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21 milhões de brasileiros são seus próprios patrões. E aí?

Descubra como tirar seu sonho do papel, conseguir dinheiro para montar uma empresa e se tornar um empreendedor de sucesso

Mãos "constroem" uma empresa (Ilustração 3D: Otávio Silveira, Foto: Raul Junior/EXAME.com)

Mãos "constroem" uma empresa (Ilustração 3D: Otávio Silveira, Foto: Raul Junior/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 19h34.

São Paulo - Já pensou em deixar a vida corporativa para montar uma empresa? Se sua resposta é “sim”, saiba que não está sozinho. Atualmente, 21 milhões de brasileiros estão à frente do próprio negócio, segundo a Global Entrepreneurship Monitor (GEM), pesquisa internacional sobre a evolução do empreendedorismo em todo o mundo.

É o maior contingente de novos patrões no país desde o início do levantamento, feito há 11 anos. E qual é a motivação de toda essa gente? Apenas 24% alegam a falta de outra opção de renda como razão para criar uma empresa.

Com a economia em ebulição, 76% dos empreendedores acreditam ter garimpado uma boa oportunidade de ganhar dinheiro, ter horários flexíveis e ser, de fato, donos do próprio nariz. Ainda assim, muitos vão sucumbir às agruras da falência. De acordo com o Sebrae-SP, 58% das companhias paulistas fecham as portas antes de completar cinco anos de existência. É uma taxa preocupante, embora bem menor que os 71% registrados no começo da década.

Para ficar fora da turma que vai dar adeus ao sonho da empresa própria em curto prazo, os especialistas são unânimes ao insistir que é preciso buscar um negócio diferenciado dos que já existem no mercado. Poucas pessoas, porém, seguem esse conselho básico e fundamental. Segundo dados do GEM, apenas 7,5% dos empreendedores brasileiros consideram que seu produto é uma nova oferta para os consumidores.

A ausência de criatividade na hora de empreender tem explicação. Na avaliação de Marcos Simões, gerente da Endeavor (entidade de apoio ao empreendedorismo), é comum que os empresários tentem reproduzir à risca modelos de negócios com sucesso já comprovado.

O problema é que, ao oferecer mais do mesmo, as companhias amargam com a alta concorrência e com as magras margens de lucro. Por isso, aos mais afobados o especialista recomenda: “Antes de deixar o emprego, é importante dedicar um bom tempo à identificação e ao planejamento de um negócio diferente, de preferência difícil de ser copiado”. 

A inovação não precisa vir apenas de novos produtos. Novas formas de produção, cobrança, vendas, atendimento ou de identificação do público-alvo também podem garantir o ingresso no time dos empreendedores bem-sucedidos. Seja como for, é impossível criar outras práticas de negócios sem conhecer as já adotadas na praça (saiba como fazer no site do Sebrae-SP). E, também nesse quesito, muitos aspirantes deixam a desejar.

Segundo pesquisa realizada pelo Sebrae-SP, 45% dos empresários paulistas montaram seu empreendimento sem informações sobre as características da futura clientela. E 30% não se deram ao trabalho nem de analisar a concorrência. Para não cair no mesmo erro, vale a pena esmiuçar essas informações em um plano de negócios. 


O documento também tem outras vantagens. Por trazer projeções de receitas e despesas, pode se tornar grande aliado na administração do fluxo de caixa — outro ponto fraco de muitos empreendimentos. “As companhias podem até sobreviver sem lucro, mas não sobrevivem sem caixa”, diz Marcos Hashimoto, coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper (ex-Ibmec-SP).

Se você tem até 100 000 reais para criar uma empresa, conheça quais são as principais alternativas de financiamento e os riscos de um negócio novo, e aprenda a enfrentar as ciladas que surgem na vida de quem vira o próprio patrão. 

Modelo de baixo risco

A franquia é uma boa opção para os empreendedores que querem poucos riscos. Mais de 130 000 unidades de negócios franqueados operam no Brasil. No comando de cada uma delas está gente que prefere modelos de negócio já testados no mercado.

