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Estamos preparados para o apocalipse chamado recessão?

Difícil prever quanto tempo ela vai durar no Brasil, pois o agro pode ser afetado em uma escala considerável se os preços continuarem em elevação

Não é preciso fazer contas mágicas para notar que passaremos por períodos turbulentos (Brendan McDermid/Reuters)

Não é preciso fazer contas mágicas para notar que passaremos por períodos turbulentos (Brendan McDermid/Reuters)

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Publicado em 1 de agosto de 2022 às 16h25.

Por Douglas Duek* 

Temos acompanhado nos últimos dias centenas de informações que estimam ou especulam uma possível recessão global. Vimos recentemente o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) Pierre-Olivier Gourinchas dizer que será essencial a cooperação multilateral em diferentes áreas para “enfrentar uma perspectiva cada vez mais sombria e incerta”. 

E este “pessimismo” é observado por mais economistas e instituições financeiras. Há poucas semanas, o Goldman Sachs elevou para 30% a chance da economia americana entrar em recessão em 2023, antes era metade desta porcentagem, e o Bank of America calcula a possibilidade em 40% também em 2023. 

Não é preciso fazer contas mágicas para notar que vamos passar por períodos turbulentos. Mas nós, brasileiros, estaremos preparados para o apocalipse chamado recessão? 

Com certeza, a recessão vai afetar o Brasil numa escala considerável, uma vez que o país é muito mais produtor e exportador de itens em condições primárias e precisa dos outros países para transformação. 

Ainda são expectativas, porém, podemos citar pelo menos quatro motivos para demonstrar que a economia não anda bem e que corremos o risco de recessão. 

O primeiro deles é a alta dos juros. Trazendo para cá – o Brasil já está com essa alta. Uma elevação que segura a economia. Aquelas pessoas que pensavam em fazer algum tipo de investimento – a compra da casa própria, o carro novo, quando vê a taxa de juros a ser paga e o quando esse bem ficará mais caro, desiste de efetivar. Com juros altos, as grandes empresas também deixam de fazer investimentos elevados porque esses valores podem não ser recuperados. Os juros são sinal de economia enfraquecida. 

Segundo sinal correlato é a inflação. Quando a inflação está descontrolada, quando os preços dos produtos começam a subir numa curva bastante acentuada e, mesmo com o governo ampliando os juros para conter esta inflação é o sinal de economia desregulada. 

O terceiro sinal é quando as economias com mais poder, como os Estados Unidos da América (EUA) e países europeus também entram em crise. Qual o problema disso e como ele afeta o Brasil? Exemplifico: um investidor americano que faz gestão de uma fortuna de US$ 100 bilhões, geralmente ele investe US$ 1 bi no Brasil e US$ 99 nos EUA. Se onde ele mais faz seus investimentos estiver com problema, ele não vai buscar esta diversificação, olhar para o Brasil, para a China e isso vai drenar a injeção de dinheiro em países pequenos. Os menores dependem das potências para investimentos. Redução de investimentos em países menores é sinal de estagnação. 

E por fim, o quarto e último sinal: crises atípicas como as que vivemos nos últimos anos e meses: a pandemia da covid-19 e a Guerra na Ucrânia. 

Ao analisarmos o cenário brasileiro, não é mais novidade que o Brasil está no topo do pódio dos maiores juros do mundo. A última elevação anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a 11ª só este ano, a Selic chegou ao patamar de 13,25%. 

Para se ter uma ideia, a taxa brasileira é quase o dobro do segundo país com os mais altos juros, que é a Colômbia ou seis vezes maior que Hong Kong, 14º em ranking realizado pela Infinity Asset e pelo MoneYou com 40 países.  E infelizmente, estima-se ainda mais uma alta para os próximos meses aqui no Brasil.  

E como ficam as empresas? 

Queria poder dar boas notícias ou dizer que os empresários brasileiros não precisam se preocupar tanto. Mas, não é essa a nossa realidade. 

Como economista e especialista em reestruturação de empresas, saliento alguns pontos críticos da alta da Selic para as companhias, principalmente, as já debilitadas, mas indico algumas medidas que podem amortecer a crise financeira. 

