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ESG: quem é de verdade sabe quem é de mentira

O momento da agenda ESG pede por transformação e quem faz isso só por aplausos mostra que não está pronto para o futuro

Brasil não avançou em nenhuma das 169 metas que compõem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). (Galeanu Mihai/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 17 de agosto de 2021 às 15h46.

Por Danilo Maeda*

O racismo estrutural talvez seja a face mais cruel de uma verdade inconveniente: processos de transformação, como é o caso da agenda de sustentabilidade, exigem alocação de esforços, recursos e consistência ao longo do tempo. H.L. Mencken dizia que “para cada problema complexo existe uma solução simples, elegante e completamente errada”. Não por acaso, ainda são recorrentes episódios tristes e revoltantes que nos lembram quanto estamos distantes de uma sociedade igualitária e justa.

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Por outro lado, se existe algum avanço digno de nota, é que tais acontecimentos tendem a não passar despercebidos. Assuntos como racismo estrutural fazem parte do dia-a-dia, especialmente quando nos deparamos com casos que evidenciam a questão de forma material ou simbólica, como aconteceu em ao menos dois episódios distintos nos últimos 10 dias.

A discrepância entre narrativas onipresentes que colocam “ESG no DNA” e a realidade do Brasil é enorme. Como demonstra o Relatório Luz 2021, produzido pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 ( GT Agenda 2030 ), o país não avançou em sequer uma das 169 metas que compõem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS): Temos 92 (54,4%) em retrocesso; 27 (16%) estagnadas; 21 (12,4%) ameaçadas; 13 (7,7%) em progresso insuficiente; e 15 (8,9%) que não dispõem de informação.

Como se vê, o cenário é de desencontro entre discurso e prática, tanto no nível macro quanto no dia-a-dia. Por isso, são naturais questionamentos sobre a efetividade das estratégias ESG. Sempre que algum episódio viola os princípios de gestão sustentável e ganha repercussão, surge a pergunta: Onde está o ESG desta empresa? A resposta passa por alguns pontos.

O primeiro é reconhecer que falhas acontecem, mesmo quando a estratégia é consistente e o compromisso real. Nestes casos, além das desculpas pelo erro, espera-se que as organizações corrijam os seus processos para efetivar as boas intenções de sua estratégia ESG.

Isso nos leva ao segundo ponto, que é distinguir quem está nessa de verdade de quem decidiu entrar na onda só pelos aplausos. Nesse sentido, recomendo começar pela transparência. Desconfie de ações que fazem barulho, mas não apresentam metas específicas — ou que o fazem com metas distantes e sem explicar como chegar lá. Comunicar compromissos publicamente é importante e elogiável, mas é aconselhável dosar o tom e ter humildade para aprender. Fazer a lição de casa sem barulho excessivo pode trazer melhores resultados com menos riscos.

Outro indicador de consistência é a integração entre sustentabilidade e negócio. Quanto mais forem entendidos como uma coisa só, melhor. Os temas socioambientais são vistos como viabilizadores do negócio ou um fardo a ser carregado? O mapeamento de riscos e oportunidades considera essas questões? Em que medida os stakeholders participam das decisões estratégicas? A estas perguntas adicione uma avaliação sobre como o sistema de gestão acompanha indicadores econômicos, sociais e ambientais. Lembre que isso inclui remuneração variável das lideranças e outros mecanismos de governança. Se ESG está no DNA, mas não está no bônus, desconfie.

O momento pede transformação. Investidores, consumidores e outros grupos de interesse também. Quem responde apenas com grife e espuma assina um recibo de que não está preparado(a) para o futuro.

*Danilo Maedaé diretor de ESG no Grupo FSB

**Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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