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Vale a pena importar executivos, em vez de contratar aqui?

A elevada remuneração do executivo brasileiro aliada à escassez de conhecimento em determinados níveis faz da contratação de estrangeiros uma opção interessante


	Majo Campos (de preto), diretora executiva de RH da Atento, ao lado das executivas espanholas Stephanie Fazis e Carmen de la Mata: expatriação trouxe mais experiência com um custo mais baixo
 (Marcelo Spatafora)

Majo Campos (de preto), diretora executiva de RH da Atento, ao lado das executivas espanholas Stephanie Fazis e Carmen de la Mata: expatriação trouxe mais experiência com um custo mais baixo (Marcelo Spatafora)

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Da Redação

Publicado em 28 de novembro de 2013 às 18h52.

São Paulo - Após iniciar uma busca interna para preen­cher a posição de chief executive officer (CEO) no começo do ano, Majo Campos, diretora executiva de recursos humanos da Atento, achou o candidato perfeito. Ele estava dentro da empresa, mas fora do país.

“Descobrimos que tínhamos executivos lá fora mais bem preparados e com potencial para assumir essa posição”, diz Majo. “Se fôssemos buscar no mercado brasileiro, demoraríamos para encontrar alguém com o perfil desejado.” A surpresa maior foi quando, depois de alguns cálculos, chegou-se à conclusão de que a expatriação valia mais a pena, inclusive no aspecto financeiro.

Stephanie Jerg Fazis, que veio da Espanha, chegou ao Brasil com o salário de diretora executiva de finanças da Atento espanhola, que está de 20% a 25% menor do que o praticado aqui. “Nesse tipo de processo, oferecemos um salário praticado na região em que o profissional atua.

Afinal, quando ele voltar ao país de origem, não poderá sofrer uma queda na remuneração.” A diferença está no pacote de benefícios oferecido à executiva, mais completo do que o da Espanha, para dar conta de suprir todas as necessidades num país onde o custo de vida é um dos mais altos do mundo.

Ainda assim, importar foi tão mais vantajoso do que admitir alguém da região que, em maio, a Atento chamou outra executiva estrangeira – a também espanhola Carmen Ingelmo de la Mata – para assumir o cargo de diretora executiva jurídica da companhia. 

A conta feita por Majo já está na mesa de muitos executivos de recursos humanos com a missão de trazer gente boa com um custo adequado para sua empresa. O que não tem sido fácil. Com a falta de gente preparada para muitas funções, os poucos que sobram no mercado brasileiro estão com salários inflacionados.

“Temos um histórico de escassez de mão de obra executiva capacitada, mas nos últimos anos o cenário ficou dramático”, diz Carlos Siqueira, diretor e líder da área de remuneração para a América Latina do Hay Group. “Se o mercado se torna restrito, os profissionais são mais disputados e, consequentemente, têm salário mais alto.”


De acordo com o último levantamento realizado pela consultoria, de 2001 a 2011 o valor do salário com bônus para altos cargos aumentou 2,8 vezes no país, enquanto nos Estados Unidos e na Grã Bretanha o aumento foi de 1,4 e 1,7, respectivamente.

Na mesma pesquisa, verificou-se que a remuneração no alto nível gerencial era, em média, de 57 800 dólares por ano em 2001, o que representava quase a metade do valor pago aos executivos americanos, cuja média ficava em 112 000 dólares por ano. Hoje, no entanto, a média salarial brasileira está 5% maior do que a americana. Não à toa, a saída encontrada por Majo tem sido adotada por outros profissionais de RH. 

A consultoria Michael Page, especializada em contratar executivos, também decidiu abrir suas próprias portas para alguns gringos nos últimos dois anos. Em agosto de 2011, contratou o português João Nunes para assumir a posição de gerente executivo – promovido há um ano a diretor.

