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Márcio de Freitas: Negacionismo econômico

No governo, há setores do governo que não querem briga com o Banco Centro e outro que querem o escalpo de Campos Neto

A guerra contra o negacionismo não está vencida (Agência Brasil/Reprodução)

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Publicado em 17 de fevereiro de 2023 às 08h45.

A rã coaxou pedindo chuvas; veio a tempestade e a enchente destruiu sua lagoa. A Argentina registrou 6% no aumento médio de preços no país em janeiro. No acumulado de 12 meses, chega a 98,8%. A deterioração da economia ameaça a reeleição de Alberto Fernandez, que praticou negacionismo fiscal, não enfrentou a inflação com os mecanismos óbvios ou tradicionais e buscou ficar bem com o eleitorado peronista que o colocou na Casa Rosada.

Com sua pretensão política ameaçando virar uma espécie de “vaca muerta”, apesar da promessa de ajuda do presidente Lula a seu governo, Fernandez vê a oposição se fortalecer em seu país. Contraste com o Brasil, onde o segundo mês do governo de Lula III a oposição política é imenso latifúndio improdutivo – até pelo autoexílio de Jair Bolsonaro na terra dos castelos de Cinderela e do Pateta. Dos que ficaram em solo nacional, todos cuidam de suas próprias urgências administrativas ou de descobertas literárias, como a descoberta de Romeu Zema sobre Adélia Prado.

Até agora, só há a incipiente oposição surgida no campo dos economistas, críticos às críticas de Lula ao presidente do Banco Central e suas metas de inflação baixas e suas taxas de juros altas. O risco é justamente esse: a oposição é pelo fator que mais pode gerar danos futuros se houver erro de cálculo. O efeito Orloff (eu sou você amanhã) sempre traz dor de cabeça aos governos brasileiros.

Na política, Lula III se associou à onda do Centrão que reelegeu Arthur Lira para o comando da Câmara; no Senado, conseguiu conter a marola bolsonarista que balançou um pouco a candidatura de Rodrigo Pacheco. Não é um rolo compressor, mas garantiu a governabilidade com emendas e remendos políticos.  E abriu a temporada de debates sobre reformas no parlamento. Dividiu poder para garantir o poder.

Ao começar seu governo, Lula escolheu suas lutas. Escolheu brigar com o sistema financeiro. Banqueiro nunca é muito amado, a não ser pelos herdeiros. O chamado mercado é gente sem cara, difícil de personificar. Então, ele escolheu dar a cara ao melhor representante do segmento: o banqueiro central, encarnado em seu presidente Roberto Campos Neto.

Aos primeiros sinais do golpe, ouviu-se como réplica o silêncio da permanência dos juros em 13,75% no comunicado ao mercado do Comitê de Política Econômica. Lula subiu o tom. Veio uma ata apaziguadora. Seguida de uma entrevista em que Roberto Campos Neto deu a cara inteira a tapa. Se dispôs a oferecer a outra face. Não revidou, nem reagiu. Abriu-se ao diálogo com falas nervosas, mas preparadas com esmero para ter efeito de bandeira branca.

Se Bolsonaro fugiu da briga para os Estados Unidos por medo de ser preso, RCN fugiu da briga tentando preservar a estabilidade econômica. Se dispôs a falar novamente com o presidente, seus ministros, deputados e senadores... Mas deixou o alerta: apanhará, mas não mudará a essencial de seu trabalho diante do risco fiscal e da situação da inflação ainda com força para alimentar a pira onde governos podem se queimar. E não é churrasqueira para picanha, mas para couro de presidentes como Alberto Fernandez.

Há setores do governo que não querem briga com Campos Neto. Há outros que desejam seu escalpo. A incerteza atrapalha o próprio governo. E como há uma lei que dá autonomia ao Banco Central, deve-se mudá-la ou se acomodar a ela. Até para que haja aquilo que o governo anterior não conseguiu fornecer aos brasileiros: estabilidade e previsibilidade. Se desejam mudar a lei, isso deve ser feito em hora mais adequada, não quando a incerteza pode afetar as expectativas futuras. Esse governo tem quase quatro anos de futuro pela frente. Deve cuidar bem desse tempo porque outras batalhas virão e a guerra não está vencida.

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

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