É também urgente que a sociedade se adapte e prepare para resultados inevitáveis dos impactos causados (Khanchit Khirisutchalual/Getty Images)
Bússola
Publicado em 26 de abril de 2022 às 13h00.
Última atualização em 26 de abril de 2022 às 13h06.
Por Danilo Maeda*
Mais do que um cenário altamente provável, o aquecimento global decorrente das emissões de gases de efeito estufa (GEE) já produziu efeitos irreversíveis. As mudanças climáticas recentes não têm precedentes e estão diretamente relacionadas com o aumento na frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas prolongadas e chuvas torrenciais. A questão agora é como reverter o processo e lidar com as consequências do aquecimento já contratado pelas emissões acumuladas nos últimos anos.
Esse é um dos recados claros e diretos dados pelo Grupo de Trabalho II do Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Nas palavras da ciência, “as mudanças climáticas induzidas pelo homem, incluindo eventos extremos mais frequentes e intensos, causaram impactos adversos generalizados. [...] Observa-se que as pessoas e sistemas mais vulneráveis são afetados desproporcionalmente. [...] Alguns impactos irreversíveis, à medida que os sistemas naturais e humanos são levados além de sua capacidade de adaptação”. Em outras palavras, não se trata mais apenas de evitar possíveis danos futuros. É também urgente que a sociedade se adapte e prepare para resultados inevitáveis dos impactos causados. Neste cenário, emergem dois conceitos fundamentais: adaptação e resiliência.
Enquanto o segundo trata da capacidade de sistemas manterem sua função e estrutura após serem submetidos a pressão (portanto fundamental para promoção da sustentabilidade), a adaptação é relevante na redução da vulnerabilidade às mudanças climáticas. “Nos sistemas humanos, a adaptação pode ser antecipatória ou reativa, bem como incremental e/ou transformacional. Este último altera os atributos fundamentais de um sistema socioecológico em antecipação às mudanças climáticas e seus impactos”, define o grupo. Sua importância reside no fato de que vários dos riscos climáticos mapeados podem ser reduzidos com estratégias de adaptação. Um deles, por exemplo, é a mortalidade associada a ondas de calor, que continuará a crescer sem estratégias de adaptação.
Pela complexidade dos sistemas que precisam passar por transformações para elevar sua resiliência e das estratégias de adaptação (o relatório considera três cenários, adaptação limitada, incompleta e proativa, cada um com diferentes níveis de ajustes e investimentos), pode-se imaginar que o custo será alto demais. De fato, com poucas mudanças sistêmicas positivas nas últimas décadas o preço da sustentabilidade subiu. Mas além do argumento ético de que adaptação é relevante para preservar vidas e promover habitabilidade, investir em adaptação, resiliência e regeneração ainda é mais barato do que continuar a agir da mesma maneira.
Ao menos essa é uma das conclusões da BlackRock em um relatório recente sobre a transição para um mundo com emissões zero: “A noção popular de que enfrentar as mudanças climáticas tem um custo econômico líquido está errada, em nossa opinião. A transição prejudicará o crescimento? Vai provocar mais inflação? Comparado com o passado, sim. Mas o retrovisor é irrelevante para o que está por vir. A mudança climática é real. Uma transição ordenada deve impulsionar o crescimento e mitigar a inflação se comparada com nenhuma ação climática ou uma eventual corrida para descarbonizar”.
O que isso significa na prática? Para o time da maior gestora de ativos do mundo, a transição dos negócios sustentáveis é comparável ao crescimento da China ou à revolução tecnológica: não dá para ignorar. “Todas as empresas e investidores devem navegar pela forma como as economias estão sendo reconectadas, analisando como a transição moldará suas operações ou investimentos. Alguns podem optar por conduzir a transição por meio de investimentos temáticos ou de impacto ou inventar o mundo net zero financiando novas tecnologias”.
Diante de grandes desafios, ficar parado pode ser tentador. Mas lembre-se que a conta vai chegar de qualquer jeito. Nessa hora, quanto mais preparo melhor.
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedIn | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também
Danilo Maeda: A fome não espera sua estratégia ESG amadurecer
Jargões ESG: entenda a diferença entre net zero e carbono neutro
3 perguntas sobre novas gerações rurais para Cristiane Nascimento, da FNO