Donald Trump representa a ascensão de alguém que veio de um passado diferente dos outros presidentes americanos (Jim WATSON/AFP)
Repórter
Publicado em 6 de novembro de 2024 às 11h18.
Última atualização em 6 de novembro de 2024 às 12h43.
O magnata Donald Trump se torna, nesta quarta-feira, 6, pela segunda vez o presidente eleito nos Estados Unidos, mas o caminho para chegar à Casa Branca demorou 70 anos, considerando o seu primeiro mandato.
Nascido em 1946, em Queens, Nova York, Trump cresceu sob a influência do pai, Fred Trump, um empreendedor imobiliário de sucesso, que construiu uma fortuna desenvolvendo propriedades residenciais no bairro de Queens e em outros subúrbios de Nova York. Apesar de ter começado os estudos de Economia na Universidade Fordham, em Nova York, foi pela Wharton School da Universidade da Pensilvânia que Trump concluiu os estudos em 1968.
“Trump se formou no estado que foi decisivo em sua reeleição como presidente dos Estados Unidos, mas seu marco empresarial está em outras regiões”, afirma Lucas de Souza Martins, professor de História dos Estados Unidos pela Temple University, na Filadélfia.
Com formação em economia, Trump multiplicou o império herdado de sua família, mas não necessariamente no estado da Pensilvânia. “A trajetória do Donald Trump está bastante conectada com a cidade de Nova Iorque e no estado da Flórida, por mais que ele tenha estudado na Universidade da Pensilvânia”, diz Martins.
Trump se destacou pela construção de marcos como a Trump Tower, em Nova York, e transformou o sobrenome “Trump” como marca de luxo. Ele também tem uma trajetória empresarial vinculada à Flórida, que é o local onde ele vive hoje, afirma o professor de História dos Estados Unidos pela Temple University. “Em Nova Iorque, Trump se tornou conhecido por conta do império de hotéis e cassinos de luxo da família Trump”, diz Martins.
O magnata, que vai retornar à Casa Branca após quatro anos, tem fortuna estimada em 6 bilhões de dólares e está entre as 500 pessoas mais ricas do mundo, segundo lista da Forbes.
O empreendedorismo marcar a trajetória de Donald Trump desde sempre, o que o torna uma figura diferente com relação a outros líderes que os Estados Unidos já tiveram, afirma Martins.
“Ao contrário de todos os outros, Donald Trump jamais havia servido no Congresso americano, jamais tinha tido um cargo público, jamais havia estado nas Forças Armadas dos Estados Unidos”, afirma Martins. “Ele representou a ascensão de alguém que veio de um passado diferente dos outros presidentes americanos”.
Além da trajetória como empresário, Trump também se tornou uma personalidade televisiva. Nos anos 2000, consolidou-se como personalidade midiática com o reality show The Apprentice (O Aprendiz), no qual popularizou sua frase icônica: “You’re fired!” (Você está demitido!).
Em 2015, Trump anunciou sua candidatura à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano. Trump venceu a eleição de 2016 contra Hillary Clinton, marcando uma nova fase da sua vida na área pública. Para Brian Winter, analista político que vive em Nova Iorque, o que levou Trump a apostar na política foi a sua ambição como empresário.
"Trump sempre se projetava como uma pessoa com grandes ambições. Na década de 80 ele já falava que os Estados Unidos estavam sendo roubado por outros países", diz o analista. “Ele sempre falava na necessidade de prestar atenção nas relações globais, principalmente quando o recorte eram os déficits comerciais”.
Para o analista político, Trump conseguiu ver uma frustação do povo americano com a desigualdade social e com a falta de proteções para os trabalhadores pós-industriais. “Ele realmente teve a inteligência e o instinto de reconhecer essa pauta, que sempre foi associada aos Democratas, porém trouxe como apelo dos Republicanos”.
Durante seu primeiro mandato, Trump adotou o discurso do “América Primeiro”, enfatizando acordos comerciais favoráveis aos EUA, corte de regulações e uma postura dura em relação à imigração, afirma Vinícius Bicalho, advogado especialista em imigração que trabalha hoje em Orlando, na Flórida. "Embora tenha enfrentado controvérsias e uma forte oposição, Trump permaneceu com uma figura polarizadora e influente."
A influência não impediu Donald Trump de perder as eleições em 2020, para o democrata Joe Biden, mas neste ano, ele voltou com força e a história volta a se repetir. Com uma base de eleitores leal, Trump atuou como uma figura central no Partido Republicano e conquistou pela segunda vez a presidência dos Estados Unidos.
Não foi apenas a sua formação em Economia e a capacidade de financiamento para as campanhas que ajudaram Trump a se tornar pela segunda vez o presidente dos Estados Unidos. Para se candidatar ao posto de presidente, todos os candidatos precisam comprovar:
Neste último requisito, Trump quase foi barrado. Ele enfrentou dois processos de impeachment durante seu mandato como presidente dos Estados Unidos, mas em ambos os casos foi absolvido pelo Senado, o que manteve sua elegibilidade para se candidatar novamente este ano.
Superando boa parte da média das pesquisas, Donald Trump conseguiu um desempenho surpreendente nos estados-pêndulo. Ele ganhou na Carolina do Norte, Pensilvânia, Geórgia e Wisconsin. E liderava no Arizona, Michigan e Nevada.
Pensilvânia novamente foi uma dos estados que decidiu as eleições americanas, e o que fez Trump ganhar essa região foi a capacidade de captar as preocupações específicas dos eleitores do estado, em especial aquelas relacionadas ao impacto da globalização na economia local, afirma o professor da Temple University.
“A Pensilvânia, assim como outros estados do 'Cinturão da Ferrugem', Michigan e Wisconsin, foi severamente afetada pela transferência de empregos industriais para outros países, como China, Malásia e Indonésia, fenômeno que se intensificou durante a administração de Bill Clinton”, afirma.
Muitos desses empregos, segundo Martins, historicamente ligados à indústria e representados por sindicatos, eram a base econômica de várias comunidades locais. “Com a perda dessas oportunidades, muitos eleitores se sentiram abandonados e viram seu poder de compra e o acesso ao chamado 'sonho americano' diminuírem drasticamente.”
Trump capitalizou esse ressentimento com um discurso focado na reindustrialização dos Estados Unidos, prometendo renegociar acordos comerciais, como o NAFTA, e trazer empregos industriais de volta ao país. Enquanto em estados como o Arizona o debate foi centrado na imigração, na Pensilvânia a economia foi o tema central.
“A mensagem de Trump, combinada com sua promessa de ‘fazer a América grande novamente,’ ressoou profundamente em uma população que buscava respostas concretas para seus desafios econômicos. Isso foi crucial para sua vitória,” afirma Martins.
De magnata do ramo de imóveis à presidente dos Estados Unidos, no total, Trump venceu a democrata Kamala Harris ao atingir 277 delegados no Colégio Eleitoral, nas projeções de diversos veículos de comunicação do país.
Agora, com seu retorno ao cenário político, Trump continua a despertar apoio e críticas, refletindo sua trajetória como um líder que, segundo Bicalho, independentemente das controvérsias, redefiniu aspectos da política americana com sua abordagem direta e nacionalista.