Logo depois, foi a vez de Sebastian Domingues deixar a Argentina para ocupar o posto de gerente da divisão de finanças da consultoria. “Tanto para Domingues quanto para a Michael Page, a questão financeira foi interessante. Ele ganha mais do que em seu país de origem e nós, além do baixo custo, pudemos trazer um profissional de maior especialização”, diz Leonardo de Souza, diretor executivo da Michael Page. 

Se colocado na ponta do lápis, é claro que expatriar um executivo não é necessariamente mais barato do que contratar um local. A questão toda gira em torno do custo-benefício do processo. “Hoje, um executivo brasileiro ganha de 10% a 20% a mais do que um na Europa”, diz Souza. “Mas não é apenas a questão financeira o obstáculo.

Há uma restrição de executivos capacitados. São as mesmas figuras que se repetem e são disputadas pelo mercado que, às vezes, usa o salário como fator de atração.” 

Ter a oportunidade de trazer pessoas mais gabaritadas por um custo acessível é um benefício embutido no processo que deve ser avaliado na hora de fazer as contas. Mauro Mariz, diretor de RH do Grupo Guararapes, detentor da Lojas Riachuelo, não pensou duas vezes na hora de escolher um diretor de inovação.


“A melhor opção era importar”, diz ele. Como a rede de lojas de departamento vive um momento de mudança no estilo de negócio – o objetivo da marca é se tornar referência no mercado de fast fashion no Brasil –, a solução foi trazer alguém com muita experiência no assunto.

Ao escolher o espanhol Ramón Gago, ex-diretor comercial da Inditex – Industria de Diseño Textil S.A. –, Mariz foi surpreendido ao checar o salário do executivo. “Não imaginávamos que, seguindo a política de remuneração da Riachuelo, conseguiríamos contratar um estrangeiro”, afirma Mariz.

A experiência foi tão positiva que, neste ano, mais um gringo está no processo de integração do grupo. Vinda também da Espanha, Madelena Roeber ocupará em agosto o cargo de gerente de produtos da Riachuelo. 


Executivos imigrantes 

O cenário atraente tanto para as empresas que buscam profissionais experientes a um custo desejável quanto para os executivos que querem sair da crise de seu país tem movimentado a entrada de gringos no Brasil.

Segundo dados divulgados pela Coordenação Geral de Imigração (CGIg), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em 2012 foram concedidas 73 022 autorizações de visto de trabalho a estrangeiros.

Dessas, 64 682 foram temporárias e 8 340, permanentes. Nas autorizações temporárias, o número de vistos destinados ao profissional com vínculo empregatício no Brasil teve crescimento de 26% em relação a 2011.

De acordo com o MTE, essa massa de profissionais que está entrando no país é altamente qualificada e chega para exercer profissões nas áreas de gerência e supervisão de empresas que demandam conhecimento não disponível. 

Para Leonardo de Souza, da Michael Page, a entrada de estrangeiros no país não deve diminuir nos próximos anos. “Enquanto houver uma lacuna de talentos, esse movimento deve continuar. É uma relação de oferta versus demanda”, diz. Se assim for, o mercado de trabalho nacional pode ter outro rosto (e até uma nova cultura) daqui a alguns anos.

Dominique Einhorn, sócio-diretor da Heidrick & Strug­gles, consultoria especializada em recrutamento de altos executivos, é crítico quanto ao volume de estrangeiros ocupando altos cargos por aqui e enxerga nessa onda possíveis conflitos no futuro.

“Quero acreditar que as empresas estão trazendo pessoas com uma capacidade de adaptação mais próxima de nossa cultura, como espanhóis, portugueses e italianos”, diz ­Einhorn. “Ainda assim, pode haver um choque cultural.” Se a vinda desses estrangeiros significa a manutenção do jeito brasileiro de fazer negócios, não há motivos para preocupação.

No ano passado, Portugal e Espanha foram os países que mais receberam vistos de trabalho no Brasil. Houve um aumento de 81% no número de vistos emitidos a portugueses em relação a 2011 e de 53% no caso dos espanhóis. 

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