Fim da escala 6x1 pode impactar milhões de trabalhadores e empresas no Brasil, aponta pesquisa
Levantamento da Pontotel ouviu mais de 500 mil participantes e revela as escalas de trabalho predominantes no país e os setores mais afetados por possíveis mudanças
Repórter
Publicado em 4 de dezembro de 2024 às 11h49.
Última atualização em 4 de dezembro de 2024 às 14h22.
A PepsiCo , empresa americana de alimentos e dona das marcas como Toddy, Gatorade e Pepsi, conseguiu entrar em um acordo com os funcionários que promoveram desde o dia 24 de novembro uma greve nas fábricas de Sorocaba (interior de São Paulo) e na unidade de Itaquera (bairro de São Paulo). O motivo? Os funcionários questionavam a escala 6x1.
O movimento contra essa carga horária de trabalho ganhou força no último mês após a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de autoria da deputada Erika Hilton (PSOL-SP) que pede a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas e o fim à escala 6x1.
Mas quais serão os impactos dessa proposta para as empresas? Quais setores serão mais impactados? Em busca dessas informações, a Pontotel, empresa de gestão de ponto e jornada no Brasil, do Grupo Sankhya, fez uma pesquisa com mais de 500 mil funcionários registrados em sua plataforma de ponto, incluindo empresas de diferentes portes e setores econômicos no Brasil, como agricultura, finanças, tecnologia e serviços.
Os dados do estudo, de acordo com Pedro Pimenta, Co-CEO da Pontotel, pode ajudar a fomentar o debate público sobre a escala de trabalho no Brasil e os impactos da possível extinção da escala 6x1 no mercado de trabalho.
“Muito se fala sobre o fim da escala 6x1 e seus naturais desdobramentos, mas o fato é que faltam números precisos. Nosso levantamento traz uma visão mais clara sobre quantos trabalhadores realmente utilizam esse modelo e como ele varia entre setores e empresas”, afirma.
Os setores que mais adotam a escala 6x1
O modelo 6x1, segundo o estudo, é mais comum em setores que dependem de atendimento contínuo, como:
- Alojamento e alimentação (69%),
- Comércio (49,9%),
- Atividades administrativas (35,1%).
“O fim da escala 6x1 pode impactar milhões de trabalhadores e empresas no Brasil”, diz Pimenta. "Afinal, esses setores são os que mais contratam no Brasil."
Por outro lado, atividades financeiras apresentam uma adesão de apenas 8%. "Esse contraste reforça a necessidade de adaptar as escalas às particularidades de cada setor, considerando tanto a demanda quanto as condições dos trabalhadores", afirma Pimenta.
Além da escala 6x1, empresas no Brasil adotam modelos alternativos para o horário de trabalho, como o 5x2 (cinco dias de trabalho com dois de descanso) e o 12x36 (12 horas de trabalho seguidas de 36 horas de folga), são amplamente utilizados, enquanto a escala 4x3 (quatro dias de trabalho com três de descanso) ainda é pouco representativa, sendo adotada por apenas 3,17% das empresas.
Será o fim da escala 6x1?
Setores com alta necessidade de operação contínua, como saúde (hospitais e farmácia), comércio (varejo e postos de gasolina) e hotelaria, são os mais impactados pela discussão sobre a extinção do modelo 6x1. A pesquisa reforça que a escolha da escala de trabalho está diretamente ligada ao tipo de atividade econômica.
Esse dado levanta um ponto crucial: como equilibrar as necessidades operacionais das empresas com o bem-estar dos trabalhadores? Para Pimenta, o debate precisa ir além da carga horária.
“Separar os debates sobre dias de trabalho e duração da jornada é essencial para proporcionar avanços que atendam tanto às necessidades dos trabalhadores quanto das empresas.”
Apesar dos avanços, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que busca reduzir a jornada de trabalho e eliminar a escala 6x1 no Brasil, a deputada decidiu adiar o protocolo oficial da PEC para 2025.
O pedido, que seguirá em análise no Congresso, surgiu após a deputada ter conhecimento do Movimento VAT por meio de um vídeo que viralizou no TikTok. O conteúdo foi publicado começo do ano pelo tocantinense Rick Azevedo, ex-balconista de farmácia e fundador do Movimento VAT.