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No aniversário de Interlagos, um mural em homenagem a Ayrton Senna

Mural do grafiteiro Kobra, revelado em primeira mão pela EXAME, celebra os 80 anos do autódromo

SENNA: mural feito em homenagem ao piloto no aniversário de Interlagos (Interlagos/Divulgação)

SENNA: mural feito em homenagem ao piloto no aniversário de Interlagos (Interlagos/Divulgação)

Rodrigo França

Rodrigo França

Publicado em 12 de maio de 2020 às 06h50.

Última atualização em 12 de maio de 2020 às 13h32.

A Fórmula 1 pretende retomar sua “nova vida normal” em menos de dois meses: o primeiro GP de 2020 já tem até data anunciada, no circuito de Red Bull Ring, na Áustria, em 5 de julho, com portões fechados. O restante do calendário, no entanto, segue em aberto e isso inclui o Grande Prêmio Brasil – previsto ainda na data de 15 de novembro, no palco tradicional de Interlagos, que hoje completa exatos 80 anos.

Para comemorar os 80 anos do autódromo, um dos destaques será a inauguração do novo mural desenhado pelo artista Kobra em homenagem a Ayrton Senna, destacando sua vitória histórica na prova de 1991, quando guiou apenas com a sexta marcha nas voltas finais. O painel será apresentado às 17h – mas revelamos aqui as informações e as imagens com exclusividade.

O muralista Eduardo Kobra preparou um mural para homenagear Ayrton Senna no Autódromo de Interlagos, onde o piloto brasileiro fez história com duas notáveis conquistas na F-1, em 1991 e 1993. A Secretaria Municipal de Turismo, responsável pela gestão do local, cedeu uma empena no local para a realização da obra, que tem 27 metros de altura por 10 metros de largura.  O lançamento virtual está marcado para a próxima terça-feira, 12 de maio, às 17h00, por meio de uma live nas páginas oficiais de Ayrton Senna no Facebook e no Instagram.

A obra foi concluída em março, mas devido à pandemia optou-se por fazer o lançamento no dia 12 de maio, data do aniversário de 80 anos de Interlagos, cujo nome oficial é José Carlos Pace, em homenagem a outro grande piloto brasileiro.

Senna é uma das grandes referências de Kobra. É o “personagem” que mais aparece nas obras do conhecido artista urbano brasileiro: são 11 murais, além de uma tela, de pequeno, médio e grande porte, o último deles no autódromo de Ímola, na Itália.

A escola Interlagos

É graças ao autódromo paulistano que o Brasil figura como protagonista nas estatísticas do esporte mais caro e global do planeta, a Fórmula 1. Afinal, você já parou para pensar como um país como o nosso, com oito títulos mundiais, supera potências mundiais do automobilismo, que tem uma tradição muito maior de indústria automobilística, como França e Itália?

Esse sucesso começou a saltar aos olhos do mundo quando Emerson Fittipaldi passou a ganhar as provas de Fórmula 1 e seus dois títulos mundiais, em 1972 e 1974. E teria o auge nos anos 1980/90, com Nelson Piquet e Ayrton Senna praticando um domínio histórico do Brasil na categoria: 6 títulos em dez anos, entre 1981 e 1991. Questionado uma vez pela reportagem de EXAME, o tricampeão Jackie Stewart arriscou um palpite para essa supremacia. “Deve ter alguma coisa na água”, brincou, na ocasião. Mas a resposta certa é uma só: Interlagos.

Em uma era em que não havia simuladores e os pilotos precisavam chegar preparados à Europa, o traçado tecnicamente perfeito de Interlagos fazia com que os brasileiros tivessem uma ótima formação básica. “Quem guiasse bem no autódromo paulistano teria sucesso em qualquer circuito do mundo”, diz o bicampeão Emerson Fittipaldi.

