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Marina Ruy Barbosa quer mudar o mercado de moda com sua marca própria

A Ginger traz peças atemporais feitas com materiais sustentáveis. A atriz escolheu um nome diferente do seu para a grife por uma razão: ela não descarta vender a empresa no futuro

Marina Ruy Barbosa

Foto: Germano Lüders 
07/12/2020 (Germano Lüders/Exame)

Marina Ruy Barbosa Foto: Germano Lüders 07/12/2020 (Germano Lüders/Exame)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 14 de fevereiro de 2021 às 07h00.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2021 às 13h16.

Em menos de um ano, Marina Ruy Barbosa, de 25 anos, transformou sua grife de moda, a Ginger, apontada como uma das 50 startups  que vão mudar o Brasil, num furacão do varejo. Ela conseguiu esgotar o estoque de 1.200 peças de sua primeira coleção — em março sairá a terceira — em apenas 12 horas no ar, em julho passado.

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O lançamento amealhou 4,5 milhões de reais em mídia espontânea, descontado o impacto nos 37 milhões de seguidores em seu Instagram. De lá para cá, a carioca que desde os 9 anos trabalha diante câmeras deixou de ser apenas uma atriz para virar um dos cases mais bem-sucedidos de empreendedorismo no meio artístico.

Sua marca se destacou por traduzir a tendência global do slow fashion, o contrário do fast fashion e cuja ideia é quebrar o padrão de lançamentos sazonais para colocar à venda cápsulas, pequenas coleções feitas com a matéria-prima mais sustentável possível — há desde algodão certificado até jeans de fibra reciclada — e com estética alheia ao fluxo de tendências.

A publicitária Vanessa Ribeiro e o diretor de estilo Leandro Benites formam com ela o time que leva para o papel a cartela de cores enxuta, os decotes sinuosos e as formas básicas que revelam e escondem a pele sem tirar o foco do conjunto.

Quatro meses depois da estreia, a nova empresária do pedaço havia conquistado um cargo executivo no grupo Arezzo, gigante da B3 que a contratou como curadora e diretora criativa para plataformas sociais do recém-lançado marketplace ZZ Mall.

“Na Ginger tenho uma visão de marca e um time para encontrar olhares sem restrições, nos quais me permito ousar, ser mais solta. Nos trabalhos para o grupo Arezzo, concilio o que acredito com as estratégias daquela marca, com responsabilidade de números e metas. Tento fazer com que os conteúdos sejam harmônicos, que tenham minha cara, mas cada um tem seu destaque”, diz Marina.

O crachá nem havia esquentado no pescoço e, antes do Natal, a primeira colaboração da Ginger com outra marca, a Schutz, já abocanhava 15% da receita daquele mês nas planilhas desta que é uma das marcas de maior giro do grupo. “Ligaram dizendo que eu podia ficar feliz, a coleção havia superado todas as expectativas”, afirma.

Foram 3.000 pares de calçados, 500 bolsas e 300 peças de roupas em menos de uma semana, segundo a empresa, com uma taxa de conversão de 46% por meio dos acessos no e-commerce da Schutz.

Embora só agora tenha embarcado no varejo de moda, há anos ela faz “estágio” na área. Já desfilou para a Dolce & Gabbana em Milão, assina desde 2017 uma coleção com seu nome para a linha Life da joalheria Vivara e dá pitacos — acatados — em todas as campanhas nas quais atua.

“Não gosto do termo garota-propaganda, porque ele não faz mais sentido. É um pensamento antigo achar que uma celebridade tenha de se encaixar num roteiro, mudar a personalidade com a missão de soar natural. Não tem de soar, tem de ser real”, diz Marina, reproduzindo o mantra da nova geração do marketing de influência.

Por isso também, e diz, “não apenas pelo dinheiro”, seus contratos não duram menos de um ano. “Porque acredito nos relacionamentos. Por muito tempo estive envolvida no marketing, no backstage e na criação do mistério. É importante para mim os clientes sentirem que sou boa escolha.”

A divisão das personas é uma estratégia conduzida com mãos de ferro pela empresária. Ao contrário de seus pares da nova geração de atrizes, Marina Ruy Barbosa encontrou uma via diferente para diversificar sua trajetória sem que, para isso, precisasse abdicar do contrato com a TV Globo ou buscar em outros lugares os tais “novos desafios” usados para justificar rupturas.

“Estava tudo certo na minha vida, mas tinha guardado esse desejo de empreender. Existia uma ideia de que a mulher não poderia querer tudo, mas isso de colocá-la numa caixinha não é mais aceita. Não é que cansa ser uma coisa só, mas ser atriz me deu oportunidade de enxergar além. De alguma forma, acho que esse sentimento tem a ver com minha geração.”

Isso só foi possível, ela sabe, porque chegou “num nível de relação lá dentro [da Globo] que, depois de emendar várias novelas”, ganhou “liberdade para não aceitar alguns trabalhos que não façam sentido para a carreira e esperar um personagem que faça”.

A espera para que as coisas apareçam na hora certa não parece mesmo incomodá-la, e isso é outro ponto que diferencia sua trajetória na Ginger. Enquanto marcas de celebridades costumam levar nomes próprios para agilizar a percepção do público sobre aquela grife, a dela foi construída como um ser à parte, não uma extensão do ego.

Assim como faz com sua carteira de investimentos, uma combinação de dois fundos multimercados, “um conservador e outro arriscado”, além “de ações no Brasil e no exterior com foco em ESG”, houve estratégia no batismo da marca.

Uma amiga estilista –Marina não revela qual– passou a ser assediada por investidores interessados em comprar parte de sua grife homônima. Durante os trâmites do negócio, ela percebeu que estava pondo à venda parte do seu nome para pessoas que havia acabado de conhecer.

“Essa conversa ficou na minha cabeça. A gente nunca sabe como o mercado vai se comportar, e ainda que vender a Ginger não seja um plano de curto prazo, acredito que fazer boas escolhas é também pensar em todas as possibilidades sem se arrepender delas depois.”

Papo de atriz? Está mais para de CEO.

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