Qual o real poder da autodemissão?
Como você pode assumir o controle da sua carreira com autoliderança nesta década
Plataforma de conteúdo
Publicado em 22 de março de 2023 às 16h30.
Já ouviu falar em autodemissão? Tenho uma amiga, na casa dos seus 40 e poucos anos que, depois de trabalhar por mais de uma década e meia em uma agência de publicidade, decidiu sair do emprego para empreender. Conversando com ela um dia desses, essa amiga me confidenciou que a autodemissão foi a melhor forma que ela encontrou de “se libertar da rotina cansativa e realizar o sonho de ter o próprio negócio”.
Essa conversa me fez refletir, obviamente ninguém é obrigado a ficar em um lugar em que não se sente bem ou que não te permite alcançar os seus objetivos, ainda mais quando se trata de trabalho. No entanto, não é tão simples levantar um dia e decidir pedir as contas. Pedir demissão é um ato de coragem.
- Acidente com helicóptero deixa quatro mortos em SP
- Microsoft demitiu equipe de ética do setor de inteligência artificial para se dedicar à OpenAI
- Carreiras sem fronteiras: como profissionais exploram oportunidades além dos limites tradicionais
- Twitch, site de transmissões ao vivo da Amazon, demite 400 funcionários
- Empresas que negligenciam o bem estar falham com seus colaboradores
- Amazon anuncia nova rodada de demissões com corte de 9 mil funcionários
Conhecida como autodemissão, "quit job" e ou "self-resignation", essa prática ocorre quando uma pessoa decide voluntariamente abandonar o seu emprego sem ter sido demitido ou pressionado pela empresa para tomar essa atitude. Esse fenômeno vem crescendo muito nos últimos anos, entre setembro e outubro de 2021, 8,5 milhões de americanos pediram demissão no mesmo momento em que a criação de novas vagas continuava elevada.
O mesmo aconteceu na França, Índia, Reino Unido, Alemanha e China. Lá fora, esse fenômeno recebeu o nome de “Great Resignation” (Big Quit ou Great Reshuffle também são usados), algo como Grande Debandada ou a Grande Renúncia, em uma tradução livre para o português.
No Brasil não foi diferente. Desde o ano passado milhares pessoas estão se autodemitindo, em várias áreas e segmentos. Mas, por que isso está acontecendo?
Os motivos são vários:
Primeiro que a pandemia tem uma parcela de culpa. Ela trouxe o isolamento social e com isso o home office ganhou força. Essa nova forma de trabalho fez com que muitos profissionais passassem a enxergar a vida de uma forma diferente, valorizando mais o tempo livre e a qualidade de vida.
Muitos também perceberam que o emprego anterior não era tão importante assim e que poderiam buscar outros caminhos para alcançar seus objetivos e dentro desse contexto é comum encontrarmos cada vez mais pessoas se questionando sobre o que é o trabalho, qual a importância disso na vida como um todo, quais trocas estão dispostas a fazer para continuarem no emprego e quais são os seus limites.
Existe também o caso de pessoas que buscam um novo desafio profissional, outras que querem investir em um projeto pessoal, enquanto algumas simplesmente querem ter mais tempo livre e estão buscando um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Uma pesquisa realizada pela Catho, uma das maiores empresas de recrutamento do Brasil, mostrou que 59,4% dos entrevistados deixaram o emprego atual para buscar algo que realmente gostassem de fazer.
Outros fatores que motivam uma pessoa a se demitir pode ser o próprio ambiente de trabalho. Ainda temos no mercado muitas empresas que têm uma cultura tóxica, com sobrecarga de seus colaboradores, falta de reconhecimento ou situações de assédio moral e abuso de poder dentro do ambiente corporativo, o que gera insegurança e insatisfação dentro da organização.
A insatisfação é um dos fatores que mais contribuem para a autodemissão afetando especialmente os jovens da Geração Z. É importante ressaltar que a autodemissão pode acabar sendo benéfica tanto para o profissional quanto para a empresa, independente do motivo que levou o colaborador a tomar essa decisão.
