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Glaucia Guarcello: 7 lições que aprendi no SXSW 2023

Confira sete reflexões sobre inteligência artificial, tecnologia e inovação discutidos entre os “reis da inovação”

SXSW é o maior evento de inovação e criatividade do mundo (Jim Bennett/Getty Images)

SXSW é o maior evento de inovação e criatividade do mundo (Jim Bennett/Getty Images)

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Publicado em 27 de março de 2023 às 17h20.

Última atualização em 28 de março de 2023 às 08h02.

Por Glaucia Guarcello* 

O SXSW aconteceu em Austin, nos Estados Unidos, e trouxe reflexões profundas sobre a convergência de tecnologias, a disponibilidade de acesso e como a humanidade se insere neste contexto. Entre surpresas, esperanças, catástrofes e ameaças, o futuro certamente reserva grandes e significativas transformações. Listo a seguir os principais insights que a conferência trouxe: 

A internet como conhecemos morreu 

Blockchain foi a tecnologia base por trás da construção Web3, forma de acesso à internet sem a necessidade de big techs intermediárias e com maior segurança e propriedade de dados. A descentralização da internet não parece mais uma aspiração e sim uma nova realidade. De futuristas e experts em identidades digitais e metaverso, passando por expositores que já atuam em negócios na Web3, ficou claro para os participantes que a internet que conhecemos está com seus dias contados. Preocupações sobre a baixa regulação e incapacidade de construção da mesma em tempo hábil emergem frente a todo o potencial transformador desta tecnologia. 

A inteligência artificial é criativa 

Claramente o conceito de a inteligência artificial realizar tarefas braçais ou rotineiras enquanto os seres humanos focariam em itens “inerentemente humanos” caiu por terra. Experts no tema foram categóricos em dizer que a inteligência artificial tem se destacado em processos de criação e arte. O papel desta ferramenta no auxílio aos artistas, designers e todos os demais profissionais ainda necessita de melhores entendimentos e experimentação. 

Estamos reforçando as desigualdades do mundo físico no mundo digital  

Máquinas e a própria inteligência artificial não nascem com vieses, eles são "reinforced learning", o que significa que existem pessoas apoiando e monitorando a aprendizagem dessas ferramentas. Testes simples de uso já demonstram comportamentos como racismo e machismo nas plataformas de inteligência artificial. Além disso, diversos palestrantes reforçaram que o letramento nessas ferramentas precisa ser intencional, estruturado e acessível para não criarmos uma desigualdade digital entre pessoas que sabem e as que não sabem utilizar estas tecnologias. Outro questionamento foi relativo ao limite ético da utilização destas soluções uma vez que já estão em desenvolvimento inovações como rastreamento de pessoas por cheiros e recriação de imagens vistas a partir de escaneamento cerebral. 

Nem sempre natural é sinônimo de melhor 

Nos acostumamos a uma premissa de busca ao orgânico e valorização do natural, porém, do desenvolvimento de carnes livres de doenças e crueldade, passando por couro sintético, chegando a fios de algodão feitos em laboratório que demandam menos custo e menos energia para produção, a reflexão trazida foi de que existem já diversos exemplos de criações humanas superando as vantagens de criações da natureza. O fake pode sim ser melhor em alguns contextos. 

Você será dono de seus dados 

Nas discussões sobre Web3 e metaverso muito foi dito sobre a identidade digital. Palestrantes trouxeram cenários futuros onde seríamos todos donos de nossos dados digitais e escolheríamos o que partilhar ou não e com quem. Já existem empresas providenciando perfis de organização de identidades digitais e há experts que afirmam que, potencialmente, teremos nosso estoque de dados em equipamentos dentro de nossa casa. A provocação trazida em algumas dinâmicas nesse sentido, foi de que a nuvem não existe como “nuvem”, ela só é um porão muito maior de alguém guardando os seus dados. Já parou para refletir sobre isso?  

Será cada vez mais difícil definir o que é real e o que não é 

Soluções de realidade virtual que nos possibilitam assistir a shows e filmes com uma experiência completamente diferente e que nos permitam até mesmo vivenciar a guerra. Soluções de leitura sensorial de abraços e replicação física à distância. Acompanhantes virtuais e robôs emocionais. Ativos digitais mais valorizados que ativos físicos. Imortalidade digital. A barreira entre o mundo “real” e o mundo digital está cada vez menor e com definição cada vez mais complexa. O que seria real? É o que você sente? O que você toca? Precisa ser físico ou precisa apenas ser reconhecido pelo seu cérebro como tal? Afinal, tudo que sentimos no mundo físico não consiste justamente na interpretação de impulsos elétricos pelo nosso sistema nervoso? Qual a real diferença disso para o digital? 

Todo mundo necessitará de upskilling e posicionamento 

Uma coisa é fato – estamos em um nível tal de capacidade tecnológica e de convergências entre sinais que a capacitação na utilização destas soluções não se restringe a poucas pessoas com tarefas mais ameaçadas de substituição. Até mesmo as crianças já precisam de upskilling. Além disso, o desenvolvimento exponencial que temos vivenciado nos retirou, como sociedade, a opção de assistirmos passivamente o que ocorre. Precisamos nos posicionar ativamente na construção do futuro que almejamos construir. Segundo um futurista palestrante em Austin, nós perdemos a chance como humanidade de sermos pessimistas, pois a visão que temos é o que define o caminho que seguiremos. Precisamos construir o futuro otimista como premissa para sobrevivermos. 

*Glaucia Guarcello  é professora do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC e sócia-líder de Inovação da Deloitte 

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