Carreira

O que o futuro traz ao mundo do trabalho e da aposentadoria

Profissionais que continuam trabalhando depois de chegar à idade de se aposentar, filhos que saem de casa mais tarde, altos e baixos na carreira que impactam as economias. Você está preparado para esses novos cenários


	Envelhecimento da população mudou o planejamento financeiro da população.
 (Fernando Vivas/EXAME)

Envelhecimento da população mudou o planejamento financeiro da população. (Fernando Vivas/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 23 de janeiro de 2014 às 10h26.

São Paulo - Pensar na aposentadoria costumava ser mais simples. Basicamente, era imaginar que, aos 60 ou 65 anos, seria bom ter uma reserva financeira para desfrutar uma velhice confortável e curtir ao máximo o que a rotina sem estresse tem a oferecer. Hoje, o jogo mudou.

O brasileiro vive mais e os recursos do governo não vão sustentar um padrão de vida próximo ao conquistado durante o período de trabalho. Segundo estudo recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a estimativa para a longevidade em 2013 é de 74,8 anos. 

"Agora, quando se planeja o encerramento da carreira, é preciso projetar mais 20 ou 25 anos de vida pela frente", afirma Rogério Araújo, sócio da empresa de corretagem de seguros Brasil Insurance.

Não se trata apenas de refazer os cálculos para ter uma boa renda por mais tempo. Os cenários para o futuro são diferentes dos que se desenhavam tempos atrás. A forma de se preparar para eles, portanto, é outra. 

Gastos extras

Os filhos saem de casa mais tarde; os pais, mais idosos, podem precisar de ajuda para custear despesas médicas. Isso requer uma reserva financeira maior para comportar gastos extras.

A médica mineira Rachel Dupin Simon, de 39 anos, já pensa na primeira possibilidade. Ela, que hoje é mãe de dois filhos pequenos, de 3 e de 5 anos, saiu da casa dos pais aos 30 anos. "Fiz graduação e pós-graduação enquanto morava com eles", diz.

Rachel e o marido são funcionários públicos. "Se nada mudar, contamos com as aposentadorias integrais. A reserva acumulada nos planos de previdência privada vai ajudar a arcar com os estudos dos meninos, a compra de um carro ou a entrada de um apartamento para eles", afirma.

Três anos depois de entrar no mercado de trabalho, em 2003, Rachel fez dois planos de previdência no modelo PGBL: um seguindo a tabela regressiva de imposto de renda e outro pelo regime progressivo. Ambos com perfil agressivo, com o máximo de ações de renda variável permitido, de 49%.


Tudo combinado com o marido, que tem investimentos conservadores para o caso de "algo dar errado". Ela procura destinar a eles 12% de sua renda bruta anual, incluindo o 13º salário, mas não é sempre que dá. "Neste ano, meu 13º vai para a matrícula da escola das crianças e outras despesas."

No fim de 2012, Rachel decidiu investir em um terceiro fundo, também PGBL, mas moderado, para acompanhar as mudanças no mercado. Ela priorizou uma taxa de administração mais baixa, de 1%, ante 1,5% dos fundos mais antigos, e vem fazendo aportes de 500 reais por mês. 

"As necessidades e os projetos das pessoas mudam. Por isso, os investimentos precisam ser reavaliados de tempos em tempos — de preferência, a cada dois anos", afirma Gustavo Lendimuth, superintendente de Produtos Previdência do Santander.

As taxas reais de remuneração dos planos também oscilam e podem causar surpresas nada agradáveis lá na frente. "Se elas caem — e caíram recentemente —, o poupador só tem dois caminhos para seguir: ou aumenta o investimento mensal ou a expectativa de anos de contribuição", afirma William Eid Júnior, coordenador do centro de Estudos de Finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.

Semiaposentadoria

Considerar a hipótese de continuar trabalhando mesmo depois de chegar à idade da aposentadoria e, assim, reforçar o caixa, é uma prática cada vez mais comum. "Pretendo continuar no mercado enquanto tiver saúde. No máximo, vou desacelerar e fazer consultoria por hobby", afirma o consultor em gestão empresarial Daniel Fernandez Córdoba, de 33 anos, franqueado da rede de fast-food Seletti em são Paulo.

Ele começou a investir em previdência aos 28 anos, quando estava na Mercedes-Benz, onde entrou como estagiário e passou pelos cargos de técnico, analista, consultor e gerente. Quando saiu, migrou o plano de previdência corporativo para um individual. "Procuro direcionar para esse fim 70% do que ganho com a franquia", diz.


Com o dinheiro que economiza, poderia se aposentar daqui a 17 anos e manter o padrão de vida conquistado. A maioria dos brasileiros nem faz ideia de quando conquistará esse feito. Um estudo global realizado pelo HSBC com 16.000 participantes em 15 países de julho de 2012 a abril de 2013 mostrou que 42% dos entrevistados não sabem quando terão condições de parar de trabalhar e, portanto, viver somente com a renda acumulada.

No Brasil, esse número sobe para 82%. Boa parte disso tem a ver com a falta de planejamento para situações inesperadas que surgem no meio do caminho. No mercado de trabalho, por exemplo, estabilidade é uma palavra que caiu em desuso. Daí a necessidade de considerar que, ao longo da carreira, podem acontecer altos e baixos.

A vida pessoal também não é um roteiro fechado. Um exemplo clássico de mudança de trajeto são os casais em que um dos dois opta por se afastar do trabalho para se dedicar aos cuidados com o filho pequeno — e suspende a contribuição na previdência. A renda futura, claro, sofrerá alteração se não houver um plano B. 

Investimento à prova de renda

A primeira filha da arquiteta e professora universitária Loyde Vieira de Abreu Harbich, de 32 anos, e do administrador Marco Harbich, de 36, só vai nascer em abril de 2014. Mas a rotina do casal passa por alterações desde já. Com a gravidez, ela diminuiu o ritmo de trabalho e a participação na renda da casa.

Para não comprometer as finanças, os dois procuraram um planejador financeiro em busca de orientações para conseguir uma renda de 10.000 reais na velhice, somando as duas aposentadorias. A meta estabelecida foi poupar 20% do que ganham. Desse percentual, 40% vão para os investimentos de longo prazo (previdência no modelo VGBL e ações), 30% para médio (fundos multimercados) e 30% para curto prazo (CDB).

A partir disso, eles fizeram os cálculos para manter o nível de contribuição mesmo com Loyde colaborando menos com as receitas. Perceberam que a saída era cortar gastos e começaram a sair menos para jantar e a usar mais o transporte público. A diarista, que trabalhava dois dias por semana, passou a ir uma vez só.

De acordo com o casal, apenas com esses cortes foi possível reduzir cerca de 10% das despesas. Ter tamanha disciplina para poupar e manter os gastos sob controle não é uma tarefa fácil para muita gente. Mas procurar ser mais realista em relação às novas possibilidades de futuro já é um bom começo. 

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