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Salário não aceita assistencialismo

Compromisso social das empresas brasileiras deve estar atrelado a oferecer oportunidades para jovens em começo de carreira

Brasil tem grande quantidade de jovens desempregados (foto/Thinkstock)

Brasil tem grande quantidade de jovens desempregados (foto/Thinkstock)

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Publicado em 13 de dezembro de 2022 às 19h00.

Última atualização em 14 de dezembro de 2022 às 11h47.

De acordo com um levantamento de 2022 realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa o 2º lugar em número de jovens entre 18 a 24 anos que não trabalham e nem estudam. E muito se tem discutido sobre o papel das empresas brasileiras no fomento de oportunidades que ajudem  jovens que saem do ensino médio a ingressar no mercado de trabalho, quase que transportando para o setor produtivo a “culpabilidade” sobre os altos índices de desemprego juvenil.

É evidente que as companhias podem, e muito, apoiar para que este cenário mude. Entretanto, é importante colocarmos a lente no lugar certo sobre o problema, só assim poderemos encontrar os caminhos certos para garantir às novas gerações, as oportunidades adequadas e sustentáveis para ingressarem e se manterem no mercado produtivo de forma efetiva.

A população jovem brasileira é, atualmente, a maior da história – são mais de 47 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. Destes, 87,4% dos alunos que se formam no ensino médio são da rede pública do país. Segundo os dados quantitativos de uma pesquisa de 2021 realizada pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), apenas 5% dos formandos do ensino médio de escolas públicas, saem com o aprendizado básico em matemática. O percentual sobe para 31,3% em conhecimentos básicos da língua portuguesa.

Isso demonstra, que estamos entregando ao nosso país uma geração enorme de jovens que saem do ensino público brasileiro absolutamente desprovidos das competências básicas para encarar qualquer desafio posterior.

Para agravar ainda mais o quadro, vivemos um momento de crise e grandes incertezas sobre os direcionamentos macroeconômicos e políticos para 2023, o que acarreta, naturalmente, em um mercado de trabalho cada vez mais exigente, em busca de certezas, eficiência e economia em suas operações e menor risco.

Quando transportamos isso para as áreas de gestão de pessoas e recrutamento, a diretriz é clara: correr menos riscos em contratações e contratar ativos que realmente sejam importantes para apoiar rapidamente o crescimento dos negócios. A busca é por pessoas com competências comportamentais adequadas e conhecimento técnico da função bem desenvolvido para as escassas posições disponíveis.

Como cobrar “menos riscos”; “mais expertise”; e, “apoiar rapidamente o crescimento  dos negócios” de um jovem que sai do ensino médio sem sequer ter o básico de português e matemática?

Tratar as oportunidades de emprego como compromisso social, somente é viável se estivermos diante de posições de trabalho com absoluta falta de exigência básica e técnica, e aqui, ao meu ver, não se trata apenas da própria empresa abrir mão destas qualificações em seus processos seletivos, mas sim, da função a ser desempenhada sem as exigências diárias, experiência e  empregos anteriores.

Colocar um jovem em uma posição em que ele não está minimamente preparado para desempenhar com qualidade a função, e cobrar dele que traga os resultados esperados, ocasionará uma demissão rápida e um prejuízo e frustração grande para jovens e para as empresas.

E não há de se culpar as empresas por isso! Esta é uma realidade! Por isso afirmo que o salário, infelizmente, não aceita assistencialismo. Pagamento só aceita performance e eficiência. É duro! Mas somente olhando da forma correta, podemos apoiar os jovens e as empresas a alcançarem, ambos, os seus objetivos.

A solução? Por parte das empresas, a curto prazo, que elas aumentem as oportunidades dentro de seus programas de ingresso em posições de menor complexidade como, por exemplo, o programa Jovem Aprendiz, que pela própria essência do seu nome, designa cargos iniciais que servem como porta de entrada no mercado de trabalho.

A médio prazo seria ideal que as empresas efetivamente assumam o compromisso social de serem protagonistas na melhoria das condições da juventude brasileira, criando, sustentando e apoiando a construção e o desenvolvimento de programas junto à organizações que atuem diretamente na melhoria do ensino básico brasileiro e na qualificação de jovens para o mercado de trabalho.

*Rodrigo Dib é cofundador e conselheiro da Galena Educação e de diversas organizações que atuam com empregabilidade jovem.

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