústria química por esse acabamento antiviral que começou ainda em março.
“Não é um tecido barato, porque é 80% mais caro do que um convencional, mas nossa preocupação foi fazê-lo extremamente versátil e atender ao mercado fashion. Vamos acompanhar como o Brasil e a América Latina, nossos maiores focos de negócio atualmente, vão responder no pós-pandemia. Mas, mesmo em um cenário de desaceleração dessa procura, vamos manter a linha porque o benefício se estende para além do coronavírus."