As empresas médias que já estão em situação complicada com a Selic nos patamares atuais, serão jogadas na lona. Empresas que, historicamente, captam dinheiro em média de CDI + 10% ao ano, e já pagaram nominalmente 18 meses atrás cerca de 12% ao ano, como farão agora para pagar 25%-27%-30% anual? 

Em um cenário de: aumento de preços de insumos, combustível e outros, dificilmente essas empresas conseguirão repassar seus custos e ainda os juros irão consumir toda sua margem.  Por isso, é um momento de apertar os cintos! 

Temos uma grande frenagem da economia nos próximos 12 meses e quem estiver preparado irá atravessar melhor essa tempestade. Volte duas casas para depois seguir adiante.

Como podemos nos preparar: evitando projetos de crescimento que dependem dos riscos. Agora é estar mais enxuto para se preparar e, se vier a recessão, passar por isso da melhor forma possível. 

É difícil prever quanto tempo ela vai durar. No nosso país, o agro pode ser afetado numa escala considerável se o preço continuar em elevação. 

As empresas que já têm um endividamento alto devem buscar soluções como: renegociar seus contratos atuais, com redução de juros total e melhores prazos – é preciso reduzir ou otimizar o capital investido para que a operação seja mais eficiente com custos mais baixos e melhor retorno; buscar um sócio investidor onde o capital levantado pode amortizar as dívidas da empresa e minimizar os riscos; renegociação com fornecedores também pode ser uma solução: analisar o fluxo de pagamento (desconto por quitar a curto prazo ou extensão do prazo para aliviar o caixa num primeiro momento) ou até estudar a recuperação judicial em casos mais graves e com mais credores difíceis para alongar suas dívidas, em um grande pacotão da renegociação. 

Destaco ainda que a recuperação judicial (RJ) vem consolidando seu histórico de sucesso como ferramenta de salvar empresas. Nos Estados Unidos, o Chapter 11, ou capítulo 11 da lei de falências – que é a ferramenta paralela a nossa recuperação judicial e mais antiga – já foi utilizado por grandes empresas como: General Motors, American Airlines, malas Sansonite e muitas outras amplamente conhecidas. 

No Brasil, a lei é muito mais nova, de 2005, e a lei anterior, que era chamada de Lei de Concordata, ficou conhecida como uma lei de quebra, e poucas empresas conseguiram se reestruturar dentro do que ela previa - pagar todas as dívidas atrasadas em dois anos. 

Ainda que a RJ tenha a comparação com essa antiga lei, já se mostrou muito mais efetiva e com mais sucesso. Só nas últimas semanas, a empresa Constellation oil Service, Antiga Queiroz Galvão, que utilizou a lei em 2018, anunciou o fim da sua recuperação judicial como o sucesso da reestruturação feita, e esse é mais um nome de peso, além de: OAS, Odebrecht, Oi, Samarco e outras que recorreram a lei em um momento de dificuldade para se reestruturar e tiveram com sucesso. 

Citando aqui a Oi, a empresa entrou em recuperação judicial há seis anos e deve sair em breve do processo. 

Esse histórico de sucesso vem se formando e a lei, cada vez mais, se consolida para empresas e produtores rurais que precisam se reestruturar e seguir suas atividades. 

A recuperação judicial terá o poder de renegociar as dívidas, os planos da empresa. A companhia tinha uma ideia, fez um investimento, veio a recessão, ela não vai conseguir pagar este compromisso. O plano era pagar em quatro anos, mas agora não consegue quitar neste prazo. A recuperação vai facilitar principalmente para aquelas que têm várias dívidas e projetar a quitação mais a longo prazo.  A empresa pode ter de fazer alguns cortes, não ter dinheiro para pagar trabalhistas e a recuperação judicial é a ferramenta que a empresa pode precisar para adaptar sua realidade do momento. 

Enfim, não há milagre. Mas é possível diminuir os efeitos dessas imprevisibilidades com gestão financeira.  

*Douglas Duek é CEO da Quist Investimentos e especialista em reestruturação de empresas 

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