Liderança: gestão dos tempos atuais pode contribuir para a formação de bons líderes (oatawa/iStockphoto)
Bússola
Publicado em 28 de junho de 2022 às 18h30.
Última atualização em 28 de junho de 2022 às 18h39.
Por Felipe Ladislau*
Acredito que poucos de nós notamos os momentos-chave que marcam mudanças de época. Em minha visão, existem algumas variáveis que contribuem para uma miopia generalizada.
A primeira delas é formada pelas mudanças transformacionais, que começam de forma lenta e gradual, e de repente apresentam viradas abruptas. Normalmente, é aí que todos tendem a reconhecer o verdadeiro potencial de uma inovação, por exemplo.
A segunda variável está relacionada a uma característica inerente à humanidade contemporânea de superdimensionar impactos de curto prazo e minimizar consequências de longo prazo. Empolgamos rapidamente com modas passageiras e persistimos pouco em tendências mais sólidas e demandam mais disciplina.
E, por fim, as mudanças de hábitos exigidas pelas transformações. Hábitos antigos são difíceis de alterar. Compartilho uma fala da neuropsicóloga Rochele Paz Fonseca, que explica o que causa a resistência à mudança. “Um hábito é um tipo de memória consolidada sobre a qual nós temos menos consciência sobre, ou seja, executamos algo a partir do piloto automático”.
Por esse motivo, acredito que a transformação mais dolorosa pela qual estamos passando, como profissionais, é a de desaprender os velhos vícios de gestão e nos permitir desabrochar como lideranças novas.
Além disso, essa transformação é tão disruptiva ao ponto de ser capaz de romper com narrativas antigas, que reforçam o arquétipo do governante, que toma para si uma responsabilidade muito alta, muita determinação.
Por outro lado, o governante é centralizador, confia pouco nas outras pessoas e lhes dá pouca abertura, o que o torna muito inflexível e fechado.
O líder governante funcionou durante um longo período da administração. No entanto, a velha gestão está ruindo e acompanhamos o crescimento de modelos ágeis de trabalho, gestão por OKRs e empresas horizontais ou que trabalham com uma lógica de comunidade, por exemplo, a Organica e a Feira Preta.
Tudo isso nos faz repensar o papel da liderança para além de expressões comuns como "o fim da gestão comando e controle", pois a superficialidade cria um consenso frágil sobre o qual nossas falas e práticas divergem.
Lideranças centralizadoras tendem a oferecer pouco espaço para pessoas pouco diversas, com novas roupagens a práticas antigas. Nesse sentido, são largos os ambientes que pensam ter implementado práticas ágeis quando na essência pouco mudou.
Trago exemplos práticos de erros e acertos:
Em um mundo complexo e incerto, decisões importantes precisam acontecer o tempo todo e exigem um curto tempo de resposta. Sendo assim, lideranças que centralizam em si as tomadas de decisão e que são incapazes em reconhecer seus limites cognitivos estão inviabilizando a transformação ágil e criando ambientes que prejudicam a saúde mental do seu time, de seu negócio como um todo e também de si próprio.
Lideranças afirmativas são aquelas capazes de se compreenderem responsáveis por construir ambientes diversos e inclusivos. E inclusivo não é o mesmo que confortável ou fácil, mas, sim, propiciar ambientes nos quais o protagonismo é da existência diversa.
Portanto, ser afirmativo é ser capaz de dar voz e propiciar espaços para as pessoas se autoafirmarem, desconstruir o arquétipo do governante e atuar mais como um maestro que como um supervisor.
As lideranças afirmativas rompem com o paradigma narcisista que busca a autopromoção e demonstração de autoridade.
Além disso, esse tipo de liderança entende que sua condução será tão forte quanto a soma das afirmações individuais de sua equipe, ou seja, quanto maior a repartição de poder entre todos do grupo, mais forte a liderança.
Empresas que seguirem nutrindo lideranças autocentradas e times pouco diversos pagarão uma conta alta a longo prazo, pois estão:
Após acompanhar a SXSW 2022, alguns pontos foram amplamente debatidos e tenho falado bastante sobre a importância das empresas assumirem a empatia como estratégia, da necessidade urgente de construirmos ambientes diversos e inclusivos e de que as lideranças precisam evoluir da consciência para o ativismo.
A transformação da forma de liderar e a ocupação dos espaços por pessoas diversas é um caminho sem volta (felizmente!). Cabe a cada um de nós adotar uma atitude intencional em criar ambientes férteis capazes de catalisar múltiplas vozes e existências.
*Felipe Ladislau é sócio da Organica, aceleradora de pessoas e negócios
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