 Quem escolhe uma franquia conta com o fato de que, no universo do franchising, apenas 3% das empresas fecham as portas antes de completar três anos, segundo dados da consultoria Rizzo Franchise, em São Paulo. Só para comparar, entre as pequenas empresas paulistas a taxa de mortalidade salta para 27% nos primeiros três anos de funcionamento.

O especialista Marcus Rizzo, da Rizzo Franchise, enumera outras vantagens: usufruto de marcas conhecidas, treinamento para o franqueado e seus funcionários, ganho de escala na aquisição de mercadorias, acesso a campanhas publicitárias de maior porte e a produtos criados pelo centro de desenvolvimento da rede.

Outro ponto positivo é a facilidade no acesso a financiamento bancário para bancar o início do negócio. Mas o franchising também tem seu lado frágil.

Com custos maiores — resultado da cobrança de royalties, taxa de franquia na assinatura do contrato e taxa de publicidade —, as margens do segmento perdem para as de outras empresas bem-sucedidas.

Além disso, o desempenho do negócio pode sofrer com eventuais deslizes do franqueador. O sistema não é boa opção para quem insiste em pilotar a empresa à própria maneira. “Os empreendedores são independentes, já os franqueados têm de topar ser dirigidos”, diz Marcus.

Seu futuro na rede 

Uma opção nova de negócio que vem crescendo nos últimos anos é o comércio pela internet. Cerca de 27 milhões de brasileiros já fizeram compras pela rede mundial de computadores pelo menos uma vez na vida. No ano passado, essas transações somaram 14,8 bilhões de reais — 40% a mais do que o faturamento do comércio online no ano anterior.

Em 2011, a cifra deve crescer mais 30%, segundo projeções da E-bit, empresa especializada no fornecimento de informações sobre o segmento. Junte a tudo isso o fato de que montar um negócio virtual sai mais barato do que abrir uma empresa convencional. Pronto. Não é de estranhar que a rede mundial de computadores atraia tantos empreendedores. 


A plataforma, no entanto, tem suas armadilhas. “Do mesmo jeito que é fácil abrir um negócio na web, também é fácil para muitos outros”, adverte Marcos Hashimoto, do Insper.

Pior ainda se a concorrência é formada por gigantes no mercado, com cacife para anunciar mais e cobrar menos. Na avaliação de Gerson Rolim, consultor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, a saída para as pequenas empresas está nos nichos de mercado. “É preferível oferecer todas as variedades de determinado produto a vender, sem competitividade, um pouco de tudo”, diz.

 Na fórmula do sucesso dos negócios na rede, outro ingrediente obrigatório são as ações de marketing. “Montar uma empresa online sem divulgação é o mesmo que abrir uma loja no 14o andar de um prédio sem movimento”, compara Alexandre Umberti, diretor de marketing e produtos da E-bit.

Na corrida por visibilidade, vale apostar em estratégias para garantir bom posicionamento nas buscas do Google, por meio do Search Engine Optimization (SEO), e investir na compra de links patrocinados, acionados por palavras-chave. O Twitter, o Facebook e outras redes sociais também podem ajudar a promover a empresa diretamente com os públicos de interesse.

Dinheiro bem-vindo

Se você está sem dinheiro, pode recorrer aos investidores-anjo. Corriqueiros nos Estados Unidos, eles começam a pôr as asas para fora no Brasil e estão em busca de empresas, recém-nascidas ou ainda no papel, com potencial de crescimento.

Essa turma de endinheirados quer adquirir participação minoritária nas companhias que estão nascendo para vendê-las alguns anos mais tarde com ganhos polpudos. Há no país pelo menos três grupos estruturados: São Paulo Anjos, da capital paulista, o Gávea Angels, do Rio, e o Floripa Angels, de Florianópolis. 

Eles reúnem empresários e executivos dispostos a injetar até 1 milhão de reais (ou  1,5 milhão de reais no caso do São Paulo Anjos) em novas empresas. Interessou-se? Saiba que sobra rigor na seleção dos escolhidos para investimentos.

