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Para 70% dos brasileiros, empresas não sabem lidar com saúde mental

Pesquisa da Vittude, plataforma de terapia online, e da Opinion Box ainda apontou um fato curioso: maioria dos brasileiros prefere o trabalho presencial ao home office

 (sorbetto/Getty Images)

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Não é novidade para ninguém que a pandemia de covid-19 levou também a um aumento na discussão sobre saúde mental.  E, agora, ser um empregador com práticas que auxiliam no bem-estar dos funcionários também virou um diferencial na hora de contratar.

Isso porque 72% dos brasileiros escolheriam trabalhar em uma empresa que cuida da saúde mental dos empregados. Os dados são de uma nova pesquisa da Vittude, plataforma de terapia online, em parceria com a empresa de pesquisas de mercado Opinion Box, que ouviu mais de 2 mil pessoas em todas as regiões do país.

Outro achado da pesquisa é que 57% dos respondentes também afirmam que passaram a cuidar mais da saúde mental após a pandemia.

"Antigamente, quando se olha para essa questão de benefícios, as pessoas se preocupavam em trabalhar em uma empresa com um bom plano de saúde. Hoje, elas querem saber se as companhias possuem práticas relacionadas à saúde mental porque, cada vez mais, percebe-se que os convênios são limitados nesse aspecto", diz Tatiana Pimenta, CEO da Vittude.

Ainda segundo a pesquisa, 61% dos entrevistados concordam que o estresse do trabalho já prejudicou a sua saúde mental. Outros 70% afirmam que as empresas não sabem lidar corretamente com a questão.

"As pessoas e, principalmente, as lideranças, de fato, não são preparadas para lidar com saúde mental. Isso porque até pouco tempo atrás não se falava sobre isso no âmbito corporativo, ninguém aprendeu a identificar um transtorno mental num curso executivo", diz Tatiana.

Burnout como doença ocupacional

Entretanto, a empreendedora salienta que tratar a questão mais seriamente vai ser cada vez mais importante por parte das empresas. Não só para contribuir com questões como aumento do engajamento e bem-estar dos funcionários, mas também para evitar processos trabalhistas.

É que, desde janeiro deste ano, com a nova classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome de burnout virou doença de trabalho. Até então, a condição era considerada como uma doença comum.

"Isso muda tudo. Porque, do mesmo jeito que um profissional pode processar a empresa caso sofra um acidente por falta de equipamento de equipamento de proteção, aqueles que desenvolvem quadros de burnout podem acusar as companhias de não terem dados condições de trabalho adequadas, o que gerou a doença. Isso vai se tornar um grande ofensor para todas as organizações", diz Tatiana.

Brasileiro prefere o trabalho presencial

O estudo, em que 82% das respostas foram de pessoas das classes C e D, ainda apontou um algo curioso. Na contramão de pesquisas anteriores, 59% dos respondentes da pesquisa da Vittude disseram que preferem o trabalho presencial em detrimento do home office.

De acordo com eles, ir para o escritório contribui para o bem estar por três principais motivos: porque é importante interagir com outras pessoas (61%), porque valorizam sair de casa e ver outro ambiente (40%) e por fim porque consideram relevante separar a vida profissional do trabalho (40%).

"Muito se falou da preferência do home office, mas temos que ver quem são essas pessoas. A grande maioria dos brasileiros não tem um estrutura para trabalhar de casa. A turma de tecnologia, claro, está saindo dos grandes centros e indo pro interior construir casas enormes. Mas esse não é trabalhador padrão do Brasil", diz Tatiana.

Crescimento acelerado

O crescimento na procura por tratamentos de saúde mental, como psicoterapia e análise, tanto por pessoas físicas quanto empresas tem ajudado no crescimento da Vittude.

Em março, a startup recebeu um aporte série A de R$ 35 milhões, liderado pela gestora de private equity Crescera Capital, que investiu em empresas como Tembici e Rock Content. Atualmente, são 600 mil clientes atendidos pela Vittude, que já realizou mais de 500 mil consultas desde a sua fundação. Ao todo, também são mais de 2900 psicólogos cadastrados na plataforma.

Com clientes como Grupo Boticário, Banco do Brasil, SAP e Telhanorte, há mais de 170 clientes do segmento corporativo da startup. Segundo a Vittude, desde a sua fundação, em 2016, a startup já gerou R$ 32 milhões em renda para os psicólogos cadastrados na plataforma.

Porém, diferente de outras startups do mesmo segmento, o ticket médio das consultas da Vittude é um pouco maior, ficando entre R$ 150 e R$ 350 por consulta. Por isso, a startup defende a teoria de que empresas precisam subsidiar o acesso à saúde mental dos profissionais para ampliar o acesso ao serviço.

"Quando falamos de psiquiatras ou psicoterapeutas, eles são profissionais extremamente especializados que precisam estudar por anos. Isso porque um manejo errado pode colocar em risco a vida do paciente. Eu não acredito que esse modelo de uberização, com valores baixíssimos de consultas, por exemplo, funcione quando falamos de saúde mental", finaliza Tatiana.

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