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Por que Tóquio representa uma nova era para os Jogos Olímpicos

Com uma nova plasticidade e com valores contemporâneos, modalidades como skate, surfe e BMX invadem a tradição hierarquizada da competição; Jogos começam em 23 de julho

Olimpíadas: especialistas temem um novo aumento de casos de coronavírus em Tóquio. (Kim Kyung/Reuters)

Olimpíadas: especialistas temem um novo aumento de casos de coronavírus em Tóquio. (Kim Kyung/Reuters)

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GabrielJusto

Publicado em 1 de julho de 2021 às 06h00.

Última atualização em 1 de julho de 2021 às 11h09.

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Julho chegou e, com isso, faltam apenas 23 dias para o início dos Jogos Olímpicos de Tóquio que, devido à pandemia, acontecem mais de um ano depois do originalmente previsto. Mas a Olimpíada de 2021 certamente terá seu lugar especial na história por um outro motivo, muito mais honroso: a inclusão de novas modalidades ao programa Olímpico, como o beisebol, karatê, escalada, skate e surfe.

Por ainda não serem considerados esportes olímpicos, os atletas desses esportes estreantes serão premiados com medalhas, mas elas não serão contabilizadas no quadro geral de países. Por enquanto, trata-se de um grande teste promovido pelo Comitê Olímpico Internacional com a intenção de modernizar o programa olímpico.

Enquanto o beisebol e o karatê foram escolhidos por serem extremamente populares no Japão, em um aceno para o Comitê Organizador do país, a escalada esportiva, o surfe, skate e BMX vêm para dialogar com a geração Z. Marcada pela mobilidade, pelas múltiplas realidades, com identidades fluidas e nativos digitais, os nascidos a partir dos anos 2000 já não têm tanto interesse uma prática cuja característica é o dogma e uma relação hierarquizada, pautada no modelo militar, como é o esporte enraizado no século 19.

Ao se relacionar com o esporte, a geração Z busca práticas que têm como característica a quebra de fronteiras, a busca pela liberdade e a relação com o meio ambiente. Se o alfabeto chega à última letra para definir uma geração, é preciso que o mundo da aventura invada o da tradição com sua plasticidade e ética.

Tradição X Liberdade

Situadas no campo da aventura, essas modalidades, depois de passar pelo processo de olimpização, precisam agora mostrar aos praticantes e aos fãs que ceder às normas olímpicas não significa perder a identidade. Afinal, marcadas como estilo de vida, essas práticas esportivas perdem em liberdade quando passam a ostentar os cinco anéis em seus uniformes.

O skate teve sua história marcada como manifestação de diferentes tribos urbanas que ocupavam espaços públicos. O surfe deixará de ser um estilo de vida, que envolve o contato com a natureza, para se transformar em uma competição que busca o pódio. A escalada, prática possível em espaços naturais, foi transportada para paredes artificialmente criadas para esse fim e, nos Jogos Olímpicos, terá de se mostrar altamente flexível somando habilidade e velocidade, qualidades nunca imaginadas para essa prática. E o BMX finalmente fará parte do programa de ciclismo, aproximando a tradição das provas de estrada e de pista da irreverência do jovem mountain bike.

Isso mostra a necessidade de uma competição tradicional se adequar aos tempos. Seja em busca de novos adeptos, seja à procura de mercados e consumidores, é preciso admitir que uma das marcas do mundo contemporâneo é a inquietação, que pode ou não combinar com a tradição.  

Igualdade de gênero e atratividade na comunicação

Manter jovem a imagem dos Jogos é um forte apelo das novas modalidades. Mas para fazer parte do quadro é preciso cumprir uma série de exigências que vão muito além de estar na moda. O primeiro critério é que a modalidade conte com uma federação internacional e um número mínimo de países que tenham federação nacional da modalidade. São 75 em quatro continentes para os masculinos e 40 em três continentes para os femininos, explica Rogério Sampaio, diretor-geral do Comitê Olímpico do Brasil.

 Como é grande o número de esportes que preenchem esses requisitos, novos critérios precisaram ser adotados. “Entram nessa conta história e tradição do esporte, popularidade e apelo da juventude, saúde dos atletas, atratividade para veículos de comunicação e público em geral, relação com o país-sede dos Jogos Olímpicos, complexidade dos custos de infraestrutura e de exploração e igualdade de gênero”, afirma Sampaio. A equiparação de gênero vem sendo levada a sério. A edição de Tóquio terá uma participação geral feminina de 48,8%, a maior até hoje. Para 2024, a meta é atingir o equilíbrio pleno.

 Com as novas modalidades, novas regras. Cada Federação Internacional define as questões técnicas de suas modalidades, e o formato de competição é estabelecido em conjunto pelas federações internacionais e pelo COI. No surfe, por exemplo, foram utilizados para a classificação os rankings da WSL 2020, ISA World Surfing Games de 2019 e 2020, Jogos Pan-Americanos Lima 2019 e Copa da Nação Anfitriã.

 E o que pensam dessa renovação os representantes das modalidades tradicionais? “Os Jogos Olímpicos precisam acompanhar a evolução do mundo, as discussões da sociedade, não podemos ficar para trás. Tudo de bom que acontece temos de incluir em nosso universo. Precisamos continuar evoluindo sempre”, enfatiza Radamés Lattari, presidente da Confederação Brasileira de Voleibol.  

(Com Gabriel Justo, Katia Rubio e Natália Leão)

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