Vale lembrar que, de 1940 a 1990, foi neste seletivo traçado de quase 8 km (reduzido a 4,3 km após reforma em 1990) onde a história do automobilismo brasileiro começou a decolar rumo ao sucesso nas pistas do planeta. Mesmo pilotos de outros estados, como Nelson Piquet, brilharam nas categorias de base em Interlagos. E até mesmo outra importante parte do complexo ajudou a formar nossos mais novos talentos: o kartódromo de Interlagos, onde Ayrton Senna fez suas primeiras competições e moldou sua genialidade de piloto já como um dos maiores destaques do mundo no kartismo, antes de iniciar as competições na Europa.

O futuro de Interlagos

Com o início dos anos 2020, o Brasil não tem representantes no grid, é verdade – são dois os pilotos de testes do país que buscam uma vaga nos próximos anos, com Sergio Sette Camara na Red Bull e Pietro Fittipaldi na Haas. Mas eis que Interlagos cumpre nas últimas décadas outro importante papel: o de manter o Brasil no mapa da Fórmula 1 – literalmente. Desde 1990, quando o próprio Senna ajudou a reformar a pista às pressas para que o país não perdesse seu GP após problemas com Jacarepaguá, Interlagos nunca mais saiu do calendário e é um dos circuitos que mais recebeu provas da Fórmula 1, atrás apenas de templos da velocidade como Monza, Silverstone e Spa-Francorchamps.

Mesmo não tendo mais aquele incrível traçado técnico de 8km, Interlagos segue proporcionando algumas das melhores corridas do ano. E é uma das favoritas dos pilotos, justamente por sua cara old school, com a proximidade do público nas arquibancadas, atmosfera vibrante e corridas sempre com ultrapassagens. Até a chuva costuma ser um ingrediente extra de Interlagos.

Na economia, a pista paulistana projeta o Brasil internacionalmente ao ser a sede do maior evento esportivo do País, movimentando mais de 361 milhões de reais, segundo a SPTuris, empresa municipal de turismo que administra o autódromo em divulgação no último GP Brasil de Fórmula 1, em novembro de 2019.

Confira, a seguir, alguns fatos curiosos sobre o autódromo paulistano.

Oito curiosidades dos 80 anos de Interlagos

1- Interlagos é assim batizado porque sua região é cercada por duas grandes represas, a Billings e a Guarapiranga.

2- O primeiro GP disputado em Interlagos foi vencido por Arthur Nascimento Junior, com um Alfa Romeo, a média horária de 115 km/h, praticamente a metade da média atual.

3- Quando inaugurado, o autódromo tinha capacidade para receber cerca de 250 mil pessoas ao longo do circuito, que tinha originalmente 7.960 metros. Acampamentos e pessoas espalhadas nos barrancos eram comuns até mesmo nos GPs de F-1 dos anos 1970. Na reforma realizada para receber novamente a F-1, em 1990, a extensão passou para 4.325 metros.

4- Considerado louco por seguir adiante com o empreendimento em Interlagos, o engenheiro britânico Louis Romero Sanson, que construiu o autódromo, também foi responsável por outras grandes obras naquele período de desenvolvimento urbano de São Paulo, como o aeroporto de Congonhas e a rodovia Anchieta, ligando a capital à Baixada Santista

5- Em 1957, outra prova tradicional teve início: os “500 KM de Interlagos”. Com um detalhe: os carros corriam no anel externo, de 3,2 km, praticamente um oval de alta velocidade, para ter características parecidas com os circuitos norte-americanos.

6- Antes de ser reformado para voltar a receber à F-1, em 1990, houve quem defendesse que o autódromo deveria ser desativado para dar lugar à construção de casas populares.

7- A curva do Laranja (batizada agora de Laranjinha) recebe este nome porque os “laranjas” (na antiga gíria dos pilotos) não faziam o contorno com o pé fundo no acelerador, por ser uma curva cega e desafiadora.

8- Interlagos testemunhou seis vitórias brasileiras na F-1: Fittipaldi (1973-1974), José Carlos Pace (1975), Senna (1991 e 1993) e Felipe Massa (2006-2008).

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