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O presente de Natal de Curitiba chegou mais cedo pelo Palácio Avenida

Há 32 anos o espetáculo reúne milhares de pessoas em frente ao Palácio Avenida. Em 2022, além de uma exibição de projeções, o espetáculo foi feito com 100% de crianças de 'Casas Lares'

 (Claudemir de Santi/Divulgação)

(Claudemir de Santi/Divulgação)

Na cidade de Curitiba, na última sexta-feira, 9, uma multidão aguardava — debaixo de chuva — por um evento que é a tradição da cidade nos últimos 32 anos. Eram 25 mil pessoas posicionadas na frente do tão reconhecido Palácio da Avenida, à espera do Coral de Natal, feito por crianças em situação de vulnerabilidade social.

Ainda de janelas fechadas, as pessoas aguardavam ansiosas pelo espetáculo. Um ou outro espectador espiava as janelas em busca de algum cantor, enquanto lá dentro, os "anjos" e as protagonistas da festa — as crianças — se preparavam para um dos momentos mais aguardados da cidade.

Após uma curta contagem, as janelas se abriram e as crianças foram, por 45 minutos, a atração principal de Curitiba para falar de alegria, compaixão, compartilhamento e, sobretudo, esperança. De canções tradicionais de Natal e clássicos do MPB de velha guarda a algumas músicas mais novas, como "Trevo", de AnaVitória e "Trem Bala", de Ana Vilela, o coro era uma mistura de vozes adultas (da rua) e infantis (do Coral).

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Da janela para fora: uma tradição natalina

Uma das crianças durante a apresentação (Claudemir de Santi)

Desde 1991, o Palácio da Avenida reflete a iniciativa de criar um vínculo entre crianças em situação de vulnerabilidade, voluntários ("anjos") — responsáveis pelo acompanhamento dos menores durante a apresentação —, uma instituição financeira por trás do financiamento e produção do projeto e o público, que assiste ao espetáculo.

Neste ano, o Coral ficou restrito a apenas um final de semana. De 9 a 11 de dezembro, em três apresentações, a iniciativa do Banco do Bradesco reuniu 97 mil pessoas para assistir às crianças — 25 mil na sexta, 40 mil no sábado e 42 mil no domingo, conforme estimativa da polícia militar.

"Eu já vinha para cá ver esse espetáculo antes da pandemia e nem morava em Curitiba. Depois de 3 anos, eu vim como moradora", diz Anéte Caveiras Pereira da Silva, de 63 anos.

Sentada em uma cadeira — trazida de casa para garantir um bom lugar mesmo que no meio da rua —, ela conta que o Coral é uma tradição pessoal que, mais para frente, compartilhou com o marido. "Eu me programo para vir sempre que posso, faço questão. É muito lindo, é muito bem-feito, é uma tradição. Eu me surpreendo a cada ano", completa.

Michele, moradora de Curitiba, de 41 anos, trouxe a família para compartilhar o momento. "Fazia oito anos que não vinha, mas voltei para apresentar o Coral para o meu segundo filho. Chegamos cedo, porque agora que voltou ao presencial, eu queria apresentar para o meu filho isso daqui", salientou ela.

Depois da apresentação, o público se dispersou devagar. Teve gente abraçando quem nem conhecia, uma união entre a esperança e o sentimento do Natal e a tradição de passar o tempo de olho nas crianças das janelas do Palácio Avenida. Algo único da cidade e que movimenta milhares de curitibanos e turistas ao centro da cidade.

Da janela para dentro: uma realidade diferente

Enquanto o prédio é iluminado com luzes natalinas e uma projeção interativa do lado de fora, é da janela para dentro que o Coral do Palácio da Avenida ganha, de fato, vida.

Em 32 anos de história, o Coral sempre foi produzido e financiado por bancos. Hoje, é um projeto do Bradesco, mas também já pertenceu ao Banco Bamerindus e ao HSBC, sempre com o mesmo caráter social: trazer crianças em situação de vulnerabilidade para transformar a vida delas, abrir portas e possibilidades e proporcionar, por alguns dias, um protagonismo muito único.

Neste ano, 80 crianças de Casas Lar — a maior parte delas, órfãs — participaram do Coral e tiveram uma janela para dançar e cantar a plenos pulmões. Acompanhando os menores, cada criança também tinha um "anjo" (voluntário) que a conheceu algumas semanas antes nos ensaios e tomou responsabilidade por elas no espetáculo.

"Desde 2013 eu sou um dos 'anjos' que ficam por aqui. É uma experiência muito boa, porque cada ano você fica com uma criança diferente. É uma troca de energia que é impagável, inexplicável. É uma sinergia total, de entrega tanto de quem é voluntário quanto da própria criança", diz Lucienne, uma das funcionárias do Bradesco que faz parte do voluntariado.

Para a apresentação deste fim de semana, ela ficou responsável pela pequena Eloá, de 11 anos. "Eu gosto muito de vir aqui, só vim ano passado, mas foi numa tela verde. Me traz alegria, me traz esperança. Não faço por obrigação, eu faço porque eu gosto, é uma oportunidade que não é todo mundo que tem", diz ela.

Ao todo, são 100 'anjos' responsáveis pelas 80 crianças, junto de todos os outros envolvidos na produção, curadoria e detalhamento do espetáculo. Os anjos são treinados pelos bombeiros para trazer um show seguro para as crianças na janela — presas por cintos de segurança — e por psicólogos para auxiliar o relacionamento saudável com os pequenos.

"A gente passa por um treinamento logo e muito importante para poder fazer esse traquejo com a criança. Nós aprendemos a tornar esse momento divertido para a gente, claro, mas o mais especial possível para elas [crianças], porque são elas as grandes protagonistas. E é lindo demais essa troca", acrescenta Luciene.

Glaucimar Peticov, diretora executiva no Bradesco, também salientou que o projeto do Palácio Avenida foi uma aquisição do banco não apenas necessária para a tradição da cidade, mas também por se integrar ao DNA da companhia. "Esse caráter mais social é um desejo nosso também como banco. A gente encara isso como parte do nosso DNA, da nossa cultura desde o início. Então, além de parte da história de Curitiba, esse projeto também é um pedaço daquilo que construímos com as crianças e com os nossos 'anjos'", finalizou ela.

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Há anos, o projeto tem uma assinatura especial: a da Dulce

Dulce, a maestrina, aos 81 anos (Claudemir de Santi)

Para o Coral, participam crianças de até 14 anos, comandadas por uma maestrina especial: Dulce Primo, de 81 anos.

Há 29 anos, ela está à frente da curadoria das músicas do Coral e traz uma grande inspiração não somente para as crianças ali presentes, para todo mundo que participa da produção do espetáculo.

"Aquela história do ditado que diz que 'o que você planta, você colhe depois' faz muito sentido, ainda mas quando se fala de amor. Esse sentimento vai te conduzindo, e comigo foi muito assim, você exterioriza esse amor de forma que você possa fazer uma onda forte nesse universo", disse Dulce.

A maestrina é uma grande inspiração para quem participa do projeto e acrescenta que a energia, mesmo aos 81 anos, é uma troca fundamental para que o Coral persista por tantos anos. "Se eu tô aqui hoje é porque eu sou movida por essas crianças. É uma troca: eu aqui me sinto com 12 anos, porque a troca da energia é grande. Aqui não sou idosa, eu sou uma parte desse projeto", finaliza.

Essa vitalidade contagia até mesmo quem já foi coralista e, de alguma forma, retornou ao projeto. É o caso das auxiliares Ana Caroline Marques (27 anos) e Natasha Maguiga (25 anos), que foram quando crianças protagonistas do Coral.

"São mais de 15 anos como coralista e agora a gente trabalha diretamente com a Dulce. Fizemos faculdade de música para estar aqui e é um retorno muito único para a gente, porque isso não fica só aqui. Minha família vinha me ver quando eu era criança e ficava na janela, mas hoje também vem assistir esse projeto com outras crianças, mas que eu ainda faço parte", explica Natasha.

"A Dulce nos ensinou muito na nossa vida. Aprendemos com ela quando criança, mas a gente continua aprendendo hoje também, é um ciclo muito especial para mim", complementou Ana Caroline.

Caminhando para seu 24º Coral, a maestrina de 81 anos deixa uma mensagem de esperança. "O que o Palácio Avenida passou, o que o Natal passa e o que as crianças passaram para essas milhares de pessoas que nos assistiram é paz, alegria, amor, esperança de que tudo vai melhorar. É Natal".

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