Sustentabilidade é tema para eleições?
Com as perguntas certas, sustentabilidade será sim um tema central das eleições, com o benefício de qualificar o próprio debate político
Bússola
Publicado em 9 de setembro de 2022 às 13h17.
Por Danilo Maeda*
Um dos argumentos utilizados para se relativizar a relevância da agenda de desenvolvimento sustentável é o fato de ela supostamente não estar presente nos debates e campanhas eleitorais. Na época em que se discute o futuro do País, aspectos sociais e econômicos ganham protagonismo, deixando temas ligados ao meio ambiente em segundo plano. A partir desta evidência, pode-se concluir que sustentabilidade é legal, mas não tão importante a ponto de definir quem irá liderar nossas instituições. Será que é isso mesmo?
A visão que apresentei acima de forma resumida tem alguns problemas. O primeiro (e talvez mais importante) é o entendimento estreito do que é sustentabilidade. Infelizmente, grande parcela da população ainda considera que o termo se refere apenas à preservação ambiental. Na realidade, contudo, trata-se de muito mais.
Isso fica evidente na conceituação do relatório Nosso Futuro Comum, da ONU, em 1987: “O desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”. Note que a definição fala em atender necessidades de hoje (aspectos sociais e econômicos), antes da menção à preservação de recursos para o futuro.
Ou seja: sustentabilidade é sobre atender às necessidades sociais de hoje. E de amanhã também. A preservação e regeneração de recursos naturais é fundamental para isso? Com certeza. Mas ela não é um objetivo único ou um fim em si mesma. Precisa ser conciliada com aspectos como combate à fome e à miséria, inclusão social, acesso à saúde e educação de qualidade. E se estes são temas mais que presentes nas campanhas eleitorais, isso significa que no fim do dia as campanhas sempre foram sobre Sustentabilidade.
Aliás, o modo de pensar integrado, proposto por modelos como o dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, pode ser útil para os eleitores pensarem sobre suas escolhas. Como as propostas feitas contribuem para se alcançar as metas descritas nesse grande plano de ação da humanidade? São 169 delas e dificilmente veremos candidaturas que tratem de cada uma, mas a reflexão vale a pena.
O outro problema do argumento de que sustentabilidade (que podemos expressar como uma visão que busca conciliar demandas de longo e curto prazos) seria menos relevante por não pautar o debate político, é o fato de que as discussões desta esfera são definidas, ao menos em parte, também pela sociedade civil. Cabe aos cidadãos e cidadãs perguntarem a quem faz política quais são suas propostas e ideias para que tenhamos um modelo de desenvolvimento que resolva os problemas de hoje sem contratar crises no futuro. Se fizermos as perguntas certas, sustentabilidade será sim um tema central das eleições, com o benefício de qualificar o próprio debate político.
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
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