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Novo normal da moda: desfiles virtuais, novos nomes e aglomeração comedida

Circuito ocidental de desfiles começou neste fim de semana em Nova York e se estende a Milão e Paris até outubro

Modelo desfila na NYFW,  em setembro de 2020 (Ilya S. Savenok/Getty Images)

Modelo desfila na NYFW, em setembro de 2020 (Ilya S. Savenok/Getty Images)

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Daniel Salles

Publicado em 14 de setembro de 2020 às 14h09.

Última atualização em 14 de setembro de 2020 às 15h54.

O que você vai vestir, ou querer vestir, no próximo ano? É a essa pergunta que as semanas de moda bianuais pretendem responder no circuito ocidental de desfiles, que começou neste fim de semana em Nova York, parte para Londres dia 18 e, depois, se estende a Milão e Paris até outubro.

Mas, diferentemente do que ocorria na pré-pandemia, quando as apresentações das maiores grifes do mundo eram presenciais e movimentavam a atenção da mídia, dos compradores e dos curiosos de plantão, este novo “mês da moda” será essencialmente digital e vai servir de termômetro para medir o alcance do interesse dos fashionistas sobre essas novidades.

Novidades. Bem, talvez essa não seja a melhor palavra para definir o que será visto. Num momento que se discute a relevância de se lançar tendências num mundo que sai pouco de casa, e não deve voltar ao antigo normal de festas, eventos e encontros até pelo menos o próximo ano, as grifes devem investir mais num feijão com arroz de luxo do que exatamente quebras de padrão.

O recado foi logo dado por Jason Wu, o estilista que abriu a Semana de Moda de Nova York, no domingo, 13, no alto de um prédio de Tribeca, em Nova York, montado como uma floresta de árvores e passarela sem audiência visível.

Transmitido online, o “show”, como o pessoal da moda gosta de chamar essas apresentações, foi um emaranhado de roupas soltas, de cores elétricas e estampadas para passeios que, por ora, podem estar vetados em alguns países.

Esse descolamento da realidade é chamado de “escapismo”, algo muito comum de acontecer em momentos de estresse ou mudança comportamental na sociedade. Foi assim quando explodiu a crise de 2008, um momento de cores vivas na passarela para espantar o mau humor. Wu é desses que acreditam que a vida na crise pode ser melhor quando se combina alfaiataria a saias esvoaçantes, estampas de girassol para dias melhores e sandálias de solado baixo para andar sem dor.

Foi, e será, um dos poucos que montaram uma passarela nesta semana americana. Nesta segunda, a grife Carolina Herrera exibiu online uma entrevista — sim, um filme documentário — entre a estilista venezuelana e o estilista de sua marca, Wes Gordon. É um formato de transmissão de conteúdo que, talvez, não chegue a ter o impacto de uma passarela, mas respeita os tônus do momento.

Haverá apresentações ao vivo, algumas com público reduzido, de desconhecidos como Rebecca Minkoff e Eckaus Latta, e também de medalhões, como o estilista Tom Ford, na quarta-feira, 16, numa transmissão ao vivo para a plataforma Runway360, criada apenas para exibir os desfiles e pseudodesfiles dessa semana nova-iorquina atípica.

Ela acaba, aliás, fora de Manhattan, em Connecticut, quando Christian Siriano levará suas roupas e câmeras para desfilar ao ar livre sua nova coleção, encerrando os trabalhos na quinta, 17. Gigantes da imagem como Marc Jacobs, Michael Kors e Oscar de La Renta não vão participar.

O mesmo padrão de desfiles online acontece em Londres. A Burberry abriria com um desfile reduzido em público, mas nova determinações do governo britânico impediram que convidados se aglomerem. Vai transmitir sua performance ao ar livre.

Nomes desconhecidos do grande público, mas adorados pela indústria da moda, como JW Anderson, Christopher Kane e Richard Quinn, devem apostar em filmes, conteúdos online e apresentações com hora marcada na própria arara. O negócio da moda não parou, ele só se transformou.

É em Milão e Paris, porém, onde as expectativas recaem mais fortemente para como as grifes devem lidar com o distanciamento. Enquanto Saint Laurent, na capital francesa, e Gucci, na cidade italiana, serão baixas expressivas no calendário oficial, Chanel, Louis Vuitton, Hermés, Valentino, Balmain, Miu Miu e Dior devem esquentar o calendário europeu com apresentações ao vivo.

Uma das estreias mais aguardadas seria do estilista Matthew Williams na direção criativa da Givenchy, mas a marca cancelou a festa porque não seria possível reunir os convidados — e, assim, causar o burburinho necessário — da primeira coleção que marca o retorno da grife ao “streetwear” desde a saída do estilista italiano Riccardo Tisci da marca.

Em Milão, porém, a Prada não cancelou a estreia ao vivo do belga Raf Simons na cocriação da grife ao lado de Miuccia Prada. É, sem dúvida, o desfile mais aguardado da temporada porque, além de se tratar de dois nomes fortes da costura mundial, vai definir os caminhos da Prada nas araras após anos seguidos de perdas na vendas.

NYFW: o novo "normal" na temporada de desfiles (Ilya S. Savenok/Getty Images)

Para a grife Boss, Milão será palco do retorno da marca ao solo europeu, para Emporio Armani e Giorgio Armani, um momento de testar seu poder de fogo transmitindo online as criações de seu fundador. E para a Fendi, um teste ainda maior ao desfilar a evolução de seu estilo após a morte de Karl Lagerfeld, em fevereiro do ano passado.

Haverá outros desfiles que prometem imagens fortes, como os da Dolce & Gabbana, dia 23, e Valentino, 27, que saiu de Paris só nesta temporada para dar uma força ao combalido mercado italiano pós-pandemia.

É essa ideia de estender a mão aos mercados de luxo que o grupo LVMH pensou ao não cancelar as apresentações de suas marcas mais fortes. A Louis Vuitton encerra a temporada, como sempre, em desfile ao vivo e presencial no dia 3 de outubro. Antes dela, a Dior irá apresentar as novas roupas de Maria Grazia Chiuri no dia 29. Celine, porém, estará fora, fechada para balanço.

Paris se vale de estreias suntuosas para um calendário defasado. Dez marcas desfilarão pela primeira vez na programação, trazendo uma nova cara para o mercado tradicionalista francês. Parte delas já ganhou o Prêmio LVMH, concedido pelo grupo aos jovens talentos da indústria, como é o caso da moda inspirada em movimentos culturais da Wales Bonner, o unissex desconstruído da Vejas, e a mistura de classicismo e estética urbana da grife belga Ester Manas.

Uma das mais aguardadas é a primeira coleção desfilada em Paris de Gabriela Hearst, estilista uruguaia que dominou as atenções nas últimas semanas de moda de Nova York. Seu trunfo é uma moda feita sem pressa, clássica mas de apelo moderno, que agrada à elite internacional.

Será mesmo uma temporada de renovação em várias frentes, tanto de estilo quanto de formatos de comunicação. O que estará em xeque é a manutenção da ideia de que é preciso desfilar roupas para que elas se tornem relevantes, mas, a depender do esforço das federações e associações que controlam a indústria, o desfile não deve nem tão cedo ser suplantado pelas tais “ativações digitais”. As marcas já tentaram em julho nos desfiles masculinos e de alta-costura, e, ao que parece, não deu nada certo.

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