Subject: A Japanese business office worker leaving his job with all his belonging in a layoff and economic recession. (YinYang/Getty Images)
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Publicado em 9 de dezembro de 2024 às 07h00.
Por Renato Cirne*
A demissão de executivos de grandes empresas frequentemente ganha destaque público, não apenas pela sua relevância no cenário corporativo, mas também pelas implicações éticas envolvidas. A forma como essas situações são comunicadas ao público pode impactar a percepção da organização e afetar a confiança dos colaboradores. Recentemente, a saída de líderes como os de Itaú e Stellantis reacendeu esse debate, trazendo à tona a questão de até que ponto a transparência sobre os motivos de uma demissão é justificável.
No caso do Itaú, por exemplo, acusações de mau uso de recursos corporativos foram divulgadas de forma pública, mas o caso gerou especulações sobre possíveis disputas internas entre os líderes da instituição. Este episódio reflete um dilema enfrentado pelas empresas ao equilibrar ética e comunicação em um momento de crise, onde a necessidade de transparência entra em conflito com a preservação da imagem e do moral da equipe.
Em novembro de 2023, Sam Altman foi abruptamente demitido do comando da OpenAI, sob alegações de falta de transparência. A controvérsia incluiu ameaças de demissão coletiva de funcionários e culminou na sua contratação pela Microsoft.
Outro exemplo foi a renúncia do português Carlos Tavares, CEO da Stellantis. A decisão gerou questionamentos sobre governança corporativa dentro do conglomerado automotivo formado por PSA Group e Fiat Chrysler Automobiles.
Além disso, o afastamento do primeiro-ministro da França, também na última semana, destacou como falhas éticas não se limitam ao setor privado. A discussão sobre a exposição de líderes públicos envolve temas como abuso de poder e transparência.
Empresas precisam de códigos de conduta claros e liderança comprometida com os valores éticos. O conceito de tone of the top – a postura ética da liderança – é essencial para criar uma cultura de integridade.
Pesquisas mostram como falhas nesse aspecto podem impactar severamente organizações. Segundo a Deloitte (2023), 74% dos consumidores evitam empresas envolvidas em escândalos. Já dados da PwC indicam que empresas com forte cultura de compliance têm 30% menos chance de enfrentar crises reputacionais.
Mesmo com políticas rigorosas, surge o dilema: expor executivos demitidos é sempre necessário? Apesar da importância de proteger a imagem corporativa, a exposição pública pode prejudicar a moral da equipe e afetar a confiança dos colaboradores.
A gestão da comunicação nesses casos deve considerar não apenas a transparência, mas também os impactos pessoais e profissionais para os envolvidos. Criar uma abordagem equilibrada, respeitando os limites éticos, é um desafio contínuo.
Os líderes têm um papel crucial em garantir que políticas éticas sejam aplicadas de forma consistente, independentemente da hierarquia. Isso fortalece a confiança de stakeholders e reduz o risco de crises futuras.
A ética corporativa exige flexibilidade para lidar com o imprevisto. Cada situação tem suas particularidades, e encontrar o equilíbrio entre ética, transparência e responsabilidade é essencial para construir uma cultura sustentável.
*Renato Cirne é advogado, consultor em compliance e empreendedor social
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