“Buscamos  produtos ou processos inovadores, com condição de crescer sem grande aumento de custos”, diz Cassio Spina, diretor da São Paulo Anjos. Seu colega da Gávea Angels, Antonio Botelho, diz que pesa na seleção a facilidade de saída dos sócios capitalistas. Só passam pelo funil dos investidores-anjo empresas com boas perspectivas de venda total ou parcial.


Entre os potenciais compradores estão companhias que atuam no mesmo setor, fundos de venture capital ou mesmo outros sócios. Para os empreendimentos ainda inexistentes, a exigência é uma amostra do futuro produto ou serviço. Em tempo: para fisgar um aporte, é preciso de disposição para compartilhar a gestão do negócio — bom para empreendedores que procuram orientação, mas um tiro no pé para os avessos à interferência alheia. “Os sócios capitalistas participam da definição da equipe e das estratégias do negócio”, afirma Marcelo Cazado, diretor executivo do Floripa Angels. 

Sua grana vira empresa

Foi com dinheiro próprio que 83% dos empresários tiraram seu negócio do papel, segundo estudo realizado pelo Sebrae-SP. Livres de dívidas, essa turma ganha fôlego para enfrentar os contratempos financeiros comuns às empresas novatas. Mas nem sempre fugir dos bancos é a melhor opção.

Quando possível, pode valer a pena financiar parte do investimento inicial com linhas vantajosas, como as do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger). Essa estratégia possibilita poupar parte do capital próprio para cobrir imprevistos. Assim, você evita os financiamentos de capital de giro, que, com juros médios na casa de 60% ao ano, deixam muitos empreendimentos na lona.

Financiamento bancário em baixa

Apenas 12% dos empresários paulistas abriram seu negócio com crédito bancário, revela pesquisa realizada pelo Sebrae-SP. E eles tiveram uma boa razão para agir dessa forma. “Como os bancos costumam exigir comprovação de faturamento, é difícil conseguir financiamento para a abertura do primeiro empreendimento”, afirma Luiz Ricardo Grecco, analista do Sebrae-SP.

Dada a complicação, há quem recorra aos empréstimos para pessoas físicas, geralmente com prazos mais curtos e juros muito superiores à rentabilidade prevista para a atividade. Para não cair nessa cilada, vale a pena tentar a sorte com o gerente do banco para obter condições mais atraentes. Mas saiba que, para conseguir as linhas para empresas, é preciso ter ao menos o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) na mão.


Nesse caso, para liberar o dinheiro, a instituição pode analisar projeções financeiras do negócio nascente, o desempenho do setor e o histórico bancário dos sócios, entre outros dados. O sinal verde costuma vir condicionado à apresentação de garantias, como imóveis. Todo esse processo costuma ser mais simples para a abertura de unidades franqueadas. A razão é que, ao analisar o desempenho da rede, o banco tem melhores meios de avaliar as condições de pagamento das novas lojas. 

Uso de recursos públicos

Alimentadas por recursos públicos, o Proger e as linhas de crédito do BNDES combinam juros baixos, prazos longos e carência para o início do pagamento. No Banco do Brasil, o Proger financia até 400 000 reais para investimentos em reformas, máquinas e equipamentos. As taxas ficam entre 2,5% e 5% ao ano mais a variação da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), de 6% ao ano, com prazo de pagamento de até 72 meses.

A Caixa Econômica Federal também oferece sua versão da linha, mas, no caso de empresas ainda inoperantes, apenas disponível para franquias. No BNDES, o dinheiro para pequenas e médias empresas é liberado por intermédio dos principais bancos do país. Responsáveis pela análise do crédito, as instituições financeiras tendem a favorecer negócios já em operação e unidades franqueadas.

Contudo, podem considerar pedidos de empresas nascentes com base na projeção de faturamento. Entre as linhas mais procuradas para compra de máquinas e equipamentos estão o Finame e o BNDES Automático, geralmente com prazos de até cinco anos para pagamento. Os juros correspondem à soma de três taxas: TJLP, remuneração de 0,90% do BNDES e a taxa do banco repassador — de 3,3%, em média, para companhias com faturamento anual de até 2,4 milhões de reais, de acordo com o BNDES.

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