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Por dentro da oficina de clássicos da Jaguar Land Rover no Brasil

Instalada em Itatiaia, no Rio de Janeiro, operação se reestrutura para avançar – sozinha – no mercado de restauração de fábrica

Oficina de clássicos da Jaguar Land Rover no Brasil. (Divulgação/Divulgação)

Oficina de clássicos da Jaguar Land Rover no Brasil. (Divulgação/Divulgação)

Rodrigo Mora
Rodrigo Mora

Repórter de automobilismo

Publicado em 29 de setembro de 2024 às 07h34.

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ITATIAIA (RJ) - Nem se imaginava isso cinco anos atrás: filiais brasileiras das montadoras notarem o cada vez mais suculento mercado de veículos clássicos, aquele que em 2019 movimentou R$ 32,6 bilhões, de acordo com uma pesquisa socioeconômica encomendada pela FIVA (Federation Internationale Vehicules Anciens) e executada pela JDA Research.

Jaguar Land Rover e Volkswagen são as exceções que notaram, e mesmo percorrendo caminhos distintos estão anos-luz à frente das rivais.

A marca alemã apostou na emissão de certificados de originalidade, baseados em cerca de 6,5 milhões de registros que a empresa guardou dos carros que aqui produziu. Acaba de lançar uma página de Instagram – a primeira de uma montadora no Brasil dedicada ao tema – e conduzirá também um podcast dedicado ao universo dos clássicos da Volkswagen.

Para a fabricante inglesa, o negócio é reformar e restaurar veículos antigos, majoritariamente da Land Rover. Dentro dos 60 mil metros quadrados da fábrica de Itatiaia (RJ), aberta em 2016 para montar Evoque e Discovery Sport, um cantinho de 900 metros quadrados está reservado para sua Clínica de Restauração desde 2021.

É decorrência da expansão global do Jaguar Land Rover Classic, localizado na sede da companhia, em Coventry, Inglaterra – cujo embrião remonta a 2015, quando a Jaguar Land Rover anunciou durante a Techno Classica, tradicional evento alemão de carros antigos, a divisão Heritage, destinada a amparar veículos fora de produção há mais de dez anos com serviços e peças originais. Além da unidade fluminense, há classic centers em Essen-Kettwig, na Alemanha, e em Savannah, nos EUA.

Três anos depois e com mais de 80 carros (sendo o primeiro deles um Defender 110 produzido em 1996) rejuvenescidos pelos seus serviços de mecânica e funilaria, a Clínica de Restauração decreta oficialmente o fim do soft opening e se reestrutura para conquistar novos clientes. Até uma aconchegante sala foi providenciada para recebê-los.

“Quando a Clínica de Restauração foi lançada, tivemos muita demanda ao redor do Defender, e assim as peças começaram a sumir do mercado. Então, essa reestruturação é basicamente um ramp-up (a fase de início da produção de uma indústria) de peças, uma nova organização para atender essa alta na demanda. Se aparecessem 15 ou 20 clientes, teríamos as peças disponíveis para entregar os carros dentro do prazo?”, explica José Paschoal, Supervisor da Clínica de Restauração.

Oferta de serviços

A oferta de serviços, com cinco itens atualmente, ficou melhor delineada: mecânica básica, mecânica técnica, reforma, restauração e customização. Exemplares dos Série 1, 2 e 3 e do Defender predominam, mas já começam a aparecer donos de Discovery e Freelander em busca de cuidados.

A empresa tergiversa quanto aos preços dos serviços. “Temos uma base, mas depende muito do que o cliente quer e do estado do carro. Sabemos que nosso preço está acima do mercado, mas porque nada se compara a um padrão de fábrica. Nossas peças são genuínas, nossas ferramentas são originais e nossa mão de obra é especializada. A gente já tem funcionários aqui com quase nove anos de empresa, muitos que trabalharam montando os carros em produção, fizeram diversas especializações e estão aqui hoje”, justifica Paschoal.

“Não entramos nessa para competir com as restauradoras de mercado. Temos equipamentos que são impensáveis para elas, como cabines de pintura e estanqueidade, teste de rolos e pista de rodagem. São caríssimos de implementar”, acrescenta Pedro Gandini, Diretor de Manufatura da JLR. “Quem está buscando esse nível de qualidade pensa no valor de revenda do carro e no valor emocional, não se compara muito com o mercado”, avalia.

Quando o cliente solicita um upgrade, checam-se os protocolos de engenharia com a matriz, que guarda a documentação de cada modelo.

“Hoje dá pra dizer que alcançamos exatamente o mesmo padrão do que é feito na Inglaterra. Sem dúvida aprendemos muito nesses últimos três anos. A própria modelação dos serviços, dos pacotes que a gente oferece, foi uma coisa que a gente aprendeu com eles”, explica Gandini.

O que Itatiaia ainda não oferece são os programas Works Bespoke, que instala motores V8 zero-quilômetro em Defenders catolicamente restaurados; e o Continuation, que reconstrói modelos de corrida da Jaguar dos anos 1950.

De acordo com Paschoal e Gandini, não há qualquer parte de um Land Rover que não possa ser restaurada ou recriada. Alguns fornecedores locais já chegaram a reproduzir peças (principalmente te acabamento) via impressão 3D, mas o fluxo principal de suprimentos é importado da Inglaterra.

A Clínica de Restauração também não deixa de ser um canal muito eficaz (e charmoso, convenhamos) de comunicação e fidelização do cliente. “Tínhamos o parque industrial e o capital intelectual, e então nos perguntamos: por que não converter tudo em construção de relacionamento com o cliente?”, revela Camila Mateus, Diretora de Marketing da JLR.

“Depois dessa fase, a gente entendeu que sim, nós queremos entrar nesse mercado. E agora a gente vem de uma maneira muito mais estruturada e robusta dentro da comunicação e dos processos para poder atender a todo mundo”, conclui a executiva.

Tudo começa com uma consultoria individualizada para captar os desejos dos clientes. E acaba com uma entrega formal do veículo retrabalhado. Como o do empresário Walter Schultz, um Defender 130 1997.

“Procurei a restauração de fábrica porque sou purista. Podem dizer que é caro, mas quanto custa o seu sonho?”, se justifica, antes de montar na picape e seguir para casa, em Goiás, onde planejará a primeira aventura com seu Defender restaurado. “Minha mulher quer ir para a Chapada dos Veadeiros, mas eu estou pensando no Jalapão. Será um dos dois”, revela.

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