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Ex-vendedora de chips da Tim estampa 3 capas da "Vogue" em 5 meses

A paraense Emilly Nunes foi descoberta em setembro de 2019 e se mudou para São Paulo em fevereiro; de lá para cá, foi capa da "Vogue" no Brasil e Portugal

Moda: até setembro passado, Emilly Nunes vendia chips de celular nas ruas de Belém.  (Emilly Nunes/Reprodução)

Moda: até setembro passado, Emilly Nunes vendia chips de celular nas ruas de Belém. (Emilly Nunes/Reprodução)

MD

Matheus Doliveira

Publicado em 23 de outubro de 2020 às 15h11.

Última atualização em 23 de outubro de 2020 às 16h37.

Milhares de meninas ao redor do mundo sonham em ser modelo. Milhares de meninas ao redor do mundo também sonham em estampar uma capa da Vogue. Para a paraense Emilly Nunes, que até o mês de setembro do ano passado vendia chips de celular nas ruas de Belém, o sonho foi realizado em dose tripla. Com pouco mais de um ano de carreira, a jovem de 22 anos já fez três capas para a icônica revista de moda em um intervalo de cinco meses.

Além de vendedora de chips, coisa que sua mãe ainda faz, Emilly também trabalhou como caixa de supermercado antes de ser descoberta pelo olheiro Vivaldo Marques em um evento de moda em Belém."Mesmo depois de ser descoberta, não imaginava que tudo seria tão rápido. A primeira Vogue foi em junho, falando sobre o Pará como um todo. Eu fiz as fotos em casa com a ajuda da minha mãe e de um amigo, porque Belém estava em lockdown. Em setembro, dividi a capa com indígenas, e isso foi muito importante para mim porque ajudou a relembrar minhas raízes. Esse mês, veio a capa da Vogue Portugal", diz. 

Descendente de indígenas, a modelo que foi criada pelas avós enquanto a mãe trabalhava cultiva até hoje tradições que passaram de geração em geração na família, como fazer farinha e pescar em Salvaterra, município da ilha do Marajó, no Pará. O gosto pela moda veio da mãe, dona do título Mulher Eco Pará 2007, que sempre incentivou a filha a mergulhar nesse universo.

Capa de outubro da Vogue Portugal (Vogue)

À CASUAL, Emilly falou sobre sua mudança brusca de profissão, sobre seus projetos atuais e planos futuros. Confira os principais trechos:

Como você foi descoberta e como era sua vida antes disso? 

Já trabalhei como caixa de supermercado e também vendendo chips de celular, mas eu sempre quis mesmo era ser modelo. Em setembro do ano passado, houve um evento de moda com um monte de agenciadores em Belém. Foi quando o Vivaldo Marques me descobriu e me apresentou à agência Way Model. Em fevereiro, eu já estava me mudando para São Paulo. Foi tudo muito rápido. Às vezes me pego pensando em tudo que vem acontecendo e parece que estou vivendo um sonho. Modelo eu sempre quis ser, mas nunca tive muitas oportunidades. Quando surgiu a chance, eu sabia que tinha de agarrá-la com unhas e dentes. 

Como era vender chips de celular na rua?

Minha mãe ainda trabalha com isso, e foi ela quem me colocou nesse emprego. Enquanto a oportunidade de virar modelo profissional não vinha, eu precisava trabalhar, até mesmo para ajudar nas contas de casa. Era uma das coisas que eu mais gostava de fazer, porque eu aprendi muito com esse emprego, que me fez evoluir como pessoa. Sou muito grata pelo meu antigo trabalho, mais ainda pelo atual. 

Emilly Nunes: "Sou muito grata pelo meu antigo trabalho, mais ainda pelo atual" (Hudson Rennan/Reprodução)

Quem são suas referências? 

Como toda garota com o sonho de ser modelo, desde muito pequena eu admirava muito a Gisele Bündchen, dizia que queria ser ela. Quando cresci, queria muito conhecer a Carol Trentini, o que aconteceu em uma campanha que fizemos juntas. Mas meu maior espelho sempre foi minha mãe. Foi ela quem me incentivou na moda. Em 2007, ela ganhou o concurso de Mulher Eco Pará, isso é muito marcante para mim. Tem uma história curiosa de quando eu era pequena. Minha mãe me levou no shopping para comprar um tênis, mas em vez disso, eu fiz birra para ganhar uma sandália com um pequeno salto. Em casa, andava com ele fingindo que desfilava. 

Como foi estampar a Vogue três vezes no mesmo ano? 

Eu sempre falava para minha mãe que meu sonho era aparecer na Vogue. Mesmo depois de ser descoberta, não imaginava que tudo seria tão rápido. A primeira Vogue foi em junho, falando sobre o Pará como um todo. Eu fiz as fotos em casa com a ajuda da minha mãe e de um amigo, porque Belém estava em lockdown. Em setembro, dividi a capa com indígenas, e isso foi muito importante para mim porque ajudou a relembrar minhas raízes. Esse mês, veio a capa da Vogue Portugal. Eu tinha ido na agência para fazer algumas fotos de rotina. Meu agente me avisou que eu tinha um ensaio. A princípio, seriam fotos dentro da revista. Quando a revista estava perto de sair, eu soube que fui escolhida como capa e meu coração ficou a mil. Eu dormia e acordava pensando nas fotos. 

Emilly Nunes: "Meu maior espelho sempre foi minha mãe" (Zee Nunes/Reprodução)

Quais serão os próximos passos?

Eu tenho focado bastante em aprender inglês, porque meu plano é viajar para fora. Quero fazer tudo o que vier e levar a beleza da mulher amazônica muito mais longe. Acho que tudo isso que aconteceu neste ano é só o começo. Todos os dias eu recebo muitas mensagens de meninas do Belém falando que se sentem representadas por mim. Isso é muito gratificante. Nada paga esse reconhecimento do meu povo. Eu vou sempre representá-lo. Claro que ainda tem muito caminho, mas hoje estou mais próxima disso. 

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