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Entenda a crise nas prestadoras de serviço da Petrobras

Demissões, corte de benefícios e piora do clima de trabalho são alguns dos efeitos da Operação Lava-Jato sobre as prestadoras de serviços da Petrobras

Obras paralisadas na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco: demissão de funcionários (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2015 às 08h08.

Diz o ditado popular que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. E não deve ser diferente com a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que aparentemente seguia na contramão dessa máxima ao levar para a cadeia diretores e presidentes da Petrobras e das principais empreiteiras do país, na esteira do maior escândalo de corrupção da história do Brasil.

Como consequência da suspensão de contratos, do cancelamento de projetos e da interrupção de pagamentos, alguns dos principais fornecedores da Petrobras — como empreiteiras e fabricantes de grandes equipamentos — veem-se obrigados a reduzir custos e a demitir emprega­dos.

Apenas no setor de máquinas, a inadimplência decorrente da Operação Lava-Jato ultrapassou os 200 milhões de reais, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Negócios mais dependentes desses contratos podem ir à falência”, diz Alberto Machado, diretor executivo de petróleo, gás natural, bioenergia e petroquímica da Abimaq.

Estima-se que, de 2014 até agora, 40 000 vagas tenham sido fechadas por causa da crise na Petrobras. Os maiores cortes de pessoal aconteceram em grandes projetos, considerados prioritários até pouco tempo atrás, como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município fluminense de Itaboraí, e a Refinaria Abreu e Lima, na cidade de Ipojuca, em Pernambuco.

Se até o fim do ano passado a maioria das dispensas era de funcionários de nível operacional, diretamente afetados pela paralisação das obras, neste ano os cortes começam a atingir a mão de obra mais qualificada, como técnicos especializados e engenheiros. “Trabalhadores de todos os níveis e funções estão ameaçados”, afirma Adalberto Galvão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada e Montagem Industrial do Estado da Bahia (Sintepav-BA). “Só no Estaleiro de Paraguaçu, na Bahia, o número de profissionais de gestão hoje não passa de 300, sendo que o cronograma previa 3 000 funcionários na fase atual do projeto”, diz ele.

Um dos exemplos que melhor refletem o dano causado pela suspensão dos contratos aos trabalhadores do setor é o da Alumini, antiga Alusa, empresa que entrou com pedido de recuperação judicial no início do ano. Especializada em projetos na área de óleo e gás, a construtora já demitiu mais de 5 000 funcionários que atuavam nas obras da Refinaria Abreu e Lima.

Uma das dispensadas foi a administradora de empresas Fabíola de Barros Monteiro, de 32 anos, supervisora de qualidade na Alumini desde maio de 2014. “Mesmo antes das demissões, o clima na empresa estava pesado”, diz ela. “Havia muitos boatos e ninguém sabia ao certo o que ia acontecer.” Na companhia, um dos primeiros sinais dos cortes que viriam foi a suspensão do pagamento do aluguel dos funcionários que tinham a moradia bancada pela empresa. “Soube de colegas que sofreram ameaça de despejo e tiveram de bancar as despesas do próprio bolso”, afirma Fabíola.

Agora, ela busca uma nova colocação, mas sabe que será difícil conseguir algo no mesmo nível. “Na cadeia do petróleo, os salários costumavam ser muito melhores do que na indústria em geral”, diz ela.

Um levantamento da Petra Group, empresa especializada na seleção de executivos para companhias de óleo e gás, mostrou que os salários no setor caíram cerca de 15% para os profissionais da área administrativa desde o começo da crise. Nos cargos operacionais, a redução está na casa dos 10%. Além disso, a maioria das empresas tem se limitado a oferecer os benefícios e bônus previstos por lei ou em acordos sindicais.

Na Chemtech, empresa do grupo Siemens que presta serviços de engenharia e tecnologia para o setor de óleo e gás, os empregados estão preo­cupados e desanimados com a falta de perspectivas de crescimento após a demissão de 200 pessoas.

Mesmo nas companhias que não estão fazendo cortes em massa, o clima não é dos melhores e os funcionários já sofrem perda de benefícios, congelamento de promoções e temem perder o emprego. Na divisão de engenharia da Promon, benefícios típicos dos períodos de bonança, como o auxílio-academia, foram cortados.

Em busca de alternativas

Os efeitos da crise da Petrobras respingam até na petroquímica Braskem, que adquire da petroleira sua principal matéria-prima, o nafta. No início de fevereiro, o presidente da companhia, Carlos Fadigas, afirmou que a Braskem estava sem um interlocutor na Petrobras para renegociar o contrato de compra do produto, um negócio de 9 bilhões de reais.

O clima de incerteza já afeta o dia a dia da companhia, as expatriações estão suspensas e a ociosidade gera preocupação. “O profissional acompanha as notícias e sente que isso pode paralisar sua carreira numa área que, até então, era tão promissora”, diz Ricardo Munhoz, diretor da empresa de recolocação profissional Thomas Case, de Porto Alegre.

Com o efeito dominó provocado em toda a cadeia de óleo e gás pela suspensão de projetos desde o início da Operação Lava-Jato, em março de 2014, os profissionais demitidos encontram dificuldades para conseguir um novo emprego. “Alguns executivos estão há dez meses fora do mercado”, afirma Adriano Bravo, presidente da Petra Group no Brasil.

Mesmo os engenheiros, considerados profissionais versáteis por ter aproveitamento em diversos setores, têm enfrentado problemas para se recolocar, por causa do quadro de estagnação da economia em áreas como indústria e mineração. “Acaba restando a possibilidade de migrar para o mercado financeiro ou para o comércio, que também valorizam a capacidade analítica dos engenheiros”, afirma Ricardo, da Thomas Case.

Para quem quer permanecer no setor de óleo e gás, uma das saídas tem sido buscar colocações no exterior. A experiência dos profissionais brasileiros em grandes projetos e sua alta capacidade de adaptação podem abrir portas em petroleiras de todo o mundo. “Há oportunidade de expatriação para profissionais das mais diversas funções”, diz Adriano, da Petra.

Para os mais qualificados, em especial, há boas possibilidades no mercado americano, que tem re­cebido grandes investimentos na área graças aos projetos relacionados à extração do petróleo de xisto, que permitirá aos Estados Unidos desbancar a Arábia Saudita do posto de maior produtor mundial de petróleo ainda neste ano.

Opção pela segurança

Ter o nome associado a grandes escândalos de corrupção prejudica a imagem das empresas investigadas na Operação Lava-Jato, como a desvalorização das ações da Petrobras tem demonstrado. Mas os problemas de reputação ainda não parecem estar comprometendo a capacidade dessas empresas de atrair e reter talentos.

Pelo menos por enquanto, o medo de não conseguir se recolocar parece superar os possíveis conflitos éticos, e não houve grandes debandadas de profissionais dessas organizações.

A marca Petrobras, em especial, parece seguir forte entre os trabalhadores. O último concurso da Petrobras Distribuidora, por exemplo, atraiu 122 000 inscrições para 47 vagas. Sinal de que essas empresas ainda são consideradas interessantes para trabalhar, apesar do mau exemplo de seus líderes.

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Diz o ditado popular que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. E não deve ser diferente com a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que aparentemente seguia na contramão dessa máxima ao levar para a cadeia diretores e presidentes da Petrobras e das principais empreiteiras do país, na esteira do maior escândalo de corrupção da história do Brasil.

Como consequência da suspensão de contratos, do cancelamento de projetos e da interrupção de pagamentos, alguns dos principais fornecedores da Petrobras — como empreiteiras e fabricantes de grandes equipamentos — veem-se obrigados a reduzir custos e a demitir emprega­dos.

Apenas no setor de máquinas, a inadimplência decorrente da Operação Lava-Jato ultrapassou os 200 milhões de reais, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Negócios mais dependentes desses contratos podem ir à falência”, diz Alberto Machado, diretor executivo de petróleo, gás natural, bioenergia e petroquímica da Abimaq.

Estima-se que, de 2014 até agora, 40 000 vagas tenham sido fechadas por causa da crise na Petrobras. Os maiores cortes de pessoal aconteceram em grandes projetos, considerados prioritários até pouco tempo atrás, como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município fluminense de Itaboraí, e a Refinaria Abreu e Lima, na cidade de Ipojuca, em Pernambuco.

Se até o fim do ano passado a maioria das dispensas era de funcionários de nível operacional, diretamente afetados pela paralisação das obras, neste ano os cortes começam a atingir a mão de obra mais qualificada, como técnicos especializados e engenheiros. “Trabalhadores de todos os níveis e funções estão ameaçados”, afirma Adalberto Galvão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada e Montagem Industrial do Estado da Bahia (Sintepav-BA). “Só no Estaleiro de Paraguaçu, na Bahia, o número de profissionais de gestão hoje não passa de 300, sendo que o cronograma previa 3 000 funcionários na fase atual do projeto”, diz ele.

Um dos exemplos que melhor refletem o dano causado pela suspensão dos contratos aos trabalhadores do setor é o da Alumini, antiga Alusa, empresa que entrou com pedido de recuperação judicial no início do ano. Especializada em projetos na área de óleo e gás, a construtora já demitiu mais de 5 000 funcionários que atuavam nas obras da Refinaria Abreu e Lima.

Uma das dispensadas foi a administradora de empresas Fabíola de Barros Monteiro, de 32 anos, supervisora de qualidade na Alumini desde maio de 2014. “Mesmo antes das demissões, o clima na empresa estava pesado”, diz ela. “Havia muitos boatos e ninguém sabia ao certo o que ia acontecer.” Na companhia, um dos primeiros sinais dos cortes que viriam foi a suspensão do pagamento do aluguel dos funcionários que tinham a moradia bancada pela empresa. “Soube de colegas que sofreram ameaça de despejo e tiveram de bancar as despesas do próprio bolso”, afirma Fabíola.

Agora, ela busca uma nova colocação, mas sabe que será difícil conseguir algo no mesmo nível. “Na cadeia do petróleo, os salários costumavam ser muito melhores do que na indústria em geral”, diz ela.

Um levantamento da Petra Group, empresa especializada na seleção de executivos para companhias de óleo e gás, mostrou que os salários no setor caíram cerca de 15% para os profissionais da área administrativa desde o começo da crise. Nos cargos operacionais, a redução está na casa dos 10%. Além disso, a maioria das empresas tem se limitado a oferecer os benefícios e bônus previstos por lei ou em acordos sindicais.

Na Chemtech, empresa do grupo Siemens que presta serviços de engenharia e tecnologia para o setor de óleo e gás, os empregados estão preo­cupados e desanimados com a falta de perspectivas de crescimento após a demissão de 200 pessoas.

Mesmo nas companhias que não estão fazendo cortes em massa, o clima não é dos melhores e os funcionários já sofrem perda de benefícios, congelamento de promoções e temem perder o emprego. Na divisão de engenharia da Promon, benefícios típicos dos períodos de bonança, como o auxílio-academia, foram cortados.

Em busca de alternativas

Os efeitos da crise da Petrobras respingam até na petroquímica Braskem, que adquire da petroleira sua principal matéria-prima, o nafta. No início de fevereiro, o presidente da companhia, Carlos Fadigas, afirmou que a Braskem estava sem um interlocutor na Petrobras para renegociar o contrato de compra do produto, um negócio de 9 bilhões de reais.

O clima de incerteza já afeta o dia a dia da companhia, as expatriações estão suspensas e a ociosidade gera preocupação. “O profissional acompanha as notícias e sente que isso pode paralisar sua carreira numa área que, até então, era tão promissora”, diz Ricardo Munhoz, diretor da empresa de recolocação profissional Thomas Case, de Porto Alegre.

Com o efeito dominó provocado em toda a cadeia de óleo e gás pela suspensão de projetos desde o início da Operação Lava-Jato, em março de 2014, os profissionais demitidos encontram dificuldades para conseguir um novo emprego. “Alguns executivos estão há dez meses fora do mercado”, afirma Adriano Bravo, presidente da Petra Group no Brasil.

Mesmo os engenheiros, considerados profissionais versáteis por ter aproveitamento em diversos setores, têm enfrentado problemas para se recolocar, por causa do quadro de estagnação da economia em áreas como indústria e mineração. “Acaba restando a possibilidade de migrar para o mercado financeiro ou para o comércio, que também valorizam a capacidade analítica dos engenheiros”, afirma Ricardo, da Thomas Case.

Para quem quer permanecer no setor de óleo e gás, uma das saídas tem sido buscar colocações no exterior. A experiência dos profissionais brasileiros em grandes projetos e sua alta capacidade de adaptação podem abrir portas em petroleiras de todo o mundo. “Há oportunidade de expatriação para profissionais das mais diversas funções”, diz Adriano, da Petra.

Para os mais qualificados, em especial, há boas possibilidades no mercado americano, que tem re­cebido grandes investimentos na área graças aos projetos relacionados à extração do petróleo de xisto, que permitirá aos Estados Unidos desbancar a Arábia Saudita do posto de maior produtor mundial de petróleo ainda neste ano.

Opção pela segurança

Ter o nome associado a grandes escândalos de corrupção prejudica a imagem das empresas investigadas na Operação Lava-Jato, como a desvalorização das ações da Petrobras tem demonstrado. Mas os problemas de reputação ainda não parecem estar comprometendo a capacidade dessas empresas de atrair e reter talentos.

Pelo menos por enquanto, o medo de não conseguir se recolocar parece superar os possíveis conflitos éticos, e não houve grandes debandadas de profissionais dessas organizações.

A marca Petrobras, em especial, parece seguir forte entre os trabalhadores. O último concurso da Petrobras Distribuidora, por exemplo, atraiu 122 000 inscrições para 47 vagas. Sinal de que essas empresas ainda são consideradas interessantes para trabalhar, apesar do mau exemplo de seus líderes.

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