ESG: Combate ao desmatamento: comando, controle e valorização
Números sobre desmatamento reforçam tanto a necessidade de estratégias mais eficazes de combate ao desmatamento quanto de valorização dos biomas
Bússola
Publicado em 19 de julho de 2022 às 11h21.
Última atualização em 19 de julho de 2022 às 11h21.
Por Danilo Maeda
A esta altura, você já teve contato com o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas, que mostrou um aumento de 20% na área desmatada dentro do território nacional em 2021. No ano passado, foram devastados 16.557 km² de vegetação nativa, ou 1,6 milhão de hectares. Tentarei destacar aqui os pontos mais relevantes.
A primeira notícia é que os números são preocupantes por diferentes prismas. Além do recorde na área desmatada, a velocidade média de desmatamento no país também aumentou: passou de 0,16 hectares por dia para cada evento detectado em 2020, para 0,18. Com isso, nos últimos três anos (2019-2021) o Brasil desmatou uma área correspondente ao Estado do Rio de Janeiro.
A Amazônia continuou como o bioma com maior área desmatada. Foram 977 mil hectares desmatados (59% da área total). O Cerrado aparece em seguida, com 30,2% (500 mil hectares) e a Caatinga em terceiro lugar, com 190 mil hectares (7% da área total desmatada no Brasil). A Mata Atlântica teve 30,2 mil hectares desmatados (1,8%); o Pantanal registrou 28,6 mil hectares (1,7%) e o Pampa 2,4 mil hectares (0,1%).
Um aspecto importante do relatório é o cruzamento territorial dos alertas de desmatamento. Com essa análise, o MapBiomas conseguiu identificar que apenas 936 dos 69.796 alertas, ou seja, 1,34% (0,87% em área), atendem às regras de manejo legal. O que também significa que o nível de ilegalidade da área desmatada é superior a 98%. Como era de se esperar e já se verificou em anos anteriores, a expansão da agropecuária foi apontada como o principal vetor para o desmatamento, respondendo por quase 97% de todos os desmatamentos validados pelo MapBiomas em 2021.
Esse cruzamento também identificou que 76% da área desmatada teve sobreposição com o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ou seja, é possível identificar de quem são essas propriedades. Esse é um dado muito importante, pois entre 2019 e 2021, 134.318 imóveis tiveram ocorrência de desmatamento, o que representa apenas 2,1% dos imóveis rurais cadastrados no CAR. Olhando só para 2021, esse índice é de 1%. Em outras palavras, um número proporcionalmente muito pequeno de produtores tem causado a maior parte do estrago.
Além dos impactos para a biodiversidade e risco de colapso em nossos ecossistemas, a ineficácia do combate ao desmatamento também impacta o papel do Brasil na questão das mudanças climáticas. Como nossas emissões de gases de efeito estufa estão ligadas principalmente à categoria “mudanças no uso da terra”, é de se esperar que o inventário brasileiro continue piorando, com impactos diretos em nossa capacidade de negociação, de atração de investimentos e na imagem do país no exterior.
Talvez tão importante quanto destacar que esse é um problema urgente com impactos negativos em diversas frentes seja lembrar que os números reforçam tanto a necessidade de estratégias mais eficazes de combate ao desmatamento quanto de valorização dos biomas. A melhor resposta que podemos dar a este desafio passa por uma miríade que envolve comando e controle, produtividade no campo, integração de sistemas agroflorestais, pagamento por serviços ambientais e principalmente valorização do saber e do fazer local.
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
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