Quando o profissional deixa o emprego para buscar algo melhor, ele pode se desenvolver e adquirir novas habilidades, o que pode ser útil para o mercado de trabalho em geral. Em contrapartida, a empresa pode perceber que precisa melhorar em determinados aspectos, como no reconhecimento e a valorização dos funcionários, por exemplo, e aperfeiçoar seus processos para reter seus talentos.
Também vale lembrar que a autodemissão nem sempre é uma escolha fácil. Tenho certeza que minha amiga não tomou essa decisão do dia para a noite. Foi algo pensado, calculado, analisado. Porque se autodemitir é ter a consciência de que você renunciará a sua estabilidade, mesmo que por pouco tempo, para assumir riscos e buscar algo novo. E esse processo também pode gerar muita insegurança e incerteza em relação ao futuro.
Autoliderança como ferramenta de motivação e impulsionamento profissional
Costumo dizer que é importante que as pessoas que escolhem se demitir estejam preparadas para enfrentar os desafios que esse caminho apresenta. Uma maneira de facilitar este processo, de forma que, quando o profissional decidir deixar o emprego atual, ele esteja pronto para assumir a responsabilidade por sua carreira e pelas decisões que irá tomar depois da demissão é desenvolver a autoliderança.
Esse termo está ligado à capacidade de liderar a si próprio, ou seja, de tomar decisões e conduzir a sua vida de forma consciente e proativa. Isso inclui a capacidade de identificar as próprias necessidades, se conhecer, identificar suas fraquezas e pontos a serem melhorados, além de buscar diferentes maneiras de encontrar sua realização pessoal e profissional.
Não é à toa que a autoliderança é uma competência cada vez mais valorizada no mercado de trabalho. Segundo pesquisa realizada pela consultoria ManpowerGroup, 77% dos empregadores afirmam que a autoliderança é uma habilidade fundamental para os profissionais. Ou seja, as pessoas que conseguem se liderar, têm mais chances de sucesso na carreira, porque abandonam as desculpas e assumem a responsabilidade por seus próprios resultados.
Mas afinal, como liderar a si próprio?
No caso da autodemissão, a primeira atitude de um líder de si mesmo é definir claramente seus objetivos e metas. Antes de tomar qualquer decisão, é preciso ter um plano bem estruturado em mente. Pergunte-se: qual é o meu objetivo profissional? O que eu quero alcançar a curto, médio e longo prazo? Uma vez que você tenha essas respostas, fica mais fácil decidir se a autodemissão é o melhor caminho para alcançar seus objetivos.
Outra dica importante é ter disciplina e foco. A autodemissão pode parecer uma escolha fácil, mas exige muita disciplina e planejamento. É preciso estar disposto a trabalhar duro para atingir seus objetivos, mesmo que isso signifique sacrificar algumas coisas no curto prazo.
Além disso, outro ponto fundamental para se autodemitir é superar os medos e crenças limitantes. Muitas vezes, a falta de coragem para tomar decisões importantes pode ser um grande obstáculo na hora de deixar o emprego. Por isso, é preciso trabalhar na construção da autoconfiança e da resiliência.
Cercar-se de pessoas que apoiam nossos objetivos e sonhos é igualmente importante no decorrer de todo o processo. Contar com uma rede de apoio forte e positiva pode ser fundamental na hora de tomar decisões difíceis que podem mudar nossas vidas.
Por fim, para desenvolver a capacidade da autoliderança e ir atrás dos seus objetivos, é preciso assumir a responsabilidade por seus próprios resultados e ser proativo na busca por soluções e oportunidades. Isso significa assumir as rédeas da própria vida e não ser um espectador da sua carreira.
Sem dúvida, se autodemitir é um fenômeno que vem ganhando força em todo o mundo, seja pelo objetivo de buscar uma vida com mais propósito, empreender e abrir o próprio negócio, ou por motivos pessoais como se dedicar somente aos filhos. Não importa. Seja qual for a razão, a autodemissão é uma decisão corajosa e necessária para alcançar os objetivos profissionais e pessoais.
*Deivison Pedroza é investidor, especialista em empreendedorismo e negócios e CEO da Way